Revista de Imprensa
Registos Audio Fotografias
dia 3 - 10.00
Sessão de Avaliação da UNIV
dia 3 - 12.30
Sessão Formal de Encerramento
dia 3 - 14.00
Almoço de confraternização com UNIVs de 2003, 2004 e 2005
Jantar-Conferência com o Prof. Dr Rogério Carapuça
 
(…) nós aproveitamos dessa tua atitude, atitude essa que se calhar, ultrapassará as fronteiras da Europa, e chegará se calhar ao meu país.

E aproveitamos também para desejar mais sucessos, maiores sucessos para termos melhor Portugal, melhor Europa, e melhor mundo.

Obrigado.
 
Dep. Carlos Coelho
- Minhas senhoras e meus senhores, quero eu também em vosso nome, em nosso nome agradecer ao Dr. Rogério Carapuça o facto de ter aceite o nosso convite para estar connosco esta noite. O Dr. Rogério Carapuça é um cidadão independente, com provas dadas no mundo real e no mundo académico.

É dos poucos exemplos que eu conheça, em Portugal, de alguém que fez em paralelo uma carreira académica e investigador e professor no Instituo Superior Técnico, e de gestor, de empresário, ele é um dos fundadores da Nova Base, a Nova Base actualmente será a maior ou uma das maiores empresas de comunicações, de sistemas de informação em Portugal. E quando muitas vezes se critica e com razão, a falta de ligação entre a universidade e o mundo empresarial, temos connosco o privilégio de ter alguém que viveu os dois ambientes, e provavelmente como poucos no nosso país, estará em condições de fazer a síntese entre as exigências de um lado e aquilo que são as possibilidades de oferta do outro lado.

O Prof. Rogério Carapuça tem como hobby a natação e a leitura, como comida preferida o Cozido à Portuguesa, o animal preferido é o mais partilhado pelos nosso convidados, é o cão, o livro que nos sugere é The Word is flat, o filme que sugere é o Casablanca, e a principal qualidade que valoriza nos outros é a honestidade.

Sr. Professor muito obrigado por ter aceite o nosso convite, eu tenho o privilégio de lhe fazer uma pergunta, é a primeira, depois os participantes da Universidade de Verão far-lhe-ão muitas outras, e tem a ver com aquilo que eu referi: talvez poucos como o Sr. Prof. em Portugal podem ajudar-nos a reflectir sobre o papel das tecnologias de informação no nosso país, e particularmente aquilo que face àquilo que são os receios da crise, e as ambições legítimas de relação profissional e de emprego, destes jovens que aqui estão, em que medida é que o investimento nas tecnologias de informação se pode repercutir na criação de riqueza e no desenvolvimento económico.

Muito obrigado, a palavra é sua.
 
Prof.Dr.Rogério Carapuça
Muito obrigado.

Queria agradecer em primeiro lugar ao Deputado Carlos Coelho e também naturalmente ao PSD a possibilidade de estar aqui convosco hoje, e também de vos agradecer a vós pelo facto de irem participar nesta pequena conversa, que eu espero que seja o mais informal possível.

Portanto, estejam naturalmente à vontade para colocar as vossas questões, quando entenderem.

A questão que me colocam, o que é que as tecnologia da informação, eu diria as tecnologias da informação e comunicação têm a ver com o crescimento económico, eu penso que têm a ver e muito.

Intuitivamente nós podemos pensar que tem muito a ver porque, hoje em dia, quase todos os negócios tiram partido da utilização intensiva de tecnologias da informação, portanto, obviamente têm que ter muito a ver.

Mas há mais alguns estudos, eu diria macro-económicos, de certa forma, que nos indiciam que de facto assim é.

O World Economic Forum publica um estudo, mais ou menos de dois em dois anos, sobre o nível de prontidão dos vários países analisados, que são cerca de uns 104 nuns anos, cento e pouco mais, relativamente à utilização de tecnologias de informação. E também procura estabelecer a relação entre o nível de utilização das tecnologias de informação e o nível de prontidão para as usar, que é outra coisa, já lá vamos, e a criação de riqueza, o processo de criação de riqueza.

E a curva que vem no último estudo, que é o de 2005, é uma curva muito elucidativa, eu não vos posso mostrar facilmente porque não tenho meios de projecção adequados, mas é muito claro que os países mais ricos e medidos pelo PIB per capita têm um alto nível de prontidão e de utilização de tecnologias de informação, e os países mais pobres têm um nível de utilização dessas tecnologias de informação muitíssimo mais reduzido. O que é uma primeira conclusão do estudo.

A correlação é fortíssima, e isto é válido enquanto variável estatística e aqueles de vocês que já estudaram estatística sabem aquela velha história, eu posso não comer banana nenhuma e o meu colega comer uma e comemos em média metade cada um. E a estatística tem esses problemas de interpretação. Mas o que é facto é que a correlação é fortíssima.

Portanto, em princípio os países mais ricos são aqueles que têm um nível de prontidão e um nível de utilização dessas tecnologias de informação mais elevado, e os países mais pobres têm esse nível muito mais baixo.

Uma segunda conclusão do estudo, é que entre os países mais pobres, e essa conclusão é interessante, entre os países mais pobres há uma maior dispersão no nível de prontidão e de utilização das tecnologias de informação, para o mesmo PIB per capita. Ou seja, entre os mais pobres, há uns que aproveitam melhor os poucos recursos que têm para ter um nível de prontidão mais elevado, e há os que os utilizam pior. Enquanto que essa dispersão nos países mais ricos, digamos assim, é menor, ou seja, como têm mais meios  quase todos têm um nível de prontidão mais elevado.

O que quer dizer uma coisa que a gente também já sabe, parece um senso comum, que é, quem tem muito dinheiro em geral consegue fazer investimentos, e em particular nesta área; quem não o tem uns fazem bem e outros fazem mal. E a diferença é maior.

Mas o que interessa aqui para a resposta em questão, é que de facto há uma correlação fortíssima, daí a estabelecer uma relação de causa efeito vai um passo, mas em princípio, e se esta correlação de facto for verdadeira, e tudo indica que é, investir na utilização e na preparação do país para utilizar as tecnologias de informação e comunicação é um elemento importantíssimo para que esse país seja desenvolvido e possa gerar riqueza.

E portanto, é uma boa opção que Portugal faça esse investimento, e o faça da forma correcta.

Um segundo nível de análise deste estudo, leva-nos a olhar para as variáveis que compõem um índice que de facto retrata o nível de prontidão e de utilização das tecnologias de informação nos vários países.

E esse índice é construído com um grupo muito grande de variáveis, essas variáveis agrupam-se em três grandes grupos, as que têm a ver com a infra-estrutura do país, as que têm a ver com o nível de utilização das tecnologias, e os que têm a ver com a prontidão dos actores do país, que são as empresas, o Estado e as pessoas, para utilizar essas mesmas tecnologias.

O que são coisas diferentes.Uma coisa é se eu estou pronto para usar uma coisa, e outra coisa é se eu uso.

Bom, no ranking mundial construído com 104 países, Portugal ocupa a posição número 30, no estudo que foi publicado em 2005. Infelizmente, eles mudaram a forma de calcular o índice, de maneira que não é fácil comparar com estudos anteriores, e eles próprios fazem essa ressalva. Será porventura para o futuro.

E agora o que acontece é que ao nível de infra-estrutura, tudo o que tem a ver com infra-estrutura física, Portugal está bem classificado.

Temos uma boa rede de telecomunicações, moderna, e temos uma série de parâmetros do ponto de vista de infra-estrutura tecnológica, em que estamos melhor do que a nossa média, portanto melhor do que o tal 30, em 104.

E temos um conjunto de variáveis que são infra-estrutura também da sociedade, mas que não são infra-estrutura tecnológica, em que nós estamos pessimamente classificados.

Sabem qual é a pior? Uma vergonha nacional. O sistema de ensino.

O nosso sistema de ensino, a qualidade do nosso sistema de ensino, medido por este sistema deixa-nos na posição, salvo erro, 86, em 104 países. O que quer dizer um dos piores.

Portanto, nós que temos uma média que é entre os 30 melhores, portanto estamos no terço melhor, temos um sistema de ensino que nos coloca no terço pior. Pior que isto é difícil.

E isso é muito grave porque afecta uma série de outras variáveis que têm a ver com a prontidão.

Outra coisa curiosa com a classificação portuguesa, digamos assim, é que nós temos um nível de utilização acima da nossa média, e o nível de prontidão abaixo da nossa média. Ou seja, apesar de não termos sido treinados a utilizar, nós somos melhor a utilizar do que a maior parte dos países.

O que quer dizer que Portugal tem uma apetência muito favorável para a utilização efectiva e para a adopção cedo, precoce, das tecnologias de informação e comunicação, mesmo não estando as pessoas preparadas.

Nós somos o 9°, salvo erro, estou a citar de cor, se for preciso vou aqui à cábula, mas somos salvo erro o 9° em utilização de telemóveis, por exemplo, e outras inovações que nós temos. O sistema financeiro é dos melhores, temos a Via Verde e uma série de inovações que todos conhecemos e as pessoas usam efectivamente, ao contrário de  países, até melhor classificados do que nós, mas que as pessoas não aderem com tanta facilidade à utilização dessas mesmas tecnologias.

E depois vamos ver o nível de prontidão, essa é a nossa zona pior. Sendo que nalgumas variáveis estamos mesmo mal.

E isso quer dizer, que temos que actuar na nossa infra-estrutura da sociedade, portanto não só infra-estrutura tecnológica, que ai estamos muito bem, é só acompanhar digamos, o processo normal; mas sobretudo no resto da estrutura, no sistema de ensino, no sistema de justiça, por aí fora, para que de facto o país tenha uma infra-estrutura eficiente.

Portanto, eu queria tirar para já duas conclusões, a primeira é que de facto tudo indica para que o nível de utilização das tecnologias de informação quer seja pelas pessoas, quer seja pelo Governo, pelo Estado, quer seja pelas empresas, deve ser o mais alto possível, e isso não sendo garantia, não sendo uma condição suficiente para sermos ricos, é, tudo indica, uma condição necessária, e portanto há que de facto que investir nesse sentido, não só ao nível das empresas, ao nível dos indivíduos e ao nível do Estado, essa é a primeira conclusão.

E a segunda conclusão é a de que alguns aspectos infra-estruturais da nossa sociedade que têm que ser corrigidos, para nós conseguirmos ter um desempenho melhor, em termos internacionais.

Infelizmente, os que nós temos que melhorar, são dos mais difíceis de melhorar. Porque são sistemas que só se melhoram no médio e longo prazo. E portanto só um investimento sistemático, continuado, no médio e longo prazo é que faz melhorar uma coisa tão vasta, e tão estratégica, como é o sistema de ensino. E por isso, eu penso que em qualquer que seja o Governo, qualquer que seja, digamos, o partido do Governo, que estrutura o Governo, é um imperativo nacional nós melhorarmos o sistema de ensino, e mais um conjunto de condicionantes que vão desde o sistema de saúde ao sistema de justiça, por aí fora, para que efectivamente nós estejamos em condições de aproveitar aquilo que as tecnologias de informação e comunicação nos podem trazer.

Depois é uma questão de garantir que os vários actores no sistema, quer sejam as pessoas, quer sejam as empresas, quer seja o Estado, usam efectivamente esse tipo de mecanismo, mas tudo indica que em Portugal que usam. Em todos os exemplos que nós podemos estudar, de facto as pessoas usam. Tiram partido maciçamente desse tipo de instrumentos, obviamente que há uma curva de aprendizagem, há um tempo para se tirar partido desses instrumentos, mas tudo indica que melhor até do que outros países, as pessoas efectivamente usam, tiram partido, é necessário é potenciar essa utilização, e dar o nível de prontidão necessário às pessoas, às empresas, e ao Estado.

Como é que isso se faz?

Bom, relativamente às pessoas, eu penso que é fundamental a reactivação do nosso sistema de ensino, com mais exigência, com mais qualidade sobretudo ao nível dos professores, ao nível dos manuais escolares, ao nível da organização do próprio sistema de ensino, para que as pessoas realmente tenham elas próprias melhores capacidades, e se nós alguma coisa na Nova Base procurámos fazer, que se possa chamar o nosso “segredo” do sucesso, é o facto da gente ter procurado sempre ter as melhores pessoas. Isto parece uma coisa simples, mas não é. Não só porque ter as melhores pessoas não é fácil, mas porque efectivamente isto parece simples mas é complicado mas é verdade. Isto é, nós com uma pessoa mediana ou com uma pessoa muito boa não fazemos metade, fazemos se calhar um décimo ou um vigésimo.

E, portanto não há nada a fazer pela competitividade dos países se nós não tivermos pessoas boas.

Por outro lado, ao nível da nossa capacidade como país, é fundamental que a gente saiba qual é o nosso papel no mundo, se nós olharmos para a Suiça, a gente associa ao sistema financeiro, associa à indústria farmacêutica, se nós olharmos para a Finlândia associamos às tecnologias de informação, fundamentalmente por causa da Nokia, se nós olharmos para outros países vamos identificar seguramente algumas coisas que são típicas desse país, se nós olharmos para Portugal vamos identificar com quê?

E se obviamente o mercado irá, cada uma das pessoas, reagir no sentido que lhe interessa a ele pessoalmente e ser um actor, que vai criar esta ou aquela empresa, esta ou aquela actividade, ao Estado obviamente compete garantir que há algumas áreas estratégias que não se deixam ficar para trás. Porque elas são áreas em que o país pode beneficiar.

Eu recomendei-vos a leitura de um livro que The world is flat, que penso que é interessante, em que o autor que é um jornalista, procura reflectir sobre o processo de globalização, dizendo que o processo de globalização é positivo e tem acontecido, e aconteceu muito fortemente nos últimos anos. Mas, acho que há uma leitura desse livro, se tiverem ocasião de o fazer, que eu penso que é importante, que é o facto de, primeiro, não vale a pena discutir se a globalização é boa ou é má porque ela vai acontecer, e com a nossa habitual tendência para falar muito, quando a gente se cansar de falar na globalização já estamos completamente ultrapassados porque ela já nos passou por entre as mãos.

Portanto, não vale a pena tentar ver se é boa se é má, porque vai acontecer. E todos os fenómenos que naturalmente vão acontecer, terão certamente coisas boas e coisas más.

O facto de nós termos conseguido dominar o átomo trouxe coisas boas, a medicina nuclear, trouxe coisas más, as bombas atómicas.

Portanto onde a gente deve efectivamente gastar o nosso tempo, é a perceber como é que nós como país, como indivíduos, como empresas, podemos tirar partido das coisas boas que a globalização nos trás, tendo cuidado em não tropeçar nas más, porque também vai existir, não há nada que não tenha um preço.

E uma reflexão que temos todos que fazer, em Portugal, nomeadamente as forças políticas, e todos os actores do sistema, é perceber como é que Portugal pode tirar partido desse processo. Processo esse que outros países à sua maneira tiraram partido usando as suas variáveis, e os seus pontos fortes.

Por exemplo, a Índia, tirou partido do facto de ter muitas pessoas, mas podia ter muitas pessoas e não ter tirado partido. O que eles fizeram foi sofisticar o seu sistema de ensino a um ponto que podiam produzir rapidamente um número de pessoas muito boas e em grande número, e depois usando as vantagens das tecnologias de informação e comunicação que a globalização trouxe, eles conseguem vender a sua força de trabalho noutros pontos do mundo, mais barato e sem ter que lá ir. Utilizando essas mesmas tecnologias. Essa foi a forma com que eles se posicionaram.

Nós podemos fazer o mesmo? Não! Eles têm mil milhões de pessoas, nós só temos dez!

Portanto vai haver uma maneira para nós, é preciso é encontrá-la.

E obviamente, interessa às empresas, as empresas farão o seu trabalho, porque eles são agentes económicos e eles próprios farão esse trabalho, as pessoas têm que fazer esse trabalho, têm que ter a formação de base para poder começar a pensar nele, mas elas próprias vão procurar ser o mais competitivas possíveis, vão procurar o seu lugar neste mundo global.

E os Estados também têm que fazer o mesmo, e nós desperdiçámos algumas oportunidades importantes para encontrar o nosso lugar.

Um país, que se vocês vierem o mapa-mundo, e virem o tamanho de Portugal, que hoje temos, olhamos para aquilo e dizemos “é tão pequenino!”.

Se virem o mesmo mapa-mundo, com as zonas de supervisão marítima que cada país tem, vão ver que Portugal não é nada dos mais pequenos. E a gente aproveitou esse facto? Não! Não temos pesca, quase não temos marinha mercante, não temos empresas de turismo ligadas à navegação, não aproveitámos esse factor estratégico de competitividade.

Um outro factor estratégico de produtividade que pelos vistos estes estudos indicam que têm, e os indicadores diversos de infra-estrutura indicam que têm, é que nós somos bons a adoptar tecnologia.

Então porque é que não vamos encontrar uma missão para Portugal como um país onde se experimenta melhor, bem, a usar novas tecnologias que apareçam? Se calhar este é um princípio. Obviamente um bocadinho enviusado para a minha área, mas também quem não chega a brasa à sua sardinha, também não vai bem neste mundo.

De forma que, eu penso que, há que tirar muito partido das tecnologias de informação e comunicação neste mundo global, Portugal pode fazê-lo, tem é que escolher como. E isso obviamente não é evidente, porque se fosse evidente já estava feito. Perdemos algumas batalhas, mas é sempre possível dar a volta ao resultado.

E penso que para resposta inicial era esta a mensagem que vos queria dar, nos lugares onde estiverem, nas empresas onde estiverem, nos órgãos do Estado onde estiverem, lutem por essa introdução das tecnologias de informação, no Estado e nas organizações onde estiverem.

E valorizem-se como pessoas utilizando esses instrumentos.

E isto não é propriedade de ninguém, porque, referindo-me à nossa História recente, o PSD quando esteve no Governo criou a UMIC, o Diogo Vasconcelos fez um excelente trabalho à frente da UMIC, criou algumas bases, hoje o Governo actual do PS tem plano tecnológico, portanto penso que há aqui um consenso sobre esta matéria, a questão é qual é a melhor forma de o fazer.

E aí, como é um processo ao longo do tempo, todos vamos ter naturalmente a possibilidade de colaborar à nossa medida.

Muito obrigado.

 
Tiago Sá Carneiro
Boa noite. Em nome do Grupo Laranja queria desejar as boas noites a todos aqueles que estão presentes na sala, e agradecer a presença especial do Eng° Rogério Carapuça, pelas suas palavras cheias de experiências vividas, e visões para o desenvolvimento do nosso país.

Vivemos numa era em que as palavras como a tecnologia e o empreendorismo estão na moda, é certo que estas duas palavras são essenciais numa agenda eleitoral, mas assistimos a uma exagerada propaganda por parte do nosso Governo com uma finalidade puramente publicitária. Fiquei curioso quando no outro dia, assisti pela comunicação social a aplicação de novas tecnologias no município em desenvolvimento de rede Internet, mas as condições culturais, humanas e sociais estavam completamente estagnadas e em deficit, como os hospitais, as vias de comunicação, a educação e a cultura. Estará o Governo de José Sócrates enganado com as prioridades a desenvolver neste momento, ou acha que estes bens são extremamente necessários para o bem estar humano?
 
Inês Rocheta Cassiano
Em primeiro lugar, gostaria de saudar o Sr. Prof. Rogério Carapuça, assim como os restantes membros da mesa e todos os presentes.

Como representante do Grupo Bege gostaria de lhe colocar a seguinte questão: ainda hoje o Sr. Presidente da Comissão Europeia, disse nesta Universidade de Verão, que desejava ver constituído um instituto de tecnologia europeu capaz de competir com o MIT norte americano. O Grupo Bege gostaria de ouvir a opinião do Sr. Professor sobre esta possibilidade.

Obrigada.
 
Prof.Dr.Rogério Carapuça
Ora bem, eu penso que comentando a primeira pergunta, que as prioridades, se a prioridade que está a referir-se é a prioridade da utilização das tecnologias de informação e comunicação, penso que estamos todos de acordo, e a primeira minha resposta ia nesse sentido.

A questão é o que é que são essas tecnologias, como é que se aplicam, e qual é que é a melhor forma de o fazer.

Deixando os aspectos propagandísticos à parte, porque eu penso que são sempre negativos, qualquer aspecto propagandístico… eu vejo a coisa da seguinte forma; não há ser sem parecer, e não há parecer sem ser.

Se só apostarmos no parecer, ou seja, fazer boa figura na comunicação social, mais tarde ou mais cedo vamos ser apanhados, porque não somos. Se só formos e não conseguirmos parecer, também vamos estar mal, porque as pessoas não vão perceber porque estamos e como estamos num regime democrático e funcionamos com eleições, as pessoas também têm que perceber, sejamos pragmáticos, qualquer Governo, qualquer Partido, faz a promoção das suas coisas.

Puxando pelo meu estatuto de independente, posso-vos dizer que as pessoas em geral percebem quando é que os Governos estão a fazer um bocadinho mais de propaganda do que aquilo que deveriam estar.

Quer Governos deste partido, ou de outro qualquer.

Mas no entanto não desvalorizemos esse aspecto, e qualquer pessoa que esteja na acção política, como muitos de vocês provavelmente estarão, vai estar preocupado com esse aspecto.

Haver parecer sem ser é um pecado muito grande! Porque além de ser enganar o povo, é um exercício de futilidade, e que vai ser apanhado. Porque coisas que não tenham substrato, mais tarde ou mais cedo vai-se perceber.

E portanto não vale a pena parecer, ou tentar parecer, sem ser.

O que vale a pena é ser e depois dar-lhe um toquezinho no parecer porque se não também ninguém nota, e não se ganham eleições com isso. E a gente tem que perceber isso.

Mas é fundamental ser.

Quando nós falamos de tecnologias de informação e de comunicação, não estamos só a falar de Internet, porquê? Porque o nosso povo e o povo de todos os países do mundo tende para ser cada vez mais um povo mais idoso, e temos uma faixa bastante larga da população que não vai usar Internet, nunca usará. Mas pode usar um telefone para fazer perguntas a um call center do Estado, como pega num telefone para fazer perguntas a um call center de um banco. E também vai querer usar o balcão, porque o balcão também tem uma função social, há muitos sítios na província onde as pessoas vão aos correios, ou vão ao banco, não porque precisem mesmo de lá ir, porque querem falar com a pessoa que lá está. Porque se não fizerem isso não têm pessoas com quem falar.

E portanto nós temos sempre que usar a tecnologia não para fazer desaparecer as pessoas do circuito, mas para dar às pessoas a capacidade de utilizar os meios que existem no Estado e nas empresas, da forma mais adequada para elas, e promover naturalmente aquelas que vão ser as dominantes, mas não esquecendo de promover aquelas que são precisas no presente.

Portanto, se eu arranjo um acesso Internet hight speed, do mais sofisticado possível, mas coloco num sítio em que ninguém sabe usar, obviamente, ou que poucas pessoas sabem usar, obviamente que não estou a servir aquela população. Estou a servir se calhar três ou quatro pessoas que estão naquela população.

Mas se eu lhes der um outro canal, um canal telefónico por exemplo, se calhar já consigo cobrir outra faixa de população.

E quando vou ao balcão, que é a outra faixa de população, eu também tenho tecnologia de informação nesse balcão para poder servir aquela pessoa melhor.

Portanto, usar as tecnologias de informação não é só pôr Internet nos sítios, é utilizar as tecnologias ao serviço dos processos de negócio para fazer com que as pessoas sejam mais eficientes, quer os que atendem pessoas, quer as pessoas que vão procurar um serviço.

E isso tornará o país mais eficiente, mais competitivo, mas todos os canais são fundamentais, a meu ver.

Ora se essa cerimónia que disse, era mais panfletária ou não, enfim, acho que já é um pormenor, mas acho que o que é importante é o ser, e depois dar ali um toquezinho de parecer, para a coisa se ver, mas não fazer o parecer sem o ser, porque vai ser descoberto.

Bom, relativamente ao ITE, é evidente que todas as nações globais, ou os espaços económicos globais, como é o caso da Europa, têm que ter os seus centros de excelência, e já agora têm. Ter centros de excelência universitários de alto nível, obviamente que é importante, ter centros de excelências laboratoriais de alto nível, obviamente que é importante, mas a Europa também tem o ICA, e os Estados Unidos têm o MIT, e têm outras coisas, mas agora o que é importante, penso eu, é criar alguns centros de excelência de acordo com a ideia de criar o ITE, mas criar vários centros de excelência em áreas onde a Europa possa competir, tenha aptidão natural para competir, e possa fazer a diferença.

Como é que a Índia criou tantos engenheiros que hoje tem? Não é só porque tinha muitas pessoas, é porque criou universidades, centros de competência importantes para formar essas pessoas, se não o tivesse feito, continuava a ter muitas pessoas, mas não tinha o desempenho que tem hoje na sociedade global.

Portanto, obviamente estou de acordo com o Presidente da Comissão Europeia nessa matéria, acho no entanto que há muitas áreas de excelência onde nós temos e podemos como na Europa ou como em Portugal, que apostar, nem todas precisam de estar, já agora, nas grandes cidades, como esta vossa universidade amplamente demonstra.

Porque fazer tudo nas grandes cidades é desertificar o interior do país, é desertificar o interior dos países, e é criar má qualidade de vida para pessoas que estão nas cidades, e má qualidade de vida para as pessoas que estão no interior.

Os que estão no interior estão sozinhos, e os que estão nas grandes cidades andam a acotovelar-se uns aos outros, não há nenhuma razão para isso.

Hoje há tecnologias de informação e comunicação para resolver esse problema, há comunicações tradicionais, estradas, vias-férreas, etc., para resolver esse problema. Porque é que a gente há-de estar todos a acotovelar-se nos mesmos sítios e a competir pelos mesmos recursos, de espaço, de tempo, de tanta coisa?

Porque é que a gente não há-de valorizar o interior do nosso país? E acho que uma das formas de valorizar o interior dos países é criar centros de excelência no interior dos países, para que as pessoas também tenham que ir a outros sítios que não o diabo sempre dos mesmos.

Há bocado estávamos aqui a referir um exemplo a Noruega, país que eu gosto de visitar, por razões turísticas, mas não deixa de ser um país muito interessante, existe um centro de excelência na área da saúde que fica acima do círculo polar árctico. E obviamente que os médicos quase todos passam por lá. é interessante ir para cima do círculo polar árctico sobretudo no Inverno? Não. Mas faz parte do processo. Faz parte do processo de criação de conhecimento em todo o lado e não só nos sítios do costume.
 
Vânia Tavares
Boa noite, a todos os presentes, desde já gostaria de saudar o Dr. Rogério Carapuça pela sua presença esta noite no nosso jantar conferência, que muito nos apraz para comentar a inovação e o empreendedorismo que são dois temas que preocupam a sociedade portuguesa, já que estou de certa forma em “crise”.

E então, a pergunta que o meu grupo gostaria de lhe colocar é a seguinte: a inovação constitui um caminho de progresso no futuro, e o empreendedorismo uma maneira de estar na comunidade, com espírito de insatisfação constante, na busca de uma sociedade cada vez melhor. Sendo urgente combater o fenómeno economicamente destrutivo a que temos vindo a assistir, que é o da deslocação das empresas para o exterior, com as relativas consequências nefastas ao nível do crescimento económico, que modelo de política fiscal considera que o nosso país deveria adoptar para fixar as nossas empresas em território nacional, bem como assim atrair o investimento estrangeiro.

Muito obrigada.
 
João Verde
 Boa noite e obrigado desde já pela atenção. Boa noite também especial para o Senhor Professor.

Sendo as universidades instituições de respeito e um símbolo do que de mais avançado se estuda num país, e sendo o Instituto Superior Técnico uma faculdade de grandioso nome, que até se encontra dentro do cluster, representa as doze melhores faculdades de engenharia na Europa, e na qualidade de aluno dessa mesma escola, e sabendo bem o que a casa gasta, porque razão se sente que os alunos do IST, assim como os alunos de outras faculdades, pretendam apenas adquirir um canudo? Na vez de aproveitarem o ensino universitário para progredirem no sentido de uma excelente formação, de modo a que na vida profissional não se limitem a procurar um emprego numa empresa que lhes garanta a estabilidade financeira, e a estabilidade no emprego, mas tentem ir no sentido de explorar pelas suas mãos todas as suas potencialidades, abandonando o sindroma do empregado, que em parte tem prejudicado o avanço nacional?

Em que medida pode o Estado actuar de modo a despertar um clik nestes jovens de formação superior o motivo de alterar um cenário de patrões pouco formados, nas pequenas e médias empresas que tanta importância têm para o nosso país?
 
Prof.Dr.Rogério Carapuça
Ora bem, então vamos lá ver, eu não sou um fiscalista, mas penso o seguinte; eu penso que alguns exemplos, como por exemplo o exemplo da Irlanda mostra que uma política fiscal mais agressiva tem obviamente vantagens, porque se há coisa hoje que circula livremente é o capital. E se há coisa que hoje começa a circular livremente é o trabalho. E portanto obviamente que os capitais terão tendência para ir para locais onde são mais remunerados, ou menos taxados, e portanto, é uma no question, ou seja ter menos impostos é um factor de competitividade do país, é!

O problema é a transição, ou seja, fazer um choque fiscal no sentido, vou usar aqui um termo polémico, no sentido de baixar drasticamente os impostos, acreditando que as pessoas no futuro, pagarão cada um deles menos imposto, ou menos taxa nominal, mas o valor absoluto dos impostos coleccionados vai ser superior, é um risco tremendo.

Eu entendo a dificuldade dos ministros das finanças, dos variadíssimos governos, em optar por um esquema desse género, sobretudo num país onde se sabe que a invasão fiscal é elevada. Porque o que pode acontecer é de um momento para o outro a receita baixa imenso e não há forma de a compensar em tempo real, com mais actividade económica por via dessa redução de impostos.

Portanto, eu acredito que o choque fiscal é de tal forma arriscado que não acredito que num país como Portugal alguém o vai implementar nos próximos tempos.

Aquilo que acredito que é mais importante, é ir descendo a taxa nominal dos impostos, sobretudo sobre as empresas, indexando essa descida de preferência à inovação e a outros aspectos que têm a ver com a capacidade concorrencial dessas empresas. Ou seja, quem seja mais concorrencial deverá teoricamente pagar menos impostos. E há ideias avulso, que eu penso que poderão também ser implementadas.

Por exemplo, como é que se usam tecnologias de informação, como é que se põem as pessoas a usar tecnologias de informação? É fazendo um decreto a dizer agora toda a gente tem que usar? Não!

Como é que se pôs os portugueses a utilizar tecnologias de informação?

Uma coisa chamada Multibanco, que dava jeito porque se levantava dinheiro, com uma coisa chamada Via Verde, que dá jeito para passar na auto-estrada mais depressa, ou seja, as pessoas não usam tecnologia pela tecnologia, usam tecnologia se for útil para eles.

Ora, para fazer as empresas, sobretudo num país onde 80% das empresas são PMEs, utilizar tecnologias de informação não vai ser por decreto. Vai ser, do meu ponto de vista, criando, aquilo que nós chamamos na nossa área, killer applications, ou seja, aplicações que toda a gente quer usar. Como foi o Multibanco, como foi a Via Verde para os individuais. Para as empresas eu acredito, por exemplo, que a factura electrónica seja uma killer application, ou tenha o potencial de ser uma killer application, isto é, as empresas facturarem-se umas às outras electronicamente, obriga a que haja sistemas de informação em cada uma dessas empresas.

Mas para isso é necessário que seja mais interessante facturar electronicamente. Ora hoje não é. Porquê?

Porque fica registada essa transacção e portanto a fuga aos impostos é mais difícil, segundo porque não há nenhum incentivo. Mas por exemplo, baixar um bocadinho os impostos, para quem use exclusivamente facturas electrónicas, se calhar já dá. Já é um incentivo.

Ou seja, eu acho que há medidas pontuais, que podem fazer as empresas utilizarem mais tecnologias de informação, e utilizarem em geral coisas consideradas boas, práticas de inovação etc., e indexar isso ao abaixamento de alguns impostos, pontualmente, se for o caso.

E eu penso que isso é uma estratégia mais segura do que propriamente fazer um choque fiscal, mas é óbvio que se nós continuarmos a ter níveis de imposto nominalmente elevados, não vamos a lado nenhum porque há países que vão tê-los mais baixos. Nem que seja os que estão mais desafogados em termos de deficit, e portanto vamos ter problemas no médio e longo prazo em termos de competitividade fiscal.

Portanto sim, selectivamente, indexando a factores considerados positivos, inovação, utilização de tecnologias de informação etc., com algumas medidas avulso, e algumas medidas sistemáticas de abaixamento das taxas nominais, quando a situação económica o permitir.

Acho que fazê-lo de uma forma instantânea e esperar que em Portugal isso resulte, não acredito que resulte e acho que só vai piorar o problema, mas esta é a minha opinião.

Relativamente ao IST, bem, acho que isto é um pouco mais fundo do que propriamente a questão do IST e acho que há, como é que eu vou abordar isto, uma coisa é ter o canudo, ou seja o parecer, e outra coisa é saber, isto é, o ser. Para ir buscar uma coisa que há bocado estava a referir.

E obviamente que todos temos que encontrar o equilíbrio, eu costumo citar este exemplo, porque acho que é ilustrativo: Eu quando procurei fazer umas experiências culinárias pela primeira vez na vida, pedi à minha avó que tinha umas receitas, que me arranjasse umas receitas para eu fazer, houve uma altura que não estive em Portugal e portanto tinha que cozinhar sozinho e tal, e pegava naquelas receitas e como era engenheiro de formação, ou estava a estudar para engenharia, ia fazendo aquilo, e aquilo era fácil, 20 g de não sei quê, 30 g de não sei quê, mas tinha uma grande dificuldade com uma que aparecia sempre cá para o fim que era q.b., que era sal e pimenta, q.b., q.b. para um engenheiro é uma coisa do pior, porque a gente não sabe bem quanto é que isso é.

E por isso temos que arranjar experiência, e arranjar aquele toque individual para perceber o que é que é o q.b.

Generalizando este conceito eu acho que o que a gente anda a fazer na vida sempre é encontrar o q.b., de tudo, como é que se concilia a vida familiar com a vida profissional, q.b., como é que se consegue ser mais competitivo não prejudicando a felicidade, q.b., como é que se consegue saber mas ao mesmo tempo ter boa média q.b..

E portanto acho que todos nós temos que encontrar o q.b. de tudo, e as pessoas experientes encontram o q.b. com facilidade, porque já sentem, e as pessoas menos experientes não sabem o q.b. e fazem uma data de cozinhados que sinceramente não convencem, não são comestíveis.

Por isso, eu acho que se instalou na sociedade portuguesa alguns defeitos de fabrico, uns que já existiam, e outros que foram instalados a seguir, que eu acho que são muito negativos.

Primeiro, ter destruído o sistema de ensino profissional. Acho que foi dramático entre outras razões, não só pela falta desses técnicos, mas porque se passou a mensagem às pessoas de que o que era importante era ir para a universidade, e isso não é verdade para todas as pessoas.

E portanto isso afunilou o sistema de ensino, no sentido em que um indivíduo vai ali tarara, e há-de ir para a universidade e se Deus quiser para o desemprego, porque é o processo natural.

Outras coisas destorceram o nosso sistema de ensino, como por exemplo, aquilo que há bocado conversávamos aqui, que é uma vergonha nacional, que é um indivíduo para ser médico em vez de ter vocação tem que ter 18,3.

Ora há muitas pessoas que conseguiram ter 18,3 e nunca conseguiram ver um doente à frente, e há muitas que eram óptimas para tratar doentes e que nunca conseguiram na vida ter 18,3. E isso é uma vergonha nacional!

E é tão notório que até já estamos a distorcer o sistema de Espanha, ou seja, as médias para entrada em medicina em Espanha já estão a subir por causa dos portugueses que vão para lá. Agora é também na República Checa. Nós com um bocado de sorte vamos distorcer uma parte do cenário europeu do estudo da medicina.

E portanto eu acho que isto é uma coisa do pior.

Nós passámos os valores culturais errados, e um dos valores culturais errados é que basta ter o canudo em vez de saber.

E isso é um valor cultural erradíssimo.

O segundo, é que a gente deve viver toda a vida à custa do Estado. Ou à custa de esperar que venha um dia melhor. Não vai acontecer!

E por isso o empreendedorismo infelizmente é uma cultura e portanto leva tempo a estabelecer. Tem que começar cedo, há um livro muito engraçado de um psico-sociólogo americano que diz: “ Tudo o que eu aprendi na vida com interesse, aprendi no jardim-escola”, tipo, não se desarrumam os brinquedos e depois vai-se embora, têm que se arrumar antes de se ir embora, não se bate nos colegas assim sem mais nem menos para a sociedade em geral, para o nosso comportamento social hoje em dia, há bons comportamentos e há maus comportamentos. E o mau comportamento é esperar que o Estado resolva o nosso problema. Não vai acontecer!

E portanto o empreendedorismo tem que se ensinar a partir das escolas. Já não digo da primária, mas se calhar também porque há valores que estão por trás do empreendedorismo, têm que se ensinados desde o jardim escola, mas também no secundário e por aí fora.

Se a gente só puser uma cadeirinha de empreendedorismo na universidade, não vai resultar. Porque as pessoas quando chegam aos vinte e um anos etc., já estão formatados. E vão fazer o que for mais rápido para atingir o seu objectivo, e eficaz.

Nós nunca podemos sacrificar os valores à eficiência.

E hoje em dia das coisas perigosas da nossa sociedade, é que muitas vezes sacrificamos os valores à mão da eficiência.

Resulta é bom, não resulta é mau. Não é assim!

Nós temos que saber fazer coisas bem, temos que passar às pessoas bons valores, para que elas depois sejam pessoas eficientes, competitivas, e moralmente correctas.

E isso significa que ao longo da aprendizagem na vida das pessoas, é necessário passar valores como ter iniciativa é bom. Se nós não ensinamos às crianças que ter iniciativa é bom, acham que é na universidade que eles vão aprender a ser empreendedores?

Mas porquê? Porquê? Porque é que isso vai acontecer nessa fase tão tardia do processo quando eles foram sempre ensinados que não é bom. Portanto acho que não resolvemos o problema do Técnico por essa via, acho que o problema é de fundo, e acho que se Portugal vai ter pessoas inovadoras, e pessoas empreendedoras, é se nós hoje conseguirmos passar os valores certos às pessoas que hoje estão no jardim-escola, e acompanhá-los depois ao longo da vida, não vai ser com uma cadeira na universidade.
 
Francisco Mestre
Boa noite a todos! Um bem-haja ao Dr. Rogério Carapuça.

Uma das perguntas que eu gostava de fazer aqui era relacionada com o choque tecnológico anunciado pelo Eng. Sócrates, que era se eu colocar os dedos na tomada será que apanho o choque tecnológico?

A pergunta prende-se com o seguinte, neste momento vivemos num mundo dominado pela Microsoft e pelo seu principal produto Windows, e neste momento está a ser uma ideia que é o software livre, pessoalmente gostava de saber o que é que é isso, como é que funciona, e qual a sua posição em relação a esse assunto.

Obrigado.
 
Francisco Romão de Matos
Gostaria de saudar o nosso convidado o Sr. Eng. Rogério Carapuça, que muito nos honra com a sua presença aqui, em nome do Grupo Azul gostaria de lhe fazer a seguinte pergunta; o Sr. Eng. sendo um homem de inovação e de empreendedorismo, se estivesse no nosso lugar nos dias de hoje que caminho concreto seguiria caso tivesse que partir do zero?

Obrigado.
 
Prof.Dr.Rogério Carapuça
Bem, a do plano tecnológico e da Microsoft e do software livre são coisas diferentes. Vamos lá a ver se abordamos todas.

Começamos pela mais longa que é a da Microsoft software livre.

Bom, o que é que acontece? Acontece que a Microsoft é uma empresa extraordinária. E há poucas histórias de sucesso na actividade económica que tivessem, digamos, o crescimento e a capacidade de angariar quota de mercado como aconteceu no caso da Microsoft. E portanto ela dominou, digamos, o mercado, nas zonas onde actua, ter noventa e tal por cento de quota de mercado mundial, nas zonas onde actua, por exemplo na área dos produtos do Office, não é uma coisa fácil, como é evidente.

Portanto à medida que se cria um player dominante, o mercado funciona no seu mecanismo de auto-regulação normal, ou seja, vai haver a tendência de aparecer outros players que desafiem essa liderança. E apareceram. E a Microsoft foi conseguindo ganhar a esses concorrentes.

Mas apareceu uma outra coisa que tem a ver com o tal software livre, que é um conceito completamente diferente, não tem a ver com uma nova forma de fazer software, não tem a ver com apenas isso, tem a ver com uma nova forma de funcionar na actividade económica.

O que é que é o software livre? É software produzido por comunidades de utilizadores que são comunidades informais, pessoas se conheceram através das ligações que têm da Internet, e que em conjunto por serem de uma determinada área, criaram um produto de software com o acordo entre eles, que o resultado dessa criação seria fornecido publicamente a toda a gente.

Com a incumbência para esses que beneficiassem da recepção desse produto, ou seja, que fizessem download deles, as modificações que fizessem a esse produto também seriam cedidos gratuitamente.

E isso aconteceu porquê?

Porque o mundo passou a estar ligado através de uma coisa chamada Internet, porque passou a haver a possibilidade de pessoas muito brilhantes por este mundo fora conseguirem colaborar nos temas mais diversos, e se houve uns que se especializaram a colaborar na microbiologia, outros houve que se especializaram a colaborar na criação de software. E criaram, digamos, que um modelo novo de fabrico que é um modelo que renega, digamos assim, com as devidas aspas, o modelo capitalista tradicional da criação de valor. Ou seja, criar valor e eu vou oferecer, desde que os outros que trabalhem comigo também façam o mesmo.

Vantagens e inconvenientes: as vantagens são obviamente é que aquilo sendo de graça muita gente pode usar; inconvenientes, que sendo de graça não tem manutenção, e portanto o risco corre por conta de quem o utiliza.

Isso funciona? Bom, algumas experiências no mercado provaram que efectivamente funciona. E aquilo é a criação de software por essa via é algo como um conjunto de cientistas a colaborar numa determinada matéria, em que os pares revêem aquilo que os outros pares fizeram.

E se forem pessoas boas chegarão a um bom resultado.

E se houver aquilo que normalmente nas comunidades científicas se chamam as comissões de programa para organizar por exemplo uma conferência, se houver um conjunto de reviewers que reveja aquilo e guarde as versões chamadas originais, e as que estão neste momento mais avançadas, em princípio é possível fazer essa utilização com alguma segurança.

O que eu acho muito negativo e que tem acontecido no mercado, em torno desta matéria, e eu sou absolutamente contra qualquer tipo de guerra religiosa, porque acho que é um atentado à inteligência, e hoje em dia há pessoas que renegam a Microsoft, só porque teve sucesso, e há pessoas que renegam o software livre só porque não foi criado por uma grande empresa.

E eu acho que qualquer tipo de guerra religiosa é muito negativa para o avanço da Humanidade, e vejam-se as crises no Médio Oriente para ilustrar.

E portanto sou completamente contra qualquer guerra religiosa, e acho que a gente deve olhar as coisas com a objectividade que elas merecem, e há situações e organizações que têm que usar software de uma proveniência conhecida, e com alguém que se responsabilize pela sua manutenção, etc., e há situações em que se pode usar software livre. E cada caso é um caso, temos que olhar aos méritos das coisas e não às guerras religiosas.

Se não houvesse software livre se calhar uma pessoa na Ucrânia não podia fazer o download do Apache, e podia criar o seu web server, tinha dinheiro para comprar à Microsoft ou a outro sítio qualquer. É uma vantagem.

Mas quantos bancos têm o seu sistema Core baseado em software livre? Portanto, eu acho que são duas realidades, que servem para coisas diferentes, e a gente não usa o garfo e a faca para a mesma coisa.

Guerras religiosas do tipo: só gosto de facas porque são facas, ou só gosto de garfos porque são garfos, acho que atrasa o progresso da Humanidade, e são um factor a não ter em conta.

Quanto à questão do plano tecnológico, eu aqui devo-vos dizer o seguinte, eu sou consultor do plano tecnológico pertenço ao o grupo de coordenação do plano tecnológico, ao grupo de consulta não é de coordenação, a coordenação fazem eles, e portanto eu mais umas quantas pessoas, vamos de vez em quando dar as nossas sugestões sobre o andamento do plano.

Se vocês tivessem um amigo que vos pedisse conselhos, e depois vocês viessem dizer em público os conselhos que tinham dado, esse amigo certamente não iria gostar, e portanto se o Governo me convidou para estar essa missão, eu farei o mesmo que faria com um Governo do PSD.

Ou seja, aceitava a missão e não vinha cá para fora dizer os conselhos que dei lá dentro. Portanto não farei comentários.

No entanto, acho que a tecnologia é muito importante que seja utilizada, é muito importante que se crie visibilidade sobre isso, e já referi há bocado que no tempo do Governo do PSD houve trabalho sobre essa matéria que foi importante. Neste momento, há algum trabalho sobre essa matéria que também importante, estamos no início, há tempo para ver o que é que vai dar, acho que usar a tecnologia é importante, a forma como está concretamente a ser feita, eu faço os meus comentários no local próprio.

Não vou entrar nessa guerra.

Partir do zero no vosso lugar. Bem, eu acho que há uma coisa essencial, e fundamental e essencial nisso tudo, do meu ponto de vista que é: qual é a arma dos pequenos contra os grandes? Vejam ao longo da História, David contra Golias etc., é a especialização.

A especialização é a arma dos pequenos contra os grandes, mas a gente tem dez milhões de portugueses, não vamos lá pelo método da força bruta, e se nós tivermos um grande q.i., uma grande capacidade intelectual talvez consigamos fazer alguma coisa pelo método da força bruta, mas também não faremos tudo, e portanto eu acho que o conselho que vos daria é especializem-se nalguma coisa, e rápido, porque o mundo está cada vez mais competitivo, e quem não for especializado nalguma coisa vai perder um factor de competitividade fundamental. Se vocês forem a uma organização e disserem, eu venho aqui, sou especialista em tecnologias da informação e faço o que você quiser, terão uma resposta que é “eh!”, se vocês forem uma organização e disserem “olhe eu sou especialista em algoritmos de datamaining para conseguir encontrar métodos sofisticados de segmentar clientes”, muitas organizações contratam-vos logo, é evidente que os que não tiverem esse problema não contratam, mas esses vocês também não querem.

Portanto, procurem a vossa formação universitária, os estágios e os primeiros empregos como forma de vos especializar rapidamente. Porque o tempo de ser o chamado especialista de assuntos genéricos virá talvez, quando vocês tiverem para aí sessenta anos, setenta, que já têm experiência de muita coisa, e conseguem assim umas correlações e umas ideias gerais porreiras e também já não têm muito para ganhar ou para perder, já usaram o que era preciso.

Para viver, sobreviver, ser competitivo no mundo que se aproxima, tem que se ser especializado, e vocês poderão perguntar, mas quem é que me garante que o mundo vai sempre ser competitivo? Ai, essa é fácil! Quando é que há competição? Quando há muitos agentes para poucos recursos. Muitos consumidores para poucos recursos. Sempre. Se houver um bife para cada cão não se zangam à dentada, se houver um bife para sete cães, aquilo é dentada que até ferve!

E a competição pode ser mesmo um factor de sobrevivência, a dado ponto, porque se não se comer bife nenhum ao fim de alguns dias morre-se.

Ora a demografia como é que vai continuar a evoluir? Vai continuar a aumentar, porque a acção do Homem contraria aquilo que a natureza compensaria naturalmente que era arranjar umas pestes de vez em quando, que limpavam o pessoal todo, e portanto a demografia tem tendência a aumentar e os recursos vão de certeza continuar a diminuir, portanto vai haver mais concorrência ou menos concorrência? Não tem nada que saber! Quem é que ganha num cenário de concorrência? Quem for mais competitivo! Não é possível escapar a esse processo. Não, só se já se tiver à beira da reforma, aí talvez consiga escapar, mas é à recta. Para quem vai começar agora, não há escolha! Escolham aquilo que vocês gostam, não escolham uma coisa que não gostam, porque tem uma vantagem x, y ou z, ninguém aguenta isso por muito tempo, há pessoas resistentes mas não é tanto, ninguém faz toda a vida uma coisa que detesta e é feliz, e faz bem, é impossível.

Portanto, escolham uma coisa que gostem mas especializem-se nela, é o melhor conselho que posso dar.
 
Rita Pedro
Em nome do grupo cinzento gostaria de agradecer a presença do Prof. Rogério Carapuça nesta universidade, e colocar-lhe a seguinte questão, um dos factores de sucesso que utilizou na Nova Base assenta na inovação aliada a duas performances de sucesso, designadas por ilusionismo que é a fase em que produtos e tecnologias não existentes aparecem por milagre durante as negociações com os clientes, e malabarismo que é a fase em que uma vez o contrato assinado é necessário implementar as soluções vendidas resultando numa inovação de marketpull. No entanto, estas técnicas por si só, não têm o efeito desejado, pois são as pessoas que as praticam, e sublinho, as pessoas, que fazem a verdadeira diferença, sendo esta a estratégia da Nova Base que a torna um caso de sucesso, pensa ser este um exemplo a seguir pelas outras empresas portuguesas?

Obrigada.
 
Lisete Rodrigues
Boa noite. O Grupo Castanho gostaria também de lhe dar as boas vindas aqui à Universidade de Verão 2006

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Portanto, sabendo que o grande desafio é construir empresas portuguesas capazes de comprar e não empresas apetecíveis para aquisição, e que a concentração neste panorama nos parece inevitável, considera que deveria existir mais concentração de empresas tecnológicas em Portugal? E se estará Portugal culturalmente pré-disposto para caminhar nesse sentido?

Muito obrigada.
 
Prof.Dr.Rogério Carapuça
Ora bem. Oh, Rita, essa do ilusionismo e do malabarismo há-de me contar melhor!

Eu não vejo a coisa assim, sinceramente. Acho que aquilo que nós procurámos fazer foi ter boas pessoas, e organizá-las o melhor possível, e motivá-las e fazer o possível para que elas pessoas sentissem que aquele era o sítio onde poderiam atingir melhor potencial.

É evidente que as pessoas boas fazem coisas boas. E as coisas boas para os outros podem parecer ilusionismo. Eu que não sou o Luís de Matos, se ele me fizer um truque daqueles até posso acreditar que aquilo é ilusionismo, mas não é, aquilo é tecnologia. É a tecnologia da ilusão.

Portanto, não há nada que resulte bem que não seja, continuadamente, naturalmente uma vez que por acaso pode ser sorte de principiante, mas não há nada que resulte bem que não tenha como base algo com substrato.

Eu relativamente à história da Nova Base não gosto de fazer comentários porque acho que fico sem jeito, como se costuma dizer, mas quer dizer, a Nova Base começou com um investimento de cerca de dois mil contos, dez mil euros, e hoje vale cerca de duzentos milhões de euros. Tinha seis pessoas e hoje tem cerca de mil e quinhentas e passaram dezasseis anos, e estamos em Portugal, e é difícil ser português em Portugal por várias razões, mas isso dava outra palestra. Porque nós preferimos sempre as coisas estrangeiras.

E portanto isso não aconteceu só por ilusionismo e malabarismo, o que eu acho é que quando se juntam pessoas boas no contexto certo aquilo resulta, e portanto parece ao comum dos mortais malabarismo e ilusionismo, mas não é.

Se isso é um modelo a seguir, acho que sim. Acho que a gente tem que formar bem essas pessoas, e organizá-las bem, já agora o nosso forte historicamente como portugueses não é esse.

É de ter pessoas boas que, e vou usar uma expressão vernácula mas que é apropriada, que se desenrascam muito bem. Ou seja, que improvisam muito bem.

Nós não somos especialistas em montar sistemas, somos especialistas em improvisar.

E portanto se se trata de resolver o jogo dali a quinze minutos porque não sei quê, se estiver lá o Figo e mais uns tipos aquilo às vezes resulta.

Mas isso não é um sistema. E há povos muito melhores a fazer sistemas, como por exemplo os americanos, e que têm um sistema que funciona, mesmo com indivíduos médios aquilo funciona.

Ora o que é que não seria se a gente tivesse bons sistemas mesmo com grande capacidade de improviso? Seria espectacular. Portanto, acho que é por aí. Conseguir ter pessoas boas, organizá-las bem e parece simples posso garantir que não é.

Relativamente ao tema da concentração, isso aí é um problema complicado, leva-nos à tal questão dos centros de decisão nacional etc., vamos lá tentar dizer aqui qualquer coisa rápida, porque também não vos quero roubar muito tempo.

Se a Nova Base quiser comprar, e vamos supor que a maior empresa de Espanha, na nossa área se chama Indra, que tem lucros da ordem dos duzentos, trezentos milhões de euros por ano, se quiser comprar a Nova Base em bolsa com o marketcap, com a capitalização que a Nova Base tem este ano, precisa de um ano de lucros, se a Nova Base quiser comprar a maior empresa de Espanha precisa para aí de trezentos anos de lucros.

E essa diferença de escala e de dimensão fatalmente conduz-nos a um processo difícil, a uma situação difícil do ponto de vista da concentração. Depois por outro lado nós não tivemos, ao contrário do que o que aconteceu em Espanha, algo que foi uma espécie de um consenso nacional entre dirigentes, poder político, etc., que foi concentrar o mais possível as empresas espanholas para que elas tivessem dimensão para serem das maiores empresas do mundo.

Eles tiveram esse entendimento, nós não temos entendimento. E quando se tenta usar esse argumentário normalmente não resulta. Porque nós não somos dessa forma tão orientados ao interesse nacional. Portanto também acho que não é por aí.

A Nova Base procurou por exemplo adquirir uma empresa que praticamente era da sua dimensão, que era a empresa de tecnologias de informação da EDP, e não estou aqui a dizer nada que não seja conhecido publicamente, porque senão não diria, mas a EDP disse que não. Preferia vender antes a um estrangeiro e nem quis receber proposta nenhuma nossa. Porquê? Porque era mais cómodo para eles, porque iam ter com uma empresa maior, portanto era mais fácil… bom..

Enquanto que em Espanha de certeza que essa operação tinha sido feita, uma operação equivalente de certeza que tinha sido feita! Aliás foi! E portanto eu penso que nós não temos nem essa atitude, culturalmente vai ser difícil mudar isso, e também não temos a dimensão nem e a escala para fazer o que eles estão a fazer, portanto, não pode ser por aí.

Portanto, se não pode ser por aí é por onde? Bom, eu acredito que a tal defesa dos centros de decisões nacional, eu diria que é importante porque obviamente se uma determinada empresa decide próximo de onde está o impacto terá um comportamento diferente.

Naturalmente que uma Opel se fosse uma empresa portuguesa, não teria feito a deslocalização que fez com tanta ligeireza porque, olhou só ao seu interesse económico imediato que era óbvio, e não se preocupou muito com o impacto social daquilo. Se estivesse em Portugal era mais difícil.

Mas é óbvio que também os actores do mercado, os agentes económicos aproveitam esse argumento, e muitas vezes dizem a um Governo, “ajude-me lá porque eu vou concentrar aqui no máximo essas empresas portuguesas!”, porque é o interesse nacional e tal, e depois vendem isso na primeira oportunidade a um estrangeiro que aparecer a dar o melhor preço, e portanto os Governos desconfiam desse argumento. E eu se estivesse no lugar deles se calhar também desconfiava.

Portanto, do ponto de vista das empresas a gente tem que acreditar na capacidade de regeneração do mercado, isto é, há empresas que vão ser compradas, outras hão-de comprar outras novas, vão parecer novas, e o mercado há-de se regenerar, mas nós não acreditamos no mercado.

Do ponto de vista do Estado é diferente, porque do ponto de vista do Estado, realmente o Estado tem que defender o interesse nacional.

Como é que isso se faz? Do meu ponto de vista, investindo na infra-estrutura.

Tendo um sistema de ensino melhor, tendo uma justiça melhor, tendo n  sistemas de saúde melhores etc., tendo uma fiscalidade melhor etc., porque isso faz com que seja interessante para as empresas estrangeiras virem para Portugal e teremos mais investimento estrangeiro, que é necessário no caso português, e haverá melhores condições para as empresas locais  de também se desenvolverem.

E portanto assim o Estado defenderá o tal interesse nacional, os tais centros de decisão nacional, porque há melhores condições para desenvolver empresas em Portugal, e as empresas a gente tem que deixá-las fazer o seu trabalho porque senão não acreditamos no modelo de livre iniciativa e no mercado, acreditamos na economia planeada, não é o meu caso, o vosso também acho que não. Portanto, acho que há aí algumas coisas que são inevitáveis, e a gente tem que conseguir que o terreno rejuvenesça, que apareçam outras empresas, criar incentivos para que isso aconteça e esperar que as pessoas façam o mesmo, e tratar de incentivos, e tratar da infra-estrutura, promover a cultura de inovação, ter melhores sistemas de ensino, ter melhores sistemas de saúde, e por aí fora, acho que esse é que é o remédio,
 
Dep. Carlos Coelho
Bem, entrámos no último ciclo de perguntas, Sr. Prof. Temos uma tradição na casa que é deixar a última palavra ao nosso convidado, por uma questão de cortesia, portanto não torno a pegar no microfone, e é esta a circunstância para lhe reiterar os nossos sinceros agradecimentos, mais a mais sabendo que veio, saiu de férias para vir ter connosco, que é um sacrifício que nós muito apreciamos.

Últimos grupos a fazer perguntas, grupo amarelo Mauro Santos.
 
Mauro Santos
Gostava em primeiro lugar de saudar o Dr. Rogério Carapuça, pela sua presença e pela discussão e apresentação de um tema importante e interessante para nós jovens, e gostava de lhe lançar um desafio, visto que falou de globalização, e que ela é inevitável, se fizesse parte do Governo e tivesse que tomar medidas para que Portugal se tornasse mais competitivo no mercado global, quais seriam essas medidas, e em que áreas investiria?

Obrigado.
 
Marlene de Oliveira Tinoco
Boa noite, uma saudação especial para o Dr. Rogério Carapuça, agradecer por estar a partilhar os seus conhecimentos connosco.

A nossa pergunta é; não será a falta de apoio económico e a burocracia factores de bloqueio ao espírito empreendedor dos jovens?

Obrigada, boa noite.
 
Prof.Dr.Rogério Carapuça
Bem eu agora, estão-me a colocar uma questão que obviamente não tenho aqui a resposta organizada, no sentido se eu fosse Ministro da Economia o que é que eu fazia, mas posso dizer algumas das coisas que já disse, acho que um investimento na infra-estrutura nacional, quer do ponto de vista de infra-estrutura do sistema de ensino e outros são absolutamente estratégicos e não há hipótese de não fazer isso, acho que não fazer isso é condenar o país a ser cada vez mais pobre.

E já agora no tempo, sei lá, há quinhentos anos, num reinado de um rei, perdia-se a capacidade competitiva de um país, cinquenta anos.

Hoje se calhar, perde-se em dois anos. E esse é que é o problema.

Quer dizer a gente não pode fazer erros. Porque se os fizer, é como uma corrida de cem metros não se pode perder um segundo, numa corrida de quarenta quilómetros ainda se pode perder assim uns minutitos que aquilo ainda se recupera.

Nós não temos hoje esse luxo! E portanto fazer erros hoje é de facto muito grave.

E portanto apostar nesses sistemas é fundamental embora isso não tenha a ver directamente com o Ministério da Economia.

Em termos de política económica, eu acho que nós temos que criar os factores que são importantes para que efectivamente o mercado funcione.

E para que as pessoas individualmente, cada uma delas considerada, funcionem. Há muito pouca coisa que se possa fazer nessa matéria que seja de resultado imediato. Isto é, é evidente que se podem promover algumas concentrações nesse sentido, para que nessa área seja possível apresentar uma capacidade competitiva maior ao exterior, é evidente que se pode aproveitar alguns incentivos que ainda se conseguem reunir para fazer com que as empresas mais inovadoras e as empresas mais inteligentes, eu diria, são aquelas que obtêm esses apoios, e não as que têm mais cunhas, e acho também que esse é um sistema que se pode tratar a partir do Ministério da Economia. Ou seja, descriminar positivamente os comportamentos e as entidades que o merecem, e não discriminar todos por igual ou não apoiar todos por igual, com os meios que ainda há.

E promover com incentivos de vários tipos, inclusivamente até fiscais, a entrada de Portugal em sectores que são naturais para ele, porque é que a gente não explora as coisas à volta do mar? Que é uma das áreas onde nós temos mais vantagem competitiva do ponto de vista da nossa influência geográfica?

Porque não apostar nalguns clusters como agora se gosta de dizer. Se uma pessoa é ministro da economia, ou é responsável pela actividade económica do país, o que vai fazer é um estudo de mercado, vai perceber quais são as forças, e quais são as nossas fraquezas, e tentar arranjar mecanismos que levem a que as empresas usem as nossas forças, preferencialmente, e não as nossas fraquezas. Só que eu acho que essa actividade é muito larga, não cabe apenas ao Ministério da Economia, porque há os aspectos infra-estruturais que é necessário tratar.

Porque é que nós deixamos estragar o nosso território com turismo que não é qualidade, se temos um território tão pequeno? Isso a Espanha e outros podem fazer, porque arranjam ali uma reserva onde se pode estragar tudo, e levam lá indivíduos que são muitos e cada um gasta pouco, mas nós não podemos fazer isso, porque estragamos o território todo e ele é muito pequeno.

Portanto, há aqui uma série de medidas que não têm só a ver com a área económica, têm a ver com a área infra-estrutural, que tem que ser um compromisso de Governo e não propriamente a actividade isolada de uma pessoa isoladamente, mas tem a ver com encontrar as áreas onde Portugal pode ser mais competitivo e incentivar essas, e incentivar as empresas que merecem, criando um sistema de meritocracia e não um sistema de poder alternativo, e aí vem a burocracia da pergunta seguinte.

A burocracia é um instrumento de poder, porque qualquer burocrata que se preze, se inventar ali milhares de papéis e requerimentos e voltinhas a dar, ele é que tem o poder, porque os outros passam ali a vida toda a escrever o papel e ele pode sempre inventar que falta a autorização não sei de quem.

Eu vou-vos contar uma história muito rápida, que era um quadro sénior de uma das nossas grandes empresas, e que um dia me contou, isto já foi a alguns anitos, mas hoje ainda era capaz de acontecer, e tinha um requerimento interno ou um pedido, que era porquê? Era porque um determinado colaborador da empresa precisou de um determinado manual técnico, foi pedir ao colega do lado, e o colega do lado não lhe emprestou, não lhe emprestou. E como o chefe não era o mesmo, ele reclamou para o chefe à consideração de V.Exa. aquele tipo não me emprestou o manual. O chefe também não era chefe do outro mandou para o respectivo dito cujo, aquilo foi lá acima, veio cá abaixo, o tipo voltou a dizer que não emprestava o manual, mandou outra vez para cima, e o dito indivíduo que era o director de uma empresa, tinha a seu cargo para aí mil e tal pessoas tinha uma coisa já com onze despachos a dizer “aquele tipo não me emprestou o manual, e o outro não sei quê e tal!” e às tantas ele como era um tipo pragmático telefonou ao indivíduo, pegou no telefone e telefonou “Oiça lá, você ainda precisa do manual não sei de quê?”, ele disse: “Oh! Há seis meses que tirei fotocópias!”

Portanto, aquela burocracia andava ali a entreter a malta toda quando nem sequer já havia problema.

E não se esqueçam que ainda há portugueses que estão a trabalhar no estrangeiro por exemplo, e têm um problema qualquer com um ministério de Portugal e tiram férias para vir tratar do problema.

E portanto, a burocracia é de facto uma coisa a erradicar. Não perdendo obviamente a segurança dos processos e esse é que é o seu quê, porque há processos que não podem perder o seu nível de segurança, apesar de se ter que diminuir o nível de burocracia.

Portanto, obviamente que a burocracia é para erradicar. E acho que isso de facto estafa qualquer empreendedor, porque atrapalha.

Mas há um problema, é que o empreendedor é de facto aquele que ultrapassa os obstáculos, e portanto se é verdade que a burocracia deve ser erradicada, também é verdade que uma verdadeira cultura de empreendedorismo implica que as pessoas são capazes de ultrapassar o obstáculo e mesmo que ele seja muito difícil.

E portanto, temos que apoiar? Temos! Mas a maneira de apoiar não é criando uma burocracia alternativa, não é criando uma Via Verde para o empreendedor, não! é passando, criando essa cultura, porque se as pessoas tiverem a cultura certa vão conseguir.

A gente consegue muito daquilo que a gente quer. Quase tudo. Depois há umas que falhamos mas pronto, faz parte do processo. E aprender a falhar também é importante.

Portanto, acho que apoios sim, mas acho que são de outro tipo, que é criar verdadeira cultura de empreendedorismo em Portugal, burocracia claro que é para erradicar não perdendo a segurança dos processos.

Porque segurança não é sinónimo de muito papel. É sinónimo de qualidade dos processos, e os processos com muita qualidade não têm que ter muitos papéis nem muito espaço nem demorar muito tempo.

E foi um prazer estar aqui convosco, é sempre um prazer estar com uma audiência não só que pergunta, que se interessa pelas coisas que se fazem e que se dizem, portanto qualquer orador gosta de ter uma audiência muito interactiva.

A organização da vossa universidade é um bom exemplo de como os processos também interessam, ou seja, se não houvesse esta organização em grupos e cada um tinha que fazer umas perguntas, e provavelmente como audiência portuguesa que são, lá teríamos que contratar as três primeiras perguntas a alguém especificamente contratado para o efeito, porque senão ninguém falava, e portanto isto mostra que a organização é importante, mas a qualidade das pessoas também. A gente podia ter aqui uma organização exemplar, toda a gente tinha uma pergunta para fazer, e eram todas parvas.

Portanto, temos aqui ou tivemos aqui um grupo excelente que fez perguntas, acho que muito importantes, numa organização impecável, tanto quanto eu consigo ver, não estive cá muito tempo, mas tudo indica que sim. E portanto, para qualquer orador é sempre um gosto cá estar.

E não se esqueçam, procurem o vosso q.b. em tudo na vida! Porque é isso que é obter experiência. E especializem-se porque é isso que vai trazer a competitividade que é necessário para os dias que aí vêm. Muito obrigado.