Revista de Imprensa
Registos Audio Fotografias
dia 3 - 10.00
Sessão de Avaliação da UNIV
dia 3 - 12.30
Sessão Formal de Encerramento
dia 3 - 14.00
Almoço de confraternização com UNIVs de 2003, 2004 e 2005
Falar Claro
 
Daniel Fangueiro
Queria antes de mais apresentar os oradores que provavelmente são os que melhor conhecem até agora desta universidade, pelo menos, aqueles que já contactaram com mais tempo. À minha esquerda tenho o Dr.Rodrigo Moita de Deus que tem como hobby a escrita, a comida preferida é toda, o animal preferido é o escorpião, a música favorita é Carmen, o livro que sugere é o Conde de Monte Cristo, o filme que sugere é Once upon a time in América, e a personagem histórica é Leónidas I.

E tenho à minha direita o Dep.Carlos Coelho que tem como hobby ler, nadar, equitação e BTT, a comida preferida é bacalhau à Narcisa, o animal preferido é o coelho, (vamos lá saber porquê), a música favorita é música clássica, o livro que sugere é Ética para um jovem, do Fernando Savater, o filme que sugere é O Dia depois de Amanhã, e a personagem histórica favorita é o Gandhi.

Iria desde já dar o início à conferência.

Carlos a palavra é sua.
 
Dep. Carlos Coelho
Muito bom dia, o Rodrigo e eu vamos tentar o impossível que é apresentar em poucos minutos um conjunto grande de informação, sendo que depois será distribuído um elemento escrito para vocês poderem recordar, e a nossa comunicação parte de um jogo semântico que está ali afixado no ecrã: falar claro, é importante dado que não há política sem comunicação. É claro que temos que falar para fazer política, política é comunicar, pelo menos no exercício de liberdade que faz parte das democracias, mas também falar claro porque queremos comunicar de forma clara, queremos ser eficazes e queremos que os outros nos compreendam.

Esta apresentação do falar claro está dividida em 4 partes:

1ª - comunicar bem;

2ª - escrever claro;

3ª – os contactos com a comunicação social;

4ª – falar em público de forma clara.

Vamos começar com a primeira parte: comunicar bem. É uma evidência que fazer política é comunicar, e até podemos ser os melhores, no entanto se ninguém o souber isso de nada vale, não tem nenhuma eficácia, uma vez que não nos podemos nunca esquecer que em democracia o povo é quem decide, e portanto temos que comunicar de forma a que quem tem o poder de decisão, o poder soberano tenha toda a informação e saiba distinguir o trigo do joio.

Mas, atenção, comunicar não é só transmitir. Comunicar presume uma interacção, e presume um esforço de percepção daquilo que se está a passar. Comunicar é perceber o que está a acontecer, o que se está a fazer, quais são os anseios e os problemas das pessoas. Podemos dizer que nesta acepção a comunicação significa que nós não estamos a transmitir mas estamos a ouvir.

Porquê?

Há 3 elementos na chamada equação comunicacional básica. Esses três elementos são o emissor, o receptor e aquilo que une o emissor ao receptor que é a mensagem. Só quando esta ligação está estabelecida é que há comunicação. Se a mensagem, não ligar o emissor ao receptor, nós não estamos perante um fenómeno de comunicação.

Isso tem evidências claras, e um exemplo muito eloquente, é imaginarem aqui o poeta mais cativante do mundo, aquele que diz uma poesia e nós choramos porque nos toca ao coração, que tem uma capacidade de manipular as nossas emoções para transmitir a sua arte; só que ele é chinês, e está aqui a dizer um poesia em chinês, e por mais bonita, por mais eloquente, por mais bem construída que seja a poesia, presumo que nenhum de nós nesta sala será capaz de entender aquilo que ele nos quer dizer. Ou seja, porque esta comunicação não foi estabelecida, não foi efectivada uma comunicação entre o emissor e o receptor.

Numa análise mais subtil, isso obriga-nos a preocuparmo-nos com as metáforas, com os estilos, uma vez que a comunicação para ser estabelecida não pressupõe apenas que falemos unicamente a mesma língua, mas que falemos de forma compreensível, e que estejamos sintonizados, que haja uma sintonia de comunicação. Por exemplo, é diferente falar para uma audiência sénior ou falar para uma audiência júnior, é diferente falar para uma audiência de uma grande cidade ou de um pequena aldeia, é diferente falar no norte ou no sul, por estranho que pareça, há termos que são próprios de determinados locais,  no ano passado, eu recordei que uma vez um antigo presidente da JSD numa brincadeira que estivemos a fazer, dado que ele cozinha bem, e na preparação da refeição, ele virou-se para mim e disse “passa-me o testo”, e eu andei à volta do texto a perguntar qual era o texto que ele queria lhe desse no meio da cozinha. Eu não sabia que no norte do país, testo significa a tampa da panela. É um termo que é utilizado numa região do país, noutra não é, logo, tem que se ter cuidado com a utilização de localismos ou com o estabelecimento de metáforas que possam não ser entendidas pela nossa audiência.

Não esquecer como disse há pouco a propósito de perceber o que é que o eleitorado quer, que este tipo de comunicação é interacção, quando é comunicação que se fecha por si própria, ou seja, em que o receptor transforma-se em emissor e o emissor transforma-se em receptor.

Vimos que a mensagem é a parte mais importante da comunicação, porque ela estabelece a ligação. A pessoa mais importante da comunicação é o receptor. Nós queremos que eles nos ouçam, e para isso temos que construir a melhor mensagem.

Como é que construímos essa mensagem?

Há 4 perguntas que se tem que fazer: - o que é que queremos dizer, qual é a substância da informação; a quem queremos dizer uma vez que pelas razões que disse há pouco, é diferente falar para a JSD, ou para o PSD; falar para adversários, falar numa assembleia de freguesia ou numa assembleia da república, falar no parlamento europeu ou na cooperativa agrícola da terra, portanto, quem é o nosso destinatário; que meio utilizamos, é diferente falar na rádio do que falar na televisão, falar através dos jornal ou falar através da net. O meio condiciona a estrutura da mensagem. É o que é que queremos que seja lembrado.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Porque eles falam, falam, falam e não dizem nada. Ou seja, vocês são políticos e quando estão a falar para uma audiência de gente normal, pouco dada a dar atenção aos problemas da nação, vocês têm que ter a noção que eles estão-se nas tintas para vocês. Estão-se nas tintas para vocês e, enquanto estão a ver o telejornal, querem é saber as últimas sobre o caso Mateus e o Gil Vicente e a que horas é que dá a Floribela.

Portanto, a vossa mensagem tem que passar rápido, ser curta e sobretudo ser eficaz. Tempo é dinheiro. Tempo é dinheiro porque realmente o tempo custa dinheiro, e em televisão ou em qualquer outro meio de comunicação com as pessoas, e vocês estão no negócio da comunicação, custa muito, muito, muito dinheiro. Por isso deixo-vos algumas recomendações muito, muito simples:

- Não falem caro, é escusado tentar impressionar os outros. Há muito aquela mania, e vocês vêm isso nos debates parlamentares de se tentar impressionar os deputados, os deputados falam uns para os outros, e depois é normal que as pessoas digam que os políticos não lhes dizem nada a eles. Isto acontece porque ele está a tentar impressionar o deputado do PC, mas o voto do deputado do PC nunca será dele, nunca será vosso. Por isso é escusado vocês estarem a tentar cativar o voto dele, porque com quem vocês têm que falar é com as pessoas. Dou um pequeno exemplo de como falar caro pode muitas vezes afectar a vossa eficácia comunicacional.

Vídeo

Efectivamente hoje poderia ter sido um dia histórico e digo poderia porque foi sonegado um direito de cidadania a cidadãos militares e das forças armadas e isso não passa de demagógico (…)

Ali, o Sargento tentou impressionar, ficou um bocado ofuscado com o barulho das luzes da televisão, tentou impressionar, utilizou o demamamamagógicos, a mensagem não lhe correu bem, e não conseguiu dizer nada a ninguém.

Há uma técnica simples para garantir que vocês sejam lembrados que é utilizar o soundbite, De certeza que já ouviram a expressão, a que tem origem na indústria de cinema. O que é que é um soundbite ? É um excerto de som, em que no momento em que estavam a fazer um filme tinham que escolher o melhor som para aplicar à melhor imagem. Isto é aquilo que acontece hoje em dia quando vocês fazem um telejornal, estou a falar de televisão mas podia estar a falar de rádio, podia estar a falar mesmo dos jornais. Ou seja, eu ouvi um discurso de 5 minutos de um político, mas nunca são 5 minutos como sabemos, são sempre 15, 20, 25, 30, 2 horas, e aquilo que eu faço é escolher, se sou jornalista, a melhor frase do discurso, qual é o problema?  Vocês durante 25 minutos, estiveram a explicar a vossa ideia e ela ficou resumida a uma única frase, que pode não ser obrigatoriamente a vossa mensagem. Como é que nós contrariamos isto? É quando estamos a fazer o discurso, a preparar uma intervenção construímos à partida um soundbite, ou seja, nós sabemos, que temos de saber resumir tudo aquilo que queremos dizer a uma única frase, isto é um soundbite.

Se vocês pensarem um bocadinho vão de certeza lembrar-se no antepenúltimo congresso do PSD, o Dr. Marques Mendes contra o Dr. Luís Filipe Menezes, a grande frase que ficou do congresso qual foi “vou andar por aí do Pedro Santana Lopes”, ou seja, o Congresso todo ficou marcado com uma frase dum senhor que nem sequer era candidato, estava de saída, tinha perdido as eleições, e no entanto ele conseguiu marcar o congresso, e só com uma única frase, passou a mensagem toda a ali.

Mas há mais: “para a Angola e em força”, noção de bite histórico, o “nunca erro e raramente tenho dúvidas”, o “Isch bin ein Bearleener” do Kennedy, que o Kennedy diz em Berlim quando Berlim está cercada pelos soviéticos, que resume toda a política americana, ou seja, se os soviéticos puserem o pé em Berlim estão-me a tentar invadir a mim, portanto eu defenderei Berlim; e o “partido sexy” ou o “país está de tanga”, resume basicamente toda a política económica do dr. Durão Barroso naqueles três anos.

Outro conceito para vocês terem em conta quando comunicarem: buzzwords. O que é que são buzzwords? São aquelas palavras fortes que passam de boca em boca, e que não é obrigatório que todos saibam o seu significado. Vamos ver alguns exemplos:

- tecnologia, é sempre bom pôr a palavra tecnologia num discurso, pois parece que estamos vinte anos à frente;

- infoexclusão, foi um conceito que o eng. Guterres inventou no princípio do seu segundo mandato para explicar que o país ia dar quase um salto tecnológico. Aliás, o próprio conceito choque tecnológico é um pouco uma buzzwords;

- governance, que na prática quer dizer governo ou forma de gestão, desenvolvimento, Thinkthank, accountability que quer dizer, tão simples quanto isto, responsabilização, mas accountability soa melhor, e passa bem num discurso;

- simplex, o famoso simplex.

São quase mecanismo de propaganda, aliás é propaganda pura, publicidade, marketing, mas funciona muito bem, toda a gente conhece o simplex. Não quer dizer que funcione, não quer dizer que tenha fundamento, mas a verdade é que assim a mensagem passa mais facilmente.

Onde comunicar? Há um erro terrível que é normalmente quando os políticos têm sempre o mesmo discurso para todos os meios. Muitas vezes, e vocês próprios já se devem ter apercebido disso, os políticos em campanhas autárquicas estão a fazer um discurso e de repente estão a falar sobre o seu colega de secção. É errado, não é o sítio certo, não é o meio certo, não é a mensagem certa para aquela público. Ou seja, a mensagem tem que depender da audiência, pois nós estamos num negócio de vender mensagens. Temos uma mensagem para vender, e portanto temos que a vender da melhor maneira. Tudo isso depende de quem é que é o target, a quem é que nos estamos a dirigir e que meio vamos utilizar. Se vou escrever uma coisa num blog posso utilizar uma palavra mais acintosa, posso ser mais atrevido; se estou a escrever uma coluna num jornal tenho que ser mais comedido, tenho que ter mais cuidado; se estou a falar na televisão tenho que ser muito mais curto, tenho que conseguir resumir a minha mensagem às ditas 15 palavras ou então ao meu soundbite.

Vários exemplos, de forma sucinta, de como comunicar, depende do tipo de públicos. Se quero comunicar com os meus colegas vou provavelmente ou com os militantes da minha secção, vou utilizar o jornal da secção, ou então vou fazer uma página interna de internet, um blog para os meus militantes. Mas atenção, o blog também é lido pelas outras pessoas, pelo o que tenho que ter cuidado com aquilo que vou lá escrever. Muitas vezes as pessoas não têm de saber de tricas nem têm que comer com as nossas tricas das outras secções. Se vou fazer um texto para a minha página na Internet tenho que utilizar outro tipo de linguagem; se vou fazer uma intervenção na rádio tenho que utilizar outra linguagem ainda.

O mesmo se passa com a imagem. Como gerir a nossa própria imagem? Reparem, a mesma mensagem na minha boca ou na boca do Carlos terá sempre um significado diferente entre vocês, porque vocês têm um preconceito acerca do Carlos, e terão um preconceito em relação de mim. O objectivo do Carlos ao dizer isto foi isto, e o objectivo do Rodrigo ao dizer aquilo foi aquilo.

Quando vocês comunicam têm de ter muito bem a noção que a maneira como a vossa mensagem é percepcionada depende sempre da maneira como as pessoas vos observam.

Como é que poderemos condicionar a forma como as pessoas nos observam? Uma expressão muito simples- sejam sexys. Não é por acaso que está ali o Tony Blair- a Cherry Blair é a mulher mais odiada de Inglaterra; ela não faz política, pelo menos não o faz sempre, mas é a mulher mais odiada de Inglaterra e o Tony Blair ganha constantemente as eleições devido ao eleitorado feminino, porque sabe-se apresentar em público, é sexy, tem uma maneira charmosa de estar, parece que nunca tem culpa de nada, parece que está sempre com boas intenções, e isso resulta, inspira confiança.

Mas há um outro exemplo, ainda melhor, de como a imagem pode afectar a forma como a imagem é percepcionada. Estão a ver aquele senhor ali, sabem quem é? Alguma vez votariam naquele senhor, vocês fazem ideia de quantas eleições é que ele perdeu assim vestido? Alguém vota naquilo? Eu teria medo, ele pode ter a mensagem mais bonita do mundo sobre a igualdade, sobre solidariedade de como vou fazer do país o mais rico do mundo, mas alguém acredita que aquele senhor vai fazer o país mais rico do mundo? Óbvio foi perdendo eleições, até fazer um pequeno lifting. Se repararem para ele agora, de gravatinha, todo composto, e com o pinezinho, parece o Presidente americano, com a barba aparada, cabelinho penteado, a pose de chefe de estado, e assim ganha eleições. Isto sim, eu confio neste homem, ( mais ou menos), em princípio confiaria neste homem.

Gerir a nossa própria imagem. Que brincadeiras é que podemos fazer em relação à nossa imagem? Várias. A mais comum é utilizar uma característica distintiva. Ou seja, fazer com que os outros se lembrem de nós por qualquer coisa em nós.

Alguém imagina o Spínola sem o monóculo, o Spínola é o monóculo, o monóculo é o Spínola, parece um casamento para a vida inteira.

Há um outro caso fantástico, em 1990, aparece um jovem miúdo na televisão que tinha sido eleito líder do CDS sem saber muito bem como, para a sua primeira entrevista  leva aqueles óculos fantásticos de massa, ficou o país todo a rir-se à conta dos óculos de massa, o Vasco Pulido Valente deve-lhe ter dedicado mais crónicas do que ao próprio Santana Lopes, aquilo foi um fartote de rir, os óculos do Manuel Monteiro, os óculos do Manuel Monteiro. E na altura o Manuel Monteiro deve ter pensado em tirar os óculos, mas depois pensou bem, “mas os meus óculos são famosos”, agora é só uma questão de me tornar a mim famoso. E portanto não tira os óculos.

Mas há mais exemplos de óculos famosos, a Alexandra Abreu Loureiro, por exemplo da SIC, toda a gente sabe quem é a Alexandra Abreu Loureiro à conta dos óculos, não é por causa da Alexandra Abreu Loureiro, ou talvez também será, mas é natural que seja.

Uma outra característica distintiva quase com conteúdo ideológico. Se nós na assembleia olharmos para a Assembleia e não soubermos onde é que eles estão sentado, vimos um deputado sem gravata, ele é de que partido? O que é que quer dizer o facto de não ter gravata? É muito simples: eu não sou político. Eu não sou político, eu estou aqui, eu sou do povo basicamente, eu sou um de vocês, tenho uma camisa Ralph Lauren que me custou 20 contos, mas sou de vocês, estou aqui a defender-vos, eu não tenha nada a ver com o sistema, não tenho nada a ver com estes animais. E a mensagem passa. E a verdade é que a mensagem passa, e sempre que vemos alguém sem gravata a ideia que passa é: não faz parte do sistema, mensagem 1, não sou político, não faço parte do sistema, sou incorruptível e estou aqui para vos defender, e sou muito giro.

Vamos falar sobre escrever claro. Falámos ligeiramente de como comunicar, vamos passar à comunicação escrita, propriamente dita. Como é que se escreve em política? Utilizamos mais ou menos as mesmas regras que tínhamos falado há pouco, mas sobretudo pensemos no tipo de texto que vamos fazer. Em política fazem-se muitas vezes três tipos de texto, que são o pão nosso de cada dia: temos convocatórias para conferências de imprensa, comunicados, e press releases.

É completamente diferente até porque os objectivos são completamente diferentes.

Uma convocatória, como podem imaginar, tem que ter a informação mais importante de todas: onde é que é, a que horas é que é, e basicamente do que vamos falar. Sendo que a convocatória hoje em dia tem muito pouca eficácia a chamar jornalistas, ou seja, nenhum jornalista, a não ser que sejamos o José Mourinho, mas ao José Mourinho se calhar basta-lhe espirrar para ter um jornalista lá “Então mas está constipado, e gosta de Portugal é?”, aquela coisa extraordinária.

Os comunicados, servem basicamente para fazermos um statement das nossas posições.

E os press releases servem para vendermos notícias.

Os comunicados e os press releases têm uma lógica e uma estrutura completamente diferente. Num comunicado, e utilizando o exemplo do Carlos Pimenta ontem para vocês perceberem mais ou menos o que dá para fazer com a escrita.

Um comunicado tem uma lógica muito simples: do menos importante para o mais importante, porque é uma declaração oficial, muitas vezes pouco incisiva, com a identificação básica da hora e do local onde é feita a declaração.

Num press release a estrutura é completamente diferente, exactamente ao contrário. O que utilizei quando fiz este press release acerca da prestação ontem do Carlos Pimenta? Fui buscar o sangue; Ele falou ontem do Patrick Monteiro Barros, foram 5 segundos, aquilo que ele disse acerca do Patrick Monteiro de Barros, mas se eu tivesse a tentar vender a conferência dele, ou seja, a querer que os jornais falassem sobre a conferência dele, ia buscar o sangue, ia buscar aqueles 5 segundos, colocava no titulo título “Proposta de Patrick Monteiro de Barros é uma brincadeira”, o sangue, “Carlos Pimenta atira-se a Patrick Monteiro de Barros”, “Patrick Monteiro de Barros é um tonto para Carlos Pimenta”, aquelas coisas. Logo no princípio do texto, logo a seguir ao título do press release, destaco outros três pontos. O que é que eu faço quando o estou a fazer, o que é que estamos a tentar fazer? A obrigar as pessoas a lerem o resto do texto, pois eu tenho mais 1500 ou mais 2000 caracteres para as pessoas lerem, para o jornalista ler, e estou-lhe a dar mais 3 títulos, três hipóteses de título, três pontos fortes na minha mensagem: 1 – Opção nuclear é um, disparate. Logo a palavra forte “disparate”; 2 – voltaria à política activa. Carlos Pimenta volta à política activa; 3 – A falta de coragem dos políticos tem piorado a situação ambiental. E depois o texto, explico no primeiro parágrafo quase tudo o que há para saber acerca da conferência dele, e a seguir vou fundamentando os restantes três pontos, até acabar com aquilo que é menos importante que é o sítio onde decorreu, quantos alunos é que lá estavam, quem é que vai lá a seguir.
 
Dep. Carlos Coelho
Ou seja, se pensarem isto na lógica do ritmo psicológico, é exactamente ao contrário. Se fizer uma declaração à imprensa começo, geralmente, com afirmações mais gerais, por razões que mais a frente farei referência, e deixo o clímax para o fim, porque quero evitar a cena dos jornalistas saírem a meio porque acham que já têm o essencial. Portanto, a minha comunicação vai em crescendo.

Se eu estiver a fazer o press release tenho que fazer exactamente ao contrário pelas razões que o Rodrigo acabou de dizer, tenho que começar pelo que é mais sexy (para utilizar um adjectivo que ele gosta muito), mais excitante, mais interessante logo à cabeça para suscitar, para a atenção dos jornalistas, e vou baixando, vou em decrescendo até ao fim. Esta lógica de escrever jornalisticamente tem uma história simples. Antigamente quando os jornais eram feitos por composição, os directores dos jornais recebiam os takes e se não tinham espaço cortavam aquilo que estava mais abaixo, ou seja, os últimos parágrafos, de forma a encaixar o trabalho do jornalista no espaço que tinha disponível. Ora se o jornalista fizesse bem o seu trabalho, aquilo que era essencial estava salvaguardado porque estava nos primeiros parágrafos. Se construirmos uma notícia em decrescendo, o último parágrafo, press release, tem a informação menos relevante que é aquela que tem o nome dele, exactamente no último parágrafo.

Dr. Rodrigo Moita de Deus

Há uma razão muito simples para o press release parecer quase uma notícia de um jornal. Hoje em dia enviamos tudo, ou quase tudo por formato digital, e aquilo que estamos a dar hipótese ao jornalista é de fazer copy/paste directo. Ou seja, nós estamos a tirar trabalho ao jornalista, coisa que eles não gostar de fazer, portanto até já damos os títulos ou as hipóteses de títulos, se enviarmos em formato digital até já têm lá as fotografias, e é bom que sejamos nós a controlar as fotografias, porque senão não sabemos que maldades é que nos podem fazer. Fundamentalmente a ideia é poupar-lhes trabalho. Tentar tornar a comunicação sexy, apelativa, e fazer todo o trabalhinho deles.

Têm aqui em comparação um outro tipo de comunicação escrita que é exactamente o mesmo texto mas com outra apresentação, da próxima vez que escreverem, cuidado com a formatação; isto é uma página não formatada, e isto é um press release; o  press release é sexy, isto é feio, isto ninguém lê, isto toda a gente lê. É exactamente a mesma quantidade de texto; em que no texto não formatado parece que é uma monstruosidade, no press release parece que está melhor, e mesmo assim tem texto a mais; cuidado com a quantidade de texto, porque as pessoas de facto não tem tempo absolutamente nenhum para ler, lêem basicamente as gordas. Portanto, vocês têm que trabalhar é as gordas.

Escrever claro. Algumas regras muito simples para a escrita:

- seja directo, tal como em qualquer outro tipo de comunicação vossa;

- não utilizem vocabulário que não dominem, se não parece o “demagogogogios”;

- uma linha não deve exceder nunca as 15 palavras, nunca;

- um parágrafo não deve exceder as 5 linhas;

- um  texto não deve exceder os 5 parágrafos.

São regras simples, muito simples, são quase quantitativas e matemáticas, mas a verdade, segundo o exemplo da Margarida Rebelo Pinto, parece que fazem-na vender os livros, e até parece que nós sabemos escrever bem. E tenham atenção à formatação.

No que concerne aos contactos com a comunicação social. Hoje em dia, como sabem, de facto, quem manda é a imprensa, a comunicação social tem um peso enorme, extraordinário. E na vossa carreira de políticos vão lidar com a comunicação social e vão ter sempre problemas com ela.

Alguns cuidados que vos queria dizer. O primeiro, o peso relativo da imprensa escrita. É verdade que os jornais circulam por pouca gente, mas os jornais fazem muita opinião, e os opinion makers fazem depois mais opinião, e isto tem um efeito bola de neve. Por isso é que por exemplo os blogs são tão considerados ou tão sobrevalorizados. Há um efeito extraordinário que é, os jornalistas quando estão na redacção sem nada para fazer, vão ler um blog, tiram de lá uma ideia ou uma opinião, e depois publicam a opinião nos jornais; os editores de televisão estão nas suas redacções, estão a ler os jornais e estão a tirar a ideia do jornal; e, depois, o público está em casa a ver o Futebol, fica com a ideia que tinha passado primeiro num blog.

Há aqui um efeito de cadeia interessante que vocês podem explorar. Ou seja, não é obrigatório controlar os jornalistas estando em cima deles, pois há outras maneiras de os fazer passar a informação, que não seja só enviar um comunicado ou enviar um press release.

Não se esqueçam a imagem gasta-se, e a relação com a comunicação social é muitas vezes uma relação comercial, de troca; Ele quer alguma coisa, que é a notícia, e quer uma notícia gira, não quer publicar que vocês fizeram um jantar com trinta militantes, pois isso não tem interesse nenhum, querem é comunicar que vocês disseram mal do vosso colega do lado, “o meu presidente é um corrupto, fez não sei o quê para a habitação, meteu a mulher..”, portanto, há aqui uma relação de troca, comercial, literalmente.

E, portanto, vocês se lhe pedirem muitos favores ele vai fazendo, depois deixa de os fazer, a relação gasta-se, assim como a vossa própria imagem se aparecer muito, pode não ser obrigatoriamente bom. Vejam o caso do Santana Lopes que é provavelmente dos políticos que mais apareceu, e não é obrigatoriamente bom aparecer muito; têm o caso contrário do Cavaco Silva que durante dez anos esteve a gerir a sua imagem de não aparecer, e correu bem, teve eficácia, e hoje em dia volta a aparecer. E uma imagem pode matar, há imagens que são definitivamente mortais, como veremos mais à frente.

Cuidados para uma conferência de imprensa. Há algumas perguntas que vocês devem fazer-se antes de decidirem passar para a conferência de imprensa:

- A primeira, é se é verdadeiramente necessário, não há nada mais ridículo e banal do que chamar os jornalistas e depois não ter nada para lhes dizer;

- Depois é perguntar se os jornalistas vêm, isto é,  se a matéria que vocês tem para comunicar justifica que os jornalistas apareçam. Não há nada mais frustrante, e eu passei por essa experiência, que é convocar uma conferência de imprensa, e estarmos todos prontos para dizer a nossa mensagem e depois temos a sala vazia, não há um único jornalista que aparece;

- A terceira, é se fizemos uma ontem. Porque se fizemos uma conferência de imprensa ontem é muito provável que os jornalistas não apareçam outra vez;

- Escolher o dia e hora. Atenção sobretudo aos jornais regionais que têm um dia de saída, se o jornal sair na quinta–feira, não vamos fazer a conferência de imprensa na quinta-feira porque essa notícia só vai sair uma semana mais tarde, e corre o risco de uma semana mais tarde já não ter actualidade e já não ser útil;

- Ao enviar a convocatória não convém fazer nem muito tarde nem muito cedo, os 5 dias é um tempo bom, mas independentemente de enviarem com 5 dias, devem tentar na véspera fazer um contacto telefónico para confirmarem a presença do jornalista;

- Atenção ao tamanho da sala, nem demasiado pequena nem demasiado grande;

- Atenção à luz, sobretudo o problema das fotos em contra luz. Nada de pôr, por exemplo, a mesa da conferência de imprensa com uma janela aberta por detrás, isso é fatal;

- E, atenção à decoração da sala. Ou seja, o cenário que têm.

Na conferência de imprensa. Na conferência de imprensa, há muitas vezes a tentação de por uma pessoa ao meio que fala e depois um conjunto de pessoas que estão caladas. Geralmente isso dá má imagem, dá imagem que estão ali umas pessoas a fazer papel decorativo. É bom, é legítimo que sobretudo a comunicação inicial tenha apenas um porta-voz, mas depois nas respostas aos jornalistas possam distribuir o jogo. Isto é, que todos possam dizer alguma coisa, isso tem que ser feito antes, tem que se preparar, se os jornalistas perguntarem isto és tu que respondes, se os jornalistas perguntarem aquilo és tu outro, enfim, dividir o jogo entre as pessoas que estão na mesa.

Depois, não nos podemos esquecer, a despeito de terem jornalistas à vossa frente, não estão a falar para eles apenas, mas estão sim a falar para o público, sendo que jornalistas mediam uma comunicação. Vocês não têm que pensar nas pessoas que têm à vossa frente, mas nas mensagens que querem transmitir para as pessoas que vão ser informadas pelos jornalistas que estão à vossa frente.

Se tiverem medidas polémicas ou impopulares, é melhor justificar, porque se não disserem nada sobre a matéria os jornalistas na fase das perguntas vão seguramente carregar sobre isso. E, portanto têm que ter uma justificação clara, ainda que ela possa não ser muito simpática, mas é melhor enfrentar o boi pelos cornos, como se costuma dizer em bom português.

Depois, devem responder directa, clara e brevemente, quanto mais se fala mais se enterra. A resposta deve ser directa, clara, e breve. Depois deve-se responder sem exasperação, com classe. Às vezes nós percebemos que os jornalistas vêm com perguntas combinadas ou com perguntas orientadas até às vezes pelos nossos adversários, e, apesar de ficarmos irritados, não devemos responder com exasperação, devemos responder com elegância e com classe, isso faz toda a diferença.

Depois nada de respostas evasivas. As respostas evasivas traduzem fragilidades, a pessoa percebe, o jornalista capta que vocês estão com medo ou que estão com receio e que estão com inseguranças. Portanto, como mais à frente irei dizer, mesmo que não se sintam seguros, finjam que estão seguros.
 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Se nós não somos o José Mourinho temos sempre o problema de como tentar aparecer nos jornais, portanto, temos sempre o problema de se tentar chamar a atenção da imprensa. Hoje em dia, como vos disse, é muito complicado fazê-lo através dos press release, através das convocatórias, fazer uma conferência de imprensa, é sempre muito complicado, porque os jornalistas não têm tempo nem estão para nos ouvir.

Então que método é que podemos utilizar para o fazer? Os números. Muito simples, em vez de fazermos a normal convocatória para uma conferência de imprensa, em vez de fazermos a tradicional estratégia de campanha, de mandar os press release e as convocatórias para as conferências de imprensa e as mensagens, fazemos ao contrário, que é pensar em números mediáticos para o fazer.

E há vários conhecidos:

- Há o mergulho de Marcelo Rebelo de Sousa no Tejo;

- Há fundamentalmente o Barco do Aborto, que é também um número mediático;

- E é uma estratégica que o Bloco de Esquerda utiliza bastantes vezes, ou seja, como eu tenho um problema, que é como é que apareço na televisão, tenho que fazer qualquer coisa especial, sendo que fazer qualquer coisa especial é fazer um número, que deve ser quase sempre chocante, ou pelo menos essa é normalmente a estratégia do Bloco.

Mas a verdade é que dá para fazer de outras formas.

Vou-vos recordar só dois exemplos que já vos tinha falado; No caso do Barco do Aborto, havia o problema para a esquerda, (e ponham-se no papel da esquerda), que a questão do aborto estava a morrer outra vez, e portanto, o governo do CDS/PSD estava no poder e como é que fazemos para chamar de novo a atenção da imprensa e do público para a questão? Bem, muito simples, vamos tentar fazer abortos em Portugal. É óbvio que eles não podem deixar e portanto vamos ter o número do Corveta portuguesa, polícia, e caso tivessem deixado entrar as senhoras tinha que intervir e prender as senhoras. Dava metros, e metros, e metros de televisão, resultava muitíssimo bem.

Mas atenção aos números, porque os números, é verdade que servem para aumentar a notoriedade, para lembrar as pessoas que as causas existem, que nós existimos, mas nem sempre são eficazes em termos de imagem.

O José Cid que andava desaparecido durante 20 anos, de repente aparece na capa da Nova Gente, e se é verdade que toda a gente se passou a lembrar que ele existia outra vez, isso não quer dizer que ele vendesse mais discos por causa disso.
 
Dep. Carlos Coelho
Chegamos à última parte da nossa apresentação, que são 15 conselhos para falar em público, 15 conselhos para falar claro.

O primeiro conselho: - é, tenham cuidado com a vossa imagem.

Rodrigo.
 
Dr.Rodrigo Moita de Deus

Como eu vos disse ser sexy é importante, e portanto de barba aparada, com a gravata direita, cuidados como ter uma gravata monocolor, significa que depois aquilo na televisão e nas fotografias sai sempre bem. São cuidados fundamentais para que a mensagem passe transparente e para que as pessoas se sintam espelhadas com a imagem. Mas quando estamos a falar de imagem estamos também a falar de uma outra coisa que é, todos estamos sempre a fazer política, todos somos políticos a 100%, 24 horas por dia. Portanto, cuidado com os deslizes, temos que ter muito cuidado com os deslizes, porque nós nunca sabemos que maldades é que nos podem fazer. E muitas vezes quando estamos, por exemplo numa Universidade de Verão, num convívio com colegas do partido que já são amigos há anos, imaginem o que seria filmarem-nos numa situação como a seguinte.

Filme

(…) na liderança, já em 1996 Jerónimo de Sousa concorreu ao palácio de Belém, mas desistiu a favor de Jorge Sampaio que acabou por derrotar Cavaco Silva, são aliás desta campanha estas imagens.

Imaginem, que estão num jantar do partido e não sei quê, entretanto “tráz ai outra garrafa Ó António, não sei quê, Ó camarada, claro, porreiro, vamos só dar ali um pezinho de dança..”

Eu nem sei como é que ele consegue fazer aquilo, porque ele para um metalúrgico comunista não está nada mau. Que ele bamboleia a coisa à séria. Ou seja, apanharam-no descontraído e fizeram-lhe esta maldade horrível, que é 10 anos depois das imagens terem sido tiradas houve um senhor, um realizador qualquer na RTP que se lembrou “Eh pá, se o Jerónimo vai ser candidato outra vez, tenho aqui um miminho que vocês vão adorar”.

Conclusão, o vídeo dois dias depois já estava a correr a Internet toda, e se é óbvio que o PC não fica sem votos por causa disso, como sabem eles têm uma disciplina, têm uma lealdade que os nossos militantes por vezes não têm, mas, para quem anda nestas andanças: cuidado, cuidado, cuidado. Nunca se sabe quando nos tiram uma fotografia ou que deslize é que podemos cometer, e as pessoas aquilo que menos gostam é de pessoas falsas; não gostam, e portanto temos que ser genuínos sim, mas não tanto.

Segundo conselho: - Não tenham medo do medo. Sejamos claros, a primeira vez que se fala em público tem-se sempre medo, e por vezes a segunda, ou a terceira ou a quarta. A primeira vez que falei em público estava aterrorizado.

Há aliás uma história verdadeira duma grande diva, duma grande artista americana, Sarah Bernardt, que uma vez, já tinha a carreira feita e já era a diva mais conhecida no mundo na altura, antes de entrar no palco, pergunta a uma corista “a menina está nervosa?”, e a corista responde-lhe “Ah Sarah eu nunca estou nervosa quando vou para o palco”, e a Sarah faz um ar compungido e diz-lhe “Há-de vir a estar, minha filha, quando tiver algum talento”.

O medo existe, mas não vale a pena ter medo do medo. E o medo até pode ser útil, porque pode funcionar como algum antídoto. Às vezes as pessoas têm excesso de confiança. A vaidade trai-nos. Nesse sentido algum medo funciona como algum antídoto, e há algumas fórmulas para limitar o medo ou controlar o medo.

Um dos grandes problemas de falarmos em público é como é óbvio o nervosismo, e portanto, é absolutamente natural e quase físico uma pessoa sentir-se nervosa. Quer dizer, só se não tivermos uns nervos quaisquer.

Como é que se controla isso? Normalmente cria-se um escape para o nervosismo. E há vários tipos de escape. Se repararem no telejornal da SIC, o Rodrigo Guedes de Carvalho está sempre a brincar com a caneta, e isso é um escape, se virem o Marcelo, que é o Marcelo, e está a brincar com o relógio, está a olhar para o outro lado, mas vai falando, se eu, por exemplo, estou atrás desta mesa, estou a agitar a minha perna, e isso é uma forma de escape.

Onde é que o nervosismo se nota mais para além da voz, é nas mãos, e portanto, temos que ensinar as mãos, o que é que elas têm que fazer enquanto estivermos a falar, para elas não nos incomodarem.

Temos um pequeno exemplo, que certamente reconhecem, de uma pessoa que é um político experimentadíssimo

Filme

Cavaco Silva, foi primeiro-ministro teve não sei quantos debates, não sei quantos discursos, apareceu em público não sei quantas vezes, mas tem nervosismo como qualquer outra pessoa. E o que é que aconteceu? Aprendeu determinados gestos, põe as mãos a dançarem enquanto fala, sempre com os mesmos movimentos, é uma coisa extraordinária, e nós temos que estar muito atentos para perceber o que é que ele está a fazer. É um escape para o nervosismo. Tão simples quanto isso. Reparem

Filme

E não era aluno da Universidade de Verão.

 
Dep. Carlos Coelho
Terceiro recado, terceiro conselho: não atrair os abutres, ser firme.

O que é que se quer dizer com isto? As moscas são atraídas pelo sangue, e numa Assembleia a maior parte dos adversários são atraídos pela fraqueza. Ou seja, é um pouco aquela lógica que vemos nos documentários do National Geographic Magazine, a gazela mais titubeante é aquela que é atacada pelos leões. Não podemos atrair os abutres que são os nossos adversários. Temos que aparentar mais firmeza do que aquela que se sente.

Uma estratégia importante é olhar a Assembleia, e não ignorá-la, olhar de frente para as pessoas. Um truque que existe é, para aqueles que são mais tímidos e que não conseguem olhar de frente para quem está à nossa frente, é olhar para a pessoa que está na última fila, o mais alto da última fila, pensar um palmo acima da cabeça dele, e olhar para esse ponto imaginário que é um palmo. A assistência excepto talvez a primeira fila, tem a sensação de que eu estou a olhar para eles. Não estamos, estamos sim a olhar para a parede. Se quiser dizer coisas muito interessantes, muito importantes, muito relevantes, mas não conseguir olhar para vocês, não estou a estabelecer comunicação.

Quarto conselho: - Não começar a falar sem definir o objecto e o intuito. Ou seja, não é só o objecto é também o intuito. Eu numa intervenção, num discurso posso querer ser racional (…)

Lado B

(cont.) (…) dar argumentos ou posso querer transportar emoção, portanto, não é apenas aquilo que quero dizer mas o objecto, o que é queremos que a nossa assistência faça, queremos que a assistência perceba “este fulano está a dizer coisas com sentido”, ou quero que a assistência se levante e diga “PSD, PSD, PDS!!”. Qual é o tipo de reacção que queremos da nossa audiência.

Depois os pedidos de esclarecimento. No pedido de esclarecimento posso estar a fazer um pedido de esclarecimento que eu chamaria honesto, em que quero ser esclarecido, ou posso estar a usar o pretexto da figura regimental do pedido de esclarecimento para enervar o adversário, para introduzir ruído na comunicação, para o forçar a falar de outras matérias, para fazer uma rasteirinha.

E mesmo a figura regimental mais limitada, que é a resposta ao pedido de esclarecimento, é muito flexível. Porque é que eu acho que é a figura mais limitada? Porque é a figura em que nós temos que reagir a uma interpelação, fazem-me um pedido de esclarecimento, eu tenho que responder àquele esclarecimento. Com a ajuda do Alexandre Picoto faremos aqui um ensaio, vamos admitir que o Miguel Portas que esteve agora em visita ao Médio Oriente, esteve na Palestina e no Líbano, regressa ao Parlamento Europeu e na próxima semana, sabe que o Dr. Durão Barroso veio a esta Universidade de Verão e decide no Parlamento Europeu acusar o Dr. Durão Barroso de ter vindo a uma acção partidária sendo Presidente da Comissão Europeia.

Nesse sentido, vou fingir que sou o Dr. Durão Barros, e o Alexandre Picoto vai fingir que é o Miguel Portas. Sr. Deputado Miguel Portas:

- Sr. dr. Durão Barroso é verdade que sendo Presidente da Comissão Europeia, participou em Castelo de Vide numa acção partidária?

- Sim sr. deputado Miguel Portas é verdade, fui a Castelo de Vide, a convite do deputado europeu Carlos Coelho, seu colega, dar uma aula sobre a Europa numa Universidade de Verão, divulgar o ideal europeu é uma das funções que os senhores me confiaram.

O que eu, Durão Barroso, fiz? Esclareci a ideia, sublinhei o tema. Vejamos outra situação.

Dr. Miguel Portas:

- Sr. dr. Durão Barroso é verdade que sendo Presidente da Comissão Europeia, participou em Castelo de Vide numa acção partidária?

- Sim é verdade sr. deputado Miguel Portas, fui a Castelo de Vide participar numa Universidade de Verão, e visitar as populações mais afectadas pelos fogos florestais. Creio que o sr. deputado concordará comigo, quanto à necessidade de reforçarmos os meios de apoio, sobretudo aos mais desfavorecidos que viram todos os seus pertences dizimados no furor das chamas.

O que é que eu fiz? Eu lancei uma nova questão. Transferi o enfoque da minha vinda à Universidade de Verão para os fogos florestais, e o caso do deputado Miguel Portas quiser voltar à carga dizendo “mas não esteja a fugir do assunto da Universidade de Verão”, eu “eu, sr. deputado, estou preocupado com os fogos, preocupado com as pessoas que perderam tudo, com a ajuda da Comissão Europeia, o sr. vem-me falar de uma Universidade de Verão, o que é que é mais importante?”. O Miguel Portas já está a perder o pé. Porque lancei uma nova questão, e dirigi o foco da atenção para uma nova questão. Vejamos outro exemplo.

Dep. Miguel Portas:

- Sr. dr. Durão Barroso é mesmo verdade que sendo Presidente da Comissão Europeia, participou em Castelo de Vide numa acção partidária?

Dr. Durão Barroso:

- Sim. Aceitei o convite para ir falar sobre a Europa, saiba o sr. deputado Miguel Portas, que tive muito prazer em debater com jovens portugueses e que acho isso muito mais útil do que as viagens que o sr. fez pagas com verbas deste parlamento, para se encontrar com os amigos terroristas do Hezbollah.

O que é que eu fiz? Eu lancei um ataque. Virei a pergunta contra ele, não tem nada a ver o Hezbollah com a Universidade de Verão, mas apanhei-lhe um ponto e contra-ataquei.

Como vimos até a figura das respostas ao esclarecimento é uma figura com muita plástica, que podem utilizar da melhor maneira, em qualquer figura: intervenção, pedido de esclarecimento, resposta ao esclarecimento, aquilo que quiserem, tendo sempre a preocupação de definir as ideias chave, de ordenar as vossas ideias e os vossos argumentos.

Quinto conselho: - Não ignorar a audiência. Já disse de certa forma isso a propósito da forma como se olha para as pessoas. Não se esqueçam nunca que discursar é comunicar, é falar com, não é falar para. Estou neste momento a falar convosco, não estou a falar para vós. Estou a olhar para vocês a ver se estão atentos, se estão distraídos, se estão a gostar ou se não estão a gostar; se estão a bocejar, se estão a dormir, para perceber até que ponto é que a minha mensagem está a passar.

Assim, discursar é comunicar. Não é falar para, é falar com, este pronome é muito importante.

Sexto conselho: - Não se esqueçam que os outros vêem. Não é verdade que se ouça um discurso, vê-se um discurso, há que representar o discurso, e o discurso não é só raciocínio, não é só cognitivo, é também emoção, há que transmitir argumentos mas também que expressar emoções, e portanto, fala-se com o corpo, fala-se com as mãos como há pouco referia o Rodrigo, fala-se com as expressões; caso eu esteja a dizer uma coisa que inspira felicidade, devo sorrir; se estiver a dizer uma coisa que inspira tristeza, devo ter um ar sério.

Portanto, tem de haver uma correspondência entre a forma como a pessoa fala, como usa o corpo e aquilo que diz.

Mas atenção- não apalhaçar, não esbofetear o adversário, não dar pancadas no microfone, não deitar os copos abaixo ou o computador para o chão, porque isso introduz um ruído na comunicação visual, a pessoa começa a oncertram-se mais na palhaçada e não a ver aquilo que é mais importante. E cuidado com os tiques, sobretudo na imagem vista, ou seja, na rádio isto não é tão importante, embora haja tiques de linguagem, mas na imagem visual, pode ser um discurso numa Assembleia, pode ser a televisão, isso é fatal.

Dois exemplos simples: um de um antigo primeiro ministro que tinha um tique muito conhecido que levava a que quando ele estava na televisão, as pessoas já não estavam atentas àquilo que ele dizia mas estavam atentas ao tique, o eng. Guterres aparecia na televisão e as senhoras todas queriam saber era quando ele ia fazer o gesto de por a melena em ordem. Era o tique do primeiro ministro Guterres.

E há pouco o Rodrigo falou no prof. Marcelo, que quando foi Presidente do PSD deu uma entrevista que na altura foi muito badalada à Margarida Marante e ao Miguel Sousa Tavares, e fez uma brincadeira que ainda hoje estamos para saber se foi deliberada ou não. Acho que ele quis provar que escrevia com as duas mãos, e portanto durante a entrevista ia alternando de mão, provando que escrevia com as duas mãos. Na altura as pessoas estavam fascinadas com o jogo das mãos, olhavam, não estavam atentas àquilo que ele dizia mas estavam a olhar para as mãos dele, e depois a câmara até fez um zoom quando ele fazia bonequinhos, e as pessoas estavam intrigadas para saber que bonequinhos é que ele escrevia ali na entrevista.

Como um tique foi capaz de destruir a eficácia parcial da comunicação, num dos nossos melhores comunicadores, e isso é indiscutível.

Não se esqueçam, um gesto vale mil palavras e a cultura portuguesa recorda-nos isso bem.

Sétimo conselho: - Não falar sem sentir o que se diz. Não esqueçam nunca que é importante sentir aquilo que se diz. É totalmente diferente fazer um discurso monocórdico ou falar com o coração. Usem exemplos da vossa vida, da vossa experiência, ilustrem as vossas intervenções com aquilo que vocês sentiram, com aquilo que vocês experimentaram, com aquilo que vocês vivenciaram, pois isso faz toda a diferença, e dá autenticidade ao discurso.

Oitavo conselho: - Ganhar a simpatia do público. Nós dizemos em Portugal, muitas vezes, que não há uma segunda oportunidade para causar um primeira boa impressão. A primeira vez que uma pessoa fala, no partido, pode não ser muito importante termos o melhor discurso, até porque é a primeira vez, mas é importante ganharmos em simpatia. Com a ajuda do Rodrigo montámos um cenário virtual na Assembleia da República, em que há uma intervenção inicial de alguém que não diz nada em termos de substância, mas deixa um ar simpático, ou seja, abriu uma porta.

Filme

— Sr. Presidente, srs. Deputados, como todos sabem é a primeira vez que tenho a honra de me dirigir a esta Assembleia, eu gostaria de aproveitar a ocasião para cumprimentar todos os partidos sem qualquer tipo de excepção. Gostaria de dizer que todos fomos eleitos legitimamente e que é uma, e que existe uma legitimidade para respeitar, gostaria também de dizer que nem sempre estaremos de acordo mas espero muito honestamente que o debate corra de forma civilizada, tal como a nossa democracia atingiu um grande grau de maturidade.

Muito obrigado.

Se reparem, houve até um tropeção, o que é normal em quem fala na primeira vez, mas a imagem foi simpática. Portanto, a simpatia abre muitas portas. Não se esqueçam disso, na vida e na política. A simpatia abre muitas portas. E quem é de psicologia sabe que no reconhecimento facial, nós reconhecemos mais facilmente uma cara que sorri do que uma cara que não sorri. Dessa forma, a primeira imagem é muito importante. Sejam modestos, sem serem humildes nem simplórios.

Nono conselho: - Não ser chato. Sejam breves e concisos, nunca falem mais de 20 minutos, ao contrário do que está, neste caso, a acontecer. Não falar de mais, cuidado quando se fala sem papel porque se perde o controle do tempo, que é o que nos está a acontecer. Não falar depressa de mais. Certa vez, na Assembleia da República o Presidente da Assembleia chamou a atenção a um deputado nosso que estava a falar, que já tinha pouco tempo, e ele, em vez de cortar, decidiu acelerar; vejam o que seria ler este excerto muito depressa: “nunca se falar do que não se domina, deve-se falar do que se conhece, nunca do que não se domina suficientemente.” Ninguém percebe nada e foi uma figura triste que este deputado fez na Assembleia da República. Recusar o discurso redondo, pois ele tem que ser eficaz. Como o Rodrigo dizia há pouco, nós não queremos ser conhecido por sermos os oradores elegantes, pois não é um concurso de elegância; A comunicação não é um concurso de elegância, a comunicação é um concurso de eficácia, aquilo que interessa é quem é mais eficaz.

Temos aqui um exemplo de um discurso redondo, um discurso literariamente bonito mas pouco eficaz:

- Houve quem decerto sem intenção colocasse em dúvida a legitimidade da nossa posição que aqui quisemos defender, esquecendo—se porventura de que na composição da nossa pirâmide etária demográfica perto de 47% da população se encontrar abaixo da linha de marcador dos 30 anos.

Bem, este é um texto bonito, elegante, bem escrito, mas a malta houve e pergunta o que é que o gajo disse. O que ele disse foi isto:

- E para quem queira colocar em causa a legitimidade da nossa posição, basta recordar uma frase simples que toda a gente entende, que metade da nossa população tem menos de 30 anos.

É muito simples. É muito simples.

Décimo conselho: - Nunca falem do que não se domina. Deve-se falar daquilo que se conhece. O mais difícil de construir na vida, sobretudo na vida política é a credibilidade; É difícil construir e é fácil de perder. Quando uma pessoa fala do que não se domina arrisca-se a fazer um disparate monumental, a fazer um número absurdo e a perder a credibilidade.

Num debate não devemos responder se não sabemos. Prestarmo-nos ao ridículo é a coisa pior. É menos penoso admitir que não se sabe tudo, que não se sabe tanto, afirmar “isso não sei”, do que tentar responder não sabendo e fazer a maior borrada da vida.

Há formas elegantes de responder que não se sabe. Podem não ser as mais eficazes mas são menos puníveis do que fazer barracada. Dizer “bem, nunca tinha visto este problema sobre esse ângulo”, “parece-me interessante, talvez perigoso ou dizer inaplicável, mas gostaria de pensar um pouco melhor antes de me pronunciar”, uma pessoa que dá um ar de sensato “vou pensar”, são argumentos.

Outra forma de fugir com elegância no meio de um debate, imaginem que estão na rádio, “o sr. invocou argumentos novos que merecem reflexão”, “se reagisse de imediato não lhe faria justiça, prefiro valorizar os seus argumentos, pesá-los com outras opiniões, e voltar ao assunto na próxima oportunidade”, quando estou numa Assembleia pode ser uma saída aceitável.

Décimo primeiro conselho: - Nunca decorar um discurso escrito. As linguagens são diferentes e pode haver um bloqueio psicológico. Aconteceu a um dos melhores oradores parlamentares de todos os tempos, Sir Winston Churchill, uma vez nos Comuns, decorou um discurso, levou o discurso decorado e deu borrada. A meio perdeu-se, perdeu um parágrafo. Vocês se querem ler, lêem um discurso escrito, se querem falar sem papel, levam temas, tópicos num cartãozinho para seguir um fio de raciocínio, mas não decorem discurso escrito.

Não leiam discursos feitos por outros, sem terem tido oportunidade de os adaptarem à vossa maneira de ser ou maneira de ler. Porque quando lemos discursos feitos por outros sem os adaptarmos, dá buraco.

Este foi o último, e mais badalado trata-se o discurso de tomada de posse do primeiro-ministro Pedro Santana Lopes.

- Bem sabemos que a imagem do país que mais importa tendo em mente a competição global que vivemos é da qualidade. Mas a questão da segurança depois de tantos acontecimentos.., perdão, a obtenção deste conhecimento..

Isto é trágico, porque ele não adaptou o discurso ao estilo dele. Não façam este erro.

Décimo-segundo: - Nunca descurar as defesas. Devem numa intervenção incluir grandes princípios que todos têm que subscrever, e num discurso substantivo isto garante que seja complicado depois a oposição vir dizer que “Ah, o sr. só diz disparates”, ou “não posso subscrever nada do que o sr. disse”, e há coisa que todos tem que concordar. Dizer, “não há solidariedade sem reduzir as diferenças gritantes entre os cidadãos”, ou dizer que, “não há progresso justo em Portugal sem que ele se faça sentir em todas as regiões do país, ou dizer que, “queremos reduzir as assimetrias de desenvolvimento entre o litoral e o interior, o norte e o sul, a cidade e o campo”, ou alguma daquelas buzzwords que o Rodrigo falou há pouco como informação, a participação dos cidadãos, a qualidade de vida, o ambiente, o bem-estar, a transparência da administração pública.

Num discurso substantivo, tentem meter coisas que será difícil ao adversário não deixar de concordar. E sobretudo se estiverem perante uma Assembleia alargada, há sempre alguém que vai dizer “este fulano até está dizer uma coisa com sentido, eu até concordo com isso que ele está a dizer”, ou seja, cria simpatia e adesão por parte das pessoas que nos ouvem.

Décimo-terceiro conselho: - Ser firme, protegendo-se. Não afirmar peremptoriamente o que não se sabe ou aquilo de que se não tem provas. Há uma expressão importante que é “o parece-nos que”, podemos começar pelo “parece-me que”, “a mim parece-me que esta não é a melhor solução”, o “parece-me que”.

E há outras formas de arredondar a situação, alguns exemplos:

- Imaginem que nós estamos numa Assembleia municipal e há uma boataria na terra sobre casos de corrupção da parte do Presidente da Câmara. Nós não temos provas, não nos podemos submeter a dizer coisas que não podemos provar, e que podemos ser aliás, acusados de difamação, mas podemos dizer “a confirmarem-se..”, reparem “a confirmarem-se os rumores que correm..” estamos já à defesa “a confirmarem-se os rumores que correm, temos de apurar responsabilidades e retirar consequências jurídicas e políticas”. Agora, reparem na força da adjectivação, se em vez de consequências jurídicas e políticas dissemos “temos de retirar consequências política e criminais”, soa mais forte. O adjectivo na comunicação política é muito importante.

Neste caso não disse nada, não pus as minhas mãos na lama, disse apenas, “a confirmarem-se rumores que correm..”.

Outro exemplo: imaginem um deputado municipal a falar de casos de corrupção “estamos preocupados com as informações que circulam ai, que a confirmarem-se..” a confirmarem-se, esta expressão é muito importante, “são prova da mais grave irresponsabilidade e de aproveitamento ilícito de recursos públicos”; mais uma vez eu não estou a dizer nada, não posso ser acusado de nada, mas estou a meter no discurso político aquilo que é a voz da terra. Estou a por em cima da mesa aquilo que toda a gente fala de uma maneira em que eu não posso ser atacado.

Ainda outro exemplo: “Boatos com esta gravidade..” aqui até parece que estamos a ajudar o Presidente da Câmara, “boatos com esta gravidade têm de ser desmentidos, sob pena de minarem a credibilidade de autarcas que até prova em contrário..”, aqui a palavra importante é ate prova em contrário “devem merecer a nossa consideração”.

São formas de nós sermos firmes, fazermos um discurso político ofensivo, mas protegendo a nossa retaguarda.

Décimo-quarto conselho: - Nunca atacar com maldade, dosear a agressividade. Evitem ataques pessoais, mas insinuem com fundamento e com clareza. E representem a indignação. Podemos deixar os outros envergonhados.

Três pequenos exemplos: imaginem que o PC faz ataques pessoais numa Assembleia, e vocês vão explicar ao PC que isto não é próprio deles:

- “Não deixa de ser surpreendente que o PC que tanto sofreu para que pudéssemos hoje ter a nossa liberdade, incorra agora naquilo em que acusou os autores do antigo regime, o ataque pessoal, a calúnia, a difamação, e em certos aspectos a tortura psicológica. A história encarregar-se-á de remeter o PC para a arqueologia, para já agradecíamos apenas que fossem mais correctos”.

Reparem, nós estamos a reagir, a dizer que eles portaram-se mal, e estamos a dizer o pior que se pode dizer a um comunista, que é dizer “os srs. fazem o mesmo que os fascistas”. Tocamos onde eles são mais sensíveis.

O PS gosta muito de ter a ideia que é um partido responsável, um partido do regime, um partido essencial, e é isto que perante ataques nós podemos dizer:

- “E é lamentável que o partido socialista que sempre pautou por uma atitude política correcta, tenha trocado o seu comportamento por uma atitude politiqueira, o PS é demasiado essencial à nossa democracia para que possa agora trocar ideologia pelo teatro”.

Reparem como em 15 segundos se alfineta um adversário.

E o CDS também se portou mal connosco, disse-nos uma série de aleivosias, e o Gonçalo Capitão, como podemos ver, não esteve por ai:

- “É de todo arrepiante ver o CDS, Partido Popular, que sempre se reclamou da doutrina social da igreja, que sempre se reclamou do personalismo humanista, vir agora com esta crueldade, com esta insensatez punir os seus adversários com tamanha injustiça. Dir-se-ia para usar a terminologia que tanto vos apraz que o vosso resultado na política vai ser um inferno”.

Quando nós queremos atacar devemos ser aquilo que eu chamo de “filhos da mãe” educadinhos, isto é, atacar mas não fazer de uma forma suja, até podemos atacar com simpatia.

Dois exemplos simples:

- Vossa excelência é de facto um orador importantíssimo, dir-se-ia que tem um discurso muito agradável, muito discurso light, mas de tão light emagreceu excessivamente o conteúdo e não lhe descortinamos ponta de ideia.

Viram, 10 segundos. Um ataque, o sr. não disse nada, mas em vez de dizer “tu és um badameco que não dizes uma verdade”, há uma forma mais elegante de dizer isto.

- Ó sr. deputado, isso de facto é brilhante, é brilhante, confesso que não tenho metade das suas capacidades como orador, agora aquilo que eu sei é que o embrulho era fantástico, agora de conteúdo zero. Zero.

Aqui está uma forma elegante de dizer que o fulano não disse nada.

Décimo-quinto conselho: Nunca admitir ser inferiorizado pela idade, sexo ou cor. Não é admissível nenhum factor de discriminação. Se houver um factor de discriminação vocês devem pedir a defesa da honra. Não podemos aceitar em circunstância alguma que haja pessoas que de forma aleivosa queiram discriminar alguém por algum destes factores.

Temos dois exemplos em como dois jovens deputados se defendem quando são atacados por serem demasiado jovens, e isto é muito frequente infelizmente no país, em diversos órgãos autárquicos:

- “Deixe-me dizer-lhe que posso ser mais novo que o senhor, mas estou aqui com a mesma legitimidade, os votos que me elegeram são tão bons ou melhores do que os seus. E não admito que me discrimine em função da idade, porque nesse caso seria obrigado a dizer-lhe que V. Exa. Já prescreveu”.

Esta, enfim, um bocadinho ofensiva mas em defesa da honra, pois ele estava um bocado picado. Esta é mais elegante:

- “Óh, sr. deputado, espero que não esteja a insinuar que pelo simples facto de ser mais novo que o sr. tenho menos razão. Espero que o seu argumento não se resuma a isso, porque se resume a isso é um pouco fraco”.

Estamos a demonstrar à evidência que ele não pode fazer esse argumento.

Na primeira Universidade de Verão quando eu disse isto houve um colega vosso que me disse: “Ah, está bem, mas isso, e num cenário extremo.” Vamos admitir três factores de discriminação, imaginando que há uma Assembleia de fulanos machistas, racistas e velhos, que ouvem a intervenção de uma jovem mulher negra, sendo ela é jovem, numa Assembleia de racistas, velhos e machistas. Como é que ela se defende? Neste exercício, estamos a imaginar uma rapariga nova, um pouco tímida, frágil, que foi atacada, foi vilipendiada, foi discriminada, e ela pede a palavra para a defesa da honra e na minha opinião ela devia, virar-se para o agressor e dizer: “Vejo-o nervoso, agressivo e precipitado, não sei o que o perturba mais (esta ideia do perturba põe-o logo à defesa, se o gajo é machista a ideia que está perturbado..) se o facto de ser jovem, de se mulher ou de ser preta? Qualquer dos receios (portanto, o gajo é maricas) só por si já o deveria embaraçar, concentre-se no que eu aqui afirmei e na razão que em assiste, tudo o mais é preconceito que o deveria envergonhar”.

Esta seria a reacção desejável numa situação dessas.

O que podem contrapor, e com razão, é que numa situação destas, nós estamos realmente a ferver e isso dá-nos a última mensagem: é muito importante manter o sangue frio.

O sangue frio valoriza a reacção e impede o disparate. Nós quando reagimos de cabeça quente temos geralmente a tendência para fazer o disparate.

O Rodrigo deixará uma última reflexão e conselho.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
E um último conselho que é exactamente este, tenham sempre a última palavra. E deixo-vos com um pequeno exemplo extraordinário, o de uma personalidade intimidatória que vocês conheceram, ou assim aparentava que era intimidatória, muito mais enquanto Presidente da Assembleia da República. Foi o dr. João Bosco Mota Amaral, quando chamou a atenção ao deputado Carvalhas por um excesso de linguagem, que vamos ouvir de seguida. Imaginem bem, no debate parlamentar e estamos a falar da guerra do Iraque:

Dr. Carlos Carvalhas: - “Vem aqui dizer-nos esta coisa espantosa: é que as informações do Bush, as informações do sr. Blair, essa avestruz, e as informações do ditador Saddam, nós, nós..”

Dr. Mota Amaral: - “.. comparar um chefe dum governo dum pais amigo aliado de Portugal com um animal qualquer que ele seja. Mesmo que de uma forma certamente metafórica.”

Dr. Carlos Carvalhas– “O sr. Presidente não gostou da figura de retórica, mas creia que eu não quis ofender o animal.”

- Muito bem.

Nunca, nunca, nunca se calem.

Com isto concluo. Vamos às perguntas.
 
Dep. Carlos Coelho
Vamos então dar início às questões, começando pelo grupo Verde, que é representado pela Carla Bernardes.
 
Carla Bernardes
Bom dia a todos. Desde já, em nome do Grupo Verde, quero agradecer os úteis conselhos prestados pelo Dr. Moita de Deus e pelo Dr. Carlos Coelho. Tendo em conta que a população se mostra cansada com os habituais discursos políticos, quais são os novos mecanismos que podem vir a revolucionar a forma de discurso, por forma a cativar a população por um todo.

Obrigada.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Quando falava em mecanismo, falava em mecanismos ou meios. Não percebi a pergunta.
 
Carla Bernardes
Meios e mecanismos.
 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
A Internet é um deles porque altera de facto o discurso. Se vocês repararem há cada vez mais politica que se vai fazendo em blogs e em sites, mas fundamentalmente em blogs, porque permite uma coisa que noutros meios não é possível, que é a discussão de ideias. Hoje em dia, quer dizer, antigamente eram famosas as polémicas em jornais, mas hoje em dia não é possível fazer isso, porque o custo financeiro de ter um jornal e de ter uma televisão ou de se ter uma rádio, é de tal maneira elevado que de facto não dá para ter discussões de ideias, temos que nos limitar ao soundbite. E nesse sentido, a Internet é um meio a ter em conta, especialmente os blogs porque são uma ferramenta demolidora, provavelmente o meio mais importante a ter em conta.
 
Marta Rocha
Antes de mais bom dia a todos, em nome do grupo roxo desejo um bom dia de trabalho a todos. A nossa questão não tem a ver tanto com o tema “falar claro”, mas antes com o silêncio e a problemática do silêncio. Na questão da gestão do silêncio numa campanha eleitoral, e dentro das classes dirigentes; Falo por mim, e pelo meu grupo, acho que era preferível que o eng. Guterres se tivesse mantido em silêncio a termos de ouvi-lo fazer contas de cabeça em voz alta. Queria saber até que ponto é que é claro que deve haver silêncio?
 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Eu lembro-me da última campanha um outro momento que devia ter sido de silêncio, não sei se viram aquelas imagens extraordinárias do dr. Soares a comentar umas declarações do Ribeiro e Castro que era Presidente do CDS mas não era Presidente do PP, mas que por sua vez era socialista, europeu e era apoiante do prof. Cavaco Silva.

Às vezes pode acontecer, uma campanha eleitoral, e alguns de vocês já fizeram de certeza, é algo de cansativo, muito cansativa. Estamos ali pior que na Universidade de Verão, porque são três, quatro semanas onde nós não sabemos onde é que dormimos a seguir, em que dormimos duas três horas, e desse modo o cansaço acumula-se. Mas há de facto, e nisso você tem muita razão, a fobia de saber se o microfone está ligado tenho que falar. “Caramba, eles apontaram para mim fizeram uma pergunta tenho que responder”. E o Carlos chamou a atenção aqui na exposição que fez. De facto, às vezes, há momentos em que temos que parar, pensar, e depois responder ou então preferir lamentar, “lamento imenso”. Olhe, prefiro não comentar essa questão a esta hora”.

E eu deixo-vos um exemplo extraordinário: a certa altura, no princípio da campanha das presidenciais, ligam em directo da TSF, para o Manuel Alegre para ele comentar uma questão importante de certeza para o país. Como estavam em directo fizeram essa maldade, “o sr. está em directo para a TSF, sr. dr. desculpe lá, como é que comenta, não sei o quê”. E ele ira-se e diz o seguinte: “olhe, estou a ver o Benfica, importa-se de não me maçar”. A verdade é que ele ganhou logo ali 10 ou 20% dos votos, porque é o tipo de reposta que cativa, porque tem simpatia. Estou a ver o Benfica, agora não, falamos depois mais tarde.

Como se vê, há sempre uma maneira de fugir à pergunta, e sobretudo sim, é verdade, às vezes é melhor ficarmos calados a dizermos aquilo que não devemos.
 
Pedro Pereira
Em nome do Grupo Azul, desejava um bom dia à mesa, que com tanta animação nos trouxe este tema tão interessante.

O nosso grupo desejava saber o impacto dos novos jornais diários gratuitos que tanto influenciam, quer a própria imprensa, quer a sociedade em geral?
 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Eu tenho algumas dúvidas se os jornais têm influência, ou seja ainda não foi testado fazermos política com os jornais.

Posso explicar: há uma razão simples para Portugal ter semanários, aliás, somos dos poucos países da Europa que temos semanários. Porquê? Porque é uma maneira barata, é um jornal barato, só sai uma vez por semana, enquanto num diário, imaginem, a sua redacção é 5 vezes o tamanho dum semanário, e tem que se pagar papel todos os dias, e por isso é que temos semanários. Os semanários eram uma maneira barata de fazer política. E se vocês repararem em qualquer semanário: o Independente, o Semanário, e inevitavelmente o Expresso, fazem política, aquilo é intriga, para a frente, para trás, não têm notícias.

Nos jornais diários é diferente, já têm algumas notícias. Vão tendo cada vez mais política, e quando falo de política, falo não das notícias politicas mas de tudo aquilo que anda à volta da política. É tal e qual como o Record ou como a Bola.

O futebol em si são 90 minutos. Tudo o resto é política é o jogador que vai, é o jogador que não vai, etc, etc.. Uma vez que eles têm que fazer 5 jornais por dia.

No caso dos jornais gratuitos, para responder à sua pergunta, tenho algumas dúvidas que sirvam para fazer política. Porquê? Porque como são gratuitos, é um meio que acaba no chão pisado, e nesse sentido tenho algumas dúvidas que os políticos queiram lá fazer política, queiram lá dar a sua bicada no outro, queiram lá fazer a intriga, a denúncia, etc.. Os meios muito curtos dos jornais diários gratuitos tornam difícil acompanhar os assuntos, ou seja, eu para fazer política preciso ter um bom jornalista de política, que vá para o “Snob” às duas manhã fazer intriga, que saiba mexer-se nos corredores da assembleia, que saiba a quem ligar, e isso custa muito dinheiro. Para os jornais gratuitos a ideia é dar dinheiro e não gastar dinheiro. Desse modo, tenho algumas dúvidas que resultem.
 
Dep. Carlos Coelho
Concordo com a observação do Rodrigo, mas acho que em política nós não podemos descurar nenhum meio de comunicação.

O jornal gratuito tem estas características que o Rodrigo disse, ou seja, é um jornal que é mais populista, que é mais popularucho, que está mais distante do discurso político, mas em vários países da Europa, que ainda não é o caso de Portugal, (por exemplo o caso do Reino Unido), está a obter faixas muito significativas do público urbano. Em Londres, neste momento perto de 30%, ou seja quase 1 em cada 3 britânicos recebe as informações através de um jornal gratuito.

Ora, se essa evolução acontecer em Portugal nós não podemos ficar de lado desse movimento, e vamos ter que ver como é que, sem nos descaracterizarmos, sem descer a um estilo que não é do nosso partido ou da mensagem que queremos passar, se somos capazes de não ignorar esse meio de comunicação, porque nós queremos falar com as pessoas.
 
Vânia Jesus
Muito bom dia, a questão do grupo cinzento prende-se na relação comunicação social com a classe política, e a nossa questão era a seguinte: como é que um político gere a sua acção política para o mediatismo, isto porque a acção dos media é descrita como aquela onde tudo é permitido, desde antecipar a notícia, ter fontes privilegiadas nos media. Ganhar espaços maiores, ou adaptar a mensagem e escolher o órgão de comunicação social que melhor difundirá a mensagem que nos interessa passar, ou seja, no fundo marcar a agenda política, poderão ser estes alguns dos ingredientes para uma comunicação de sucesso por parte dos políticos, e como é que se pode perspectivar resoluções em situações mais delicadas, dada a necessidade do espectáculo conviver com o poder político, com a política e a vida em sociedade?
 
Dep. Carlos Coelho
Vânia, a pergunta é muito interessante, mas não tem uma resposta única. Depende do estilo. O estilo do dr. João Bosco Mota Amaral, que esteve na abertura e foi agora recordado, é totalmente diferente do estilo do dr. Alberto João Jardim, para falar de duas pessoas. Uma que foi e outra que é presidente do governo regional. E portanto a relação entre o político e a comunicação social, também vai do estilo. Amigos meus criticam-me porque acham que eu sou demasiado discreto, porque não me ponho de bicos de pés quando vem a câmara de televisão, porque não jogo com a comunicação social. Reconheço que isso é verdade, mas é o meu estilo, portanto, não vou atrás dos jornalistas, não acho que seja bom ir atrás dos jornalistas.

Aquilo que disse tem toda a razão. Por exemplo, um dos truques que se usa na política é negociar exclusivos. Se eu tenho a notícia que o Daniel Fangueiro vai falar esta manhã na Universidade de Verão, e tenho duas frases que ele me disse que vai dizer, e se eu fizer um take para todos os órgãos de comunicação, isto vai ter um quadradinho a dizer: Daniel Fangueiro na Universidade de Verão vai dizer “não sei o quê”. Ora, se este “não sei o quê” for suficientemente picante, e se eu disser a um jornal “olhe, só vocês é que vão dizer isto”, o jornal pode dar um título maior ou até, se for razão para isso, a primeira página. Qual é o problema? Todos os outros jornalistas vão ficar chateados comigo, pois vendi um exclusivo a um jornal, teve impacto, posso ser primeira página. Todos os outros jornalistas vão olhar para mim “ãh, ãh, com que então sr. deputado, agora estamos a ser amigo mais de uns jornalistas do que dos outros”, bem como dizem “o meu director virou-se para mim e disse, então, como é que só os outros é que sabem?

Temos que ter cuidado com esses truques, e temos que perceber a linguagem da comunicação. Tenho tido muita projecção mediática no parlamento Europeu, com a presidência da Comissão de Investigação sobre a CIA, e os seus alegados actos na Europa. A primeira coisa que digo a todos os jornalistas é: que tenho a consciência tranquila, sem falsas modéstias, de ter feito já 5 ou 6 coisas bem mais importantes para o país e para a Europa do que isto, mas que apareceu zero na comunicação social, porque não tinha o picante, não cheirava a serviços secretos, a CIA, a aviões, a prisioneiros, a tortura, a sangue. Não cheirava a sangue.

E nós temos que perceber isso, eles têm a suas lógicas, sabem o que é que vai vender.

Neste sentido, na lógica do político eu diria: nós temos que ser coerentes, pois se eu for mais exuberante, posso ter uma relação com a comunicação social mais exuberante, as pessoas percebem que é o estilo dele. O que eu não devo é travestir-me, não devo travestir a minha imagem, não devo ser de uma forma enquanto pessoa e outra enquanto agente político, e ainda outra pessoa quando falo com os media, porque isso cheira a falso.

E se tivermos uma postura de coerência, na minha opinião conseguimos passar. Pode demorar algum tempo a vender, mas acho que acaba por compensar.
 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Acho que o Carlos respondeu e disse quase tudo. Há uma maneira mais fácil, que deve ser isso que quer saber, que é: “ok, muito bem, então eu passo a ser fonte”. Naquela lógica comercial que estávamos a falar “está porreiro, então de vez em quando fazes-me uns favores, e eu em troca sou fonte”. Isso tem um pequeno problema. Agora não custa nada, se nós tivermos umas noticias picantes vamos dando, ele vai publicando, e quando nós fazemos os ditos jantares com os militantes ele lá publica um quadradinho, faz-nos o “frete” de pôr a notícia. Só que depois tem um problema: um dia a secretária de estado, imagine, telefona e quer saber coisas, quer que continue a ser fonte, mas você é secretária de estado. O que é que você vai fazer? Vai passar informação do seu gabinete? Não. Vai passar a informação do seu vizinho, mas precisa de lhe continuar a dar, porque durante vinte anos falaram ao telefone, contou-lhe praticamente tudo, e dessa forma o que tem que continuar a fazer é continuar a ser fonte. E isto é dramático, porque é assim que os políticos perdem muitas vezes credibilidade.

E depois não se esqueça que os jornalistas são uma espécie perigosa, é há um mito extraordinário que há jornalistas isentos. Eu vou dar alguns exemplos de famosos jornalistas portugueses: Paulo Portas, exemplo de isenção; José Saramago, foi director do Diário de Noticias; Alberto João Jardim, foi director, é dos nossos; Marcelo Rebelo de Sousa, foi director do Semanário e do Expresso.

E para vos falar dum outro, Benito Mussolini, foi director dum jornal.

Portanto, os jornalistas, especialmente aqueles que fazem política, eu digo muitas vezes na brincadeira, querem ser sempre aquilo sobre o qual escrevem. Os jornalistas de desporto gostavam de ter jogado à bola, os jornalistas de política gostavam de ser políticos.

Portanto, cuidado, se a partir de um dado momento, se estabelece essa relação, sim senhor é fácil, pois há-de acabar por dar uma entrevista fantástica de duas páginas, no entanto, a partir do momento em que você cai ou vacila, depois ele tem que a matar. E será ele a fazer.
 
Francisco Barbosa
Bom dia, antes de mais queria agradecer os conselhos que nos foram dados por ambos os oradores, e a questão do Grupo Castanho é a seguinte: dando continuidade à questão lançada pelo Grupo Cinzento sobre o mediatismo, gostaríamos de saber, se antes de conquistar o público, temos que conquistar a comunicação social.
 
Dr.Rodrigo Moita de Deus

Bem, como dissemos já, há muitas estratégias diferentes para atingir o mesmo fim. Mas hoje em dia sim, seja de uma maneira ou de outra, seja com uma estratégia de aparecer mais vezes ou aparecer menos vezes, nós temos obrigatoriamente de conquistar... – conquistar é uma má expressão porque nós nunca vamos conquistar nada. Reparem, não há político mais odiado pelos jornalistas portugueses que o Paulo Portas, e foi um deles. Portanto imaginem o que é que eles não fazem àqueles que não são deles. É aquilo que eu estava a tentar dizer, eles matam, matam. Assim que nós perdemos poder ou força, eles matam. Portanto, se é preciso conquistar primeiro a comunicação social, não sei se é primeiro ou é depois, mas nós só seremos hoje em dia neste mundo ou, - isto é horrível estar a dizer – mas nós só seremos importantes se de facto sairmos no jornal. E por vezes tem muito mais importância uma noticiazinha, um cantinho num jornal, do que propriamente um jantar bem sucedido ou um trabalho bem feito à frente de uma câmara municipal. Mas as coisas podem vir com o tempo. Há muitos casos de políticos que não tendo conquistado a comunicação social ou tendo tido relações difíceis com a comunicação social, acabaram por conquistá-la. Como por exemplo o caso do Prof. Cavaco Silva, é um exemplo notável. Se vocês reparassem nos debates, aquele homem foi muito odiado pelos jornalistas, dez anos depois, dez anos – levou dez anos mas chegou lá – Vocês tinham nos debates o entrevistador a falar do Mário e a falar do Senhor Professor ao lado, e o Mário tinha sido Presidente da República... Portanto, ele tinha ganho, por causa da distância. É aquilo que o Carlos estava dizer, por causa da distância, e mesmo do não querer aparecer, tinha ganho uma credibilidade que o Mário, que provavelmente lhe atendia o telefone ao jornalista às duas da manhã, não tinha.

 
Dep. Carlos Coelho
Eu percebi a pergunta na lógica do grande público. Mas os conceitos que nós tentámos passar-vos, com aquilo que sabemos, de mal ou de bom, com experiência ou sem ela, não é só para o grande público. Portanto, se vocês falarem para uma assembleia de secção da JSD no PSD, vão conquistar essas pessoas pelo vosso contacto com elas não é através da comunicação social. A vossa primeira intervenção numa assembleia de freguesia, numa assembleia municipal, é essa gente que vocês têm de conquistar, sem ser através da comunicação social, numa acção recreativa. Portanto há meios em que a nossa, a vossa, comunicação não é mediada pela comunicação social. Aí não se coloca a questão de saber quem é que vocês devem conquistar primeiro; se são os jornalistas, se é o vosso destinatário. Não pensem na vossa função política apenas na ideia de que vão falar a dez milhões de portugueses, ou a trezentos milhões de europeus. Não é isso, há outros estratos. E, em qualquer circunstância, é muito importante o contacto com as pessoas. Eu hoje falo em muitos zonas através da comunicação social, mas tenho que zelar pelo contacto cm as pessoas. Algumas organizações não governamentais, quer americanas que europeias, com quem eu falei, que tinham uma imagem pela comunicação social, corrigiram essa imagem com o contacto pessoal, e isso é muito importante. 

 
Adilson Moreno Brito Zego
Bom dia. O grupo amarelo felicita os oradores por esta aula clara. E a nossa questão é a seguinte: - Até que ponto acham que o excesso de zelo no cuidado e no tratamento da informação, a posição um pouco cuidada e a maneira preconcebida de estar e falar, não tornam a política um pouco plástica, monótona e pouco apelativa e, assim sendo, o que fazer para não cair um pouco no risco de fazer-nos passar por outrem ?

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Tem toda a razão, a política é o .... eles falam, falam, falam e não dizem nada. E os políticos são muito plásticos, a expressão é exactamente essa. São de facto muito plásticos. A melhor maneira de o combatermos, é despentearmo-nos um bocadinho, não é ... é ficarmos um bocadinho mais despenteados, no sentido de sermos naturais. Temos de ser mais naturais, temos de ser nós próprios. Temos que ser naturais. Ou seja, a imagem que nós passamos, tem de ser aquilo que mais ou menos corresponde à realidade. Nunca será exactamente, porque nós estamos a trabalhar. Isto parece que, eu estou a falar disto como se fosse assim uma coisa de teatro, que não o sendo, é o um bocadinho. Portanto, temos de nos despentear, temos de ser naturais.
 
Dep. Carlos Coelho
Esta coisa de despenteado foi uma provocação, como vocês perceberam. O Rodrigo não perde uma oportunidade para me dar uma bicada. Eu acho que o Adilson tem razão. Muitas vezes os políticos são de plástico porque querem parecer aquilo que não são. Eu ia de volta àquilo que vos dizia há pouco, haver uma coerência entre aquilo que a pessoa é, a imagem que quer transmitir, e a forma como o transmite. Nós dizemos muitas vezes que no centro é que está a virtude. Eu acho que aqui também há que encontrar o equilíbrio. Ter em atenção aquilo que o Rodrigo dizia sobre a imagem. Eu posso gostar de andar de t-shirt ou de camisola de alças, eu não faço uma conferência de imprensa enquanto deputado de camisola de alças. Porque as pessoas acham mal, não me levam a sério. Agora, se eu não gosto de gravata e nunca ando de gravata, pôr uma gravata de propósito só para, dá ideia de um menino empinocado, também soa mal. Portanto há que encontrar o equilíbrio; nem o político de plástico nem o político desleixado, são os dois extremos que temos de...
 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Deixe-me só acrescentar que ainda por cima nota-se quando um político ou quando alguém usa gravata e não costuma usar. Nota-se logo no nó, e portanto sai melhor se de facto nós usarmos o que usamos todos os dias. Portanto o ser natural, lá está, é fazer exactamente isto, é tentar que a nossa imagem, a imagem que passa de nós enquanto políticos corresponda o mais possível à nossa imagem verdadeira, ou àquilo que nós realmente somos. Até porque mais tarde ou mais cedo nós vamos ser apanhados.
 
António Ribeiro de Matos
Bom dia. Em primeiro lugar queria agradecer os ensinamentos que hoje nos transmitiram, e também de uma forma muito especial aos nossos dois oradores desta manhã por estarem envolvidos na organização desta universidade de verão. O que nós gostaríamos de saber é: tendo em conta que o marketing político está a sofrer alterações nomeadamente nos debates, nas rentrées, na preocupação com a imagem dos candidatos; o que nós gostaríamos de saber é quão profundas, e em que influência se baseiam essas mudanças. Muito obrigado.
 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Eu há bocado tinha falado dos blogs, mas hoje em dia quando fazemos uma campanha de facto, estamos cada vez mais preocupados; o espaço dos Media tradicionais está cada vez mais esgotado. Como os jornais têm que vender, a primeira opção é o caso Mateus e só depois é que vêm os problemas do país. Portanto políticos, políticos, políticos, nos jornais há dois ou três. Cada vez mais para fazermos uma campanha, e até por causa das limitações cada vez maiores da própria lei, de anunciarem, imaginem em outdoors, os custos da campanha, nós temos de descobrir novos meios para fazer passar a mensagem. E novos meios mais ou menos subversivos. Eu não sei se vocês sabem, por exemplo, que a maior parte das indústrias das grandes editoras americanas, as lábeis de discos, têm pessoas pagas em chats, para vender discos. Isto é uma coisa extraordinária, mas há empresas cujo negócio é  “eu faço publicidade em chats”. Só que não fazem publicidade do género “comprem o disco tal que é muito bom”. Não, não. Fazem uma coisa pior que é  “Tu já ouviste aquele disco do, é pá como é que aquilo se chama, o... aquele... mas aquele é “muita giro”. E de repente estão, puxam a conversa dos discos, e vocês vêem num chat uma vez, vêem noutro outra vez, recebem um e-mail de um amigo a falar sobre o assunto, ou com uma imagem qualquer e de repente, pumba! Temos um fenómeno! Outro exemplo: o gato fedorento, que todos vocês conhecem. Algum de vocês sabe onde é que o gato fedorento começou? Em nome de blog! Era um blog. Sabem que eles tinham tão pouco dinheiro para fazer a produção e para fazer a própria promoção do programa enquanto estavam na SIC RADICAL, que começaram a mandar vídeos aos amigos pela Internet. Bem, agora vocês diriam, mas o que é que isto tem a ver com uma campanha? Vocês não estão a ver bem o poder de comunicação disto. É que eu consigo tornar qualquer coisinha pequenina num fenómeno, desde que apanhe a onda certa. Não é?

É. Portanto, nós temos de estar cada vez mais atentos a fazer a campanha, primeiro porque os recursos são cada vez menores, os meios tradicionais estão esgotados, e portanto temos de descobrir estas novas formas de o fazer. A Internet, lá está, pela capacidade que tem de convencer o próximo, é a melhor forma.

 
Ryan Ferreira
Bom dia a todos. Como é do conhecimento geral, as iniciativas da J raramente têm cobertura mediática. O que o grupo laranja gostaria de saber era qual deveria ser o papel a desempenhar pela J, de modo a alterar essa situação, isto é, criar condições de credibilidade e de visibilidade nos meios de comunicação, nos media. Muito obrigado
 
Dep. Carlos Coelho
Eu acho que há duas respostas diferentes. A primeira é uma inevitabilidade, a outra é algo que vocês podem fazer. A inevitabilidade é que os jornalistas querem sangue. Se o Daniel Fangueiro aqui de Castelo de Vide amanhã, fizer uma declaração à imprensa, a falar na unidade do PSD, na força da JSD, na qualidade desta universidade de Verão, na excelência dos quadros que aqui estão, provavelmente não vai ser citado em nenhum órgão de comunicação social. Se convocar os jornalistas para dizer que o Dr. Luís Marques Mendes é um cobarde, que não sabe falar, que é um líder que é um traste e que deve ser amanhã substituído em congresso extraordinário, aparece em metade do jornal. Bem. E isto é uma coisa que vocês - eu dei aqui exemplos extremados como é evidente - mas se extremarem menos, vocês vão perceber enquanto quadros políticos que sob o ponto de vista ético, sob o ponto de vista ético vocês estão sob pressão. Porque muitas vezes têm a consciência que se forçarem a dizer uma coisa que se calhar até não acreditam muito, mas que vão ter projecção mediática, podem ser tentados a dizer coisas que são injustas ou ataques que não são, para terem visibilidade mediática. E esta é a inevitabilidade: a J será tanto mais ouvida quanto mais loiça partir dentro. Só que eu acho que é uma má forma de obter projecção mediática. A outra é tentar criar factos. Ou seja: esta universidade de Verão, em que eu me orgulho de colaborar, é uma organização com a J. Isto é impossível fazer sem a participação da JSD, do Daniel, da Zita, do Pedro Rodrigues, do Secretário Geral, do Rodrigo Saraiva e de muitos outros quadros da J que estão envolvidos nesta universidade, do Duarte, do Paulo, dos vossos conselheiros, são quase todos quadros da J. Isto não era possível fazer sem a JSD. Portanto esta universidade tem projecção mediática. E tem projecção mediática por tudo: pelas personalidades que trazemos; por vocês que aqui estão, porque foram escolhidos e são bons; pela forma como estamos organizados e como trabalhamos; pela circunstância de estarmos todos aqui às dez da manhã e começarmos as coisas a horas e de fazermos a diferença e de darmos o exemplo. Tudo isto ajuda a fazer desta universidade de Verão um produto que se vende no mercado mediático. Bem eu acho que a JSD tem que reinventar as causas. A JSD tem de falar em cada freguesia. Eu às vezes vejo nos jornais a JSD a marcar a imprensa: a denunciar problemas de poluição, ou a incompetência da autarquia, ou o mau funcionamento ente a junta de freguesia e a câmara municipal, por aí fora. Quer dizer, têm que ser vocês em cada plano, seja no plano nacional, seja no plano distrital, seja no plano concelhio, seja no plano da freguesia, a ver o que é que a J tem de fazer para ganhar o mercado mediático, ou seja têm que ter iniciativa. Não podem estar à espera que os jornalistas venham ter convosco. Porque se os jornalistas forem ter convosco, vão ter convosco pelas piores razões. Têm de ser vocês a encontrar pretextos para puxar os jornalistas para vocês. Agora, dir-me-ão: Ah, isso dá trabalho. Pois dá. Uma conferência de imprensa custa a organizar. Mas mais do que uma conferência de imprensa, custa a organizar aquilo que vocês têm de apresentar numa conferência de imprensa. Às vezes, vocês têm dois minutos de glória numa rádio local, para vender uma coisa que vos demorou três meses a construir. Mas a vida é assim. Lançaram um grande programa relativamente a uma taxa municipal ou relativamente a um ataque ambiental, estiveram três meses a trabalhar e tiveram dois minutos de glória. Mas em dois minutos passaram a vossa mensagem. Isto não se faz sem trabalho. As coisas não caem do céu, são um resultado do nosso esforço. Alguém, não sei se foi o Einstein, acho que foi o Einstein, um dos maiores cientistas do século passado, que disse que a criação científica era 90% de transpiração e 10% de inspiração. Bem, se o Einstein diz isto, para nós, que não somos geniais como o Einstein, tem de ser 99% de transpiração e 1% de inspiração. Portanto preparem-se para transpirar, o suor aqui é essencial.
 
Isabel Costa Belo
Bom dia. Em nome do grupo bege gostaria de colocar a seguinte questão: Até que ponto as estruturas da JSD devem condicionar a sua agenda política à comunicação social?
 
Dep. Carlos Coelho
Eu acho que em absoluto, nada. Eu por acaso devia ter posto isso na apresentação. Eu a pedido da JSD participei na universidade de Verão da EDS, na European Democrat Students, e fiz uma coisa mais aligeirada do que esta, uma coisa mais curta, sobre comunicação. E falava nisso. Então a imagem que aparecia, era num aeroporto, numa pista, aqueles carros do follow me. E depois aparecia um guia turístico num campo, numa montanha, com uma t-shirt – aliás um guia turístico bem nutrido, gordinho, que fazia assim dois de mim e do Rodrigo juntos, se fosse de mim e do Daniel já teria de ser só um e meio -, e com uma t-shirt em que se dizia atrás follow me, para a malta seguir o guia, e depois aparecia um jornalista a brincar com uma coisa a dizer follow me. E o recado era “Don’t follow the reporter!”. Não sigam o jornalista. Nós não temos de ir atrás da comunicação social. Temos é que levar jornalista às nossas causas. Agora, evidentemente, como dizia há bocado o Rodrigo, se me apresentarem um microfone, eu posso ter que pensar. Eu vou falar ou não vou falar? Eu às vezes tenho dito que não, que não falo. Eu tive um incidente com o governo espanhol, e a TVE queria-me entrevistar, e eu naquele dia estava à espera de uma resposta do Ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol, não queria criar um incidente com o governo espanhol antes de ter a resposta formal e disse: – não falo. E a TVE queria-me pôr no horário nobre, no tal jornal principal, numa entrevista. Na lógica do trabalho que eu estava a fazer no Parlamento Europeu era importante mas, eu achei que era mais importante sob ponto de vista institucional esperar a resposta oficial pelo governo espanhol e disse ao jornalista: – lamento, hoje não. Se quiser, amanhã. E ele disse: - amanhã já é tarde. E eu disse: - olhe, paciência. O seu tempo não coincide com o meu. E ela telefonou para Madrid e disse: - Este cretino de um português careca não quer falar para a TVE no horário nobre. Às vezes nós temos de dizer que não. Outras vezes podemos ter que transigir para ter tempo de antena. Agora isto, não há um conselho, eu não vos posso dizer quando é que vocês têm de dizer que não, quando é que podem dizer que sim ou quando é que estão na corda bamba. É em face das circunstâncias, é em face daquilo que... se o jornalista quiser que vocês se prestem a um papel ridículo, acho que vocês devem dizer que não. Se vocês se arriscam a perder credibilidade acho que devem dizer que não. Se vocês correm o risco de se enterrarem, devem dizer que não. Mas isso têm que gerir em cada caso.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Nunca. Nunca, nunca ir atrás da agenda. Até por uma razão, que é a lógica. Vou-vos dar um exemplo: o caso Gil Vicente, caso Mateus. Você sabe a opinião do Estoril Praia sobre o assunto? Sabe ?

Isabel Costa Belo : - Não.

Rodrigo Moita de Deus: - Pois, então você sabe a opinião de quem criou o facto, de quem é notícia. Portanto se você reage à agenda, política ou seja do que for, você nunca vai aparecer ou aparece lá no fundo, numas linhazinhas : “ E a propósito deste assunto tão importante, o PSD disse que...” duas linhas, está feito. Portanto, como é que você inverte isto? Mas nós não precisamos de ir atrás da agenda, nós temos é que a criar. E isso é o exemplo – eu parece que sou militante deles mas não sou – do bloco de esquerda: eles criam os factos. Eles fazem a festa, atiram os foguetes, apanham as canas! Aquilo é uma festa! Reagem às suas próprias notícias, não é? O barco do aborto chega. Então e o que é que pensa o Francisco Louçã? “ – Bem, eu não posso dizer que fui eu que o trouxe, mas queria reagir assim”. Criou um facto, reagiu, fez uma festarola e esteve quinze dias a falar sobre um assunto que foi ele que pôs na agenda! Isto, para apanhar uma coisa que o Carlos disse: as causas morreram, temos que as fazer renascer porque elas morreram, as ideologias muito mais. Ninguém está interessado hoje em dia em debates ideológicos. São importantes, não deixam de ser importantes na política, mas ninguém está interessado nisso. Portanto como é que uma pessoa se vende a si própria ou vende o seu partido? Já houve uma altura em que vocês devem ter sentido essa dificuldade com o trabalho, por causa dos valores e dos astros, dos planetas, e de se distinguirem do próprio PS, não é? De se distinguirem do próprio PS. Vocês descobriram alguma coisa que não estivesse no programa do PS? Aquilo é muito complicado, ele é um bom, um óptimo social democrata, aquele Sócrates, quase que passa por social democrata. Já foi aliás ou ainda é pelos vistos, não se percebe. Portanto quando as ideologias morreram, o que é que você vende de facto, como é que você marca a agenda? Com propostas, com bandeiras, com pequeninas basewords do género: Simplex, grande bandeira, boa, ponho o país todo a falar sobre o Simplex. Uma pequena bandeira. Ou como é que ele ganha as eleições? Com o choque tecnológico. Você não sabe qual era a ideologia dele, ele não esteve para falar sobre o assunto. Vendeu foi uma ideia. Teve uma ideia: choque tecnológico. Já antes, o Durão Barroso tinha feito exactamente a mesma coisa com o choque fiscal. Não falou sobre a ideologia, porque não dá, não passa. Portanto, uma ideia, uma proposta, uma bandeira. O que é que estes senhores vão fazer quando lá chegarem? Choque fiscal. O que é que os outros vão fazer? Choque tecnológico. E é assim que você marca a agenda.

 
José Pedro Salgado
Muito bom dia. Em nome do grupo encarnado gostava primeiro do que tudo de agradecer ao deputado Carlos Coelho e ao Dr. Rodrigo Moita de Deus por nos virem cá falar deste assunto, sendo muito útil. E queria fazer uma pergunta sobre uma coisa que foi ali falada, nomeadamente a ideia de termos uma característica que seja facilmente identificável, que nos ajude a sobressair. E o perigo disso ter um efeito de alguma maneira perverso. Houve ali o exemplo do Manuel Monteiro e por acaso no Observatório de Imprensa vinha agora aqui a dizer que neste momento o Manuel Monteiro está reduzido a ser recebido pela porteira, quando vai ao CDS/PP entregar uma proposta. De que maneira é que esta imagem não é confundida, ou pondo isto de outra maneira, de que maneira é que nós conseguimos distinguir a ideia de ser ridículo, roçarmos o ridículo, a sermos coloridos? E realmente conseguirmos ter uma imagem que não nos venha eventualmente a atraiçoar pelas costas? Muito obrigado.
 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Olhe para começar a resposta, e acho que você tem muita razão naquilo que disse, mas há uma coisa que não nos podemos esquecer: a verdade é que você falou sobre o Manuel Monteiro. Pois é... Você sabe, imagina há quanto tempo é que ele não é Presidente do CDS? Você sabe quanto é que ele teve nas eleições, uns 300 votos lá no Porto? Mas você falou dele, em Castelo de Vide. Você tem que idade? 25, 26? Não é? Por amor de Deus, o homem acabou já, o homem acabou há 10 anos. Você falou-me dele. Resultou a história dos óculos, aquilo correu bem. É verdade que sim. Mas isso é a decadência já completa. Eu lembro-me, ridículo, ridículo, foi ver o Freitas do Amaral antes das eleições legislativas a dar entrevistas em jeans, quer dizer, a dizer aquelas coisas todas pró-iraquianas, e a dizer depois finalmente que apoiava o Eng.º José Sócrates, para ser ministro. Mas isso é quando a decadência já é tal, que enfim, damos entrevistas nus para a Nova Gente não é, para garantir que ainda aparecemos um bocadinho. Você vai aparecer, vai sempre conseguir, mas de facto já sem jeito e talento para vender discos.

- Vou dar a ordem às questões que queiram efectuar. Queria que se inscrevessem e vou apontando os nomes. Claúdio Almeida, Luís Sampaio...

- Eu ia propor o seguinte, para nós pouparmos tempo. Íamos tentar fazer respostas muito rápidas, para dar o maior número possível. Se o Paulo não se importasse de recolher os nomes, e passá-los aqui ao Daniel, para nós não perdermos este tempo todo, e passávamos já para, ponham o vosso nome e o vosso grupo para o Daniel poder misturar, e O Daniel já tem 5 inscrições e começamos com essas. Muito bem.

 
Cláudio Almeida
Antes de mais muito bom dia a todos os presentes, ao deputado Carlos Coelho, ao Rodrigo. A minha questão se calhar coloca-se mais directamente para a zona onde eu vivo, que é nos Açores. Um dos grandes problemas na nossa comunicação social a nível dos Açores – agora neste momento já não tanto, porque se calhar o Governo Regional dos Açores, o partido socialista já está um pouco mais gasto, mas aqui há 2, 3 anos atrás, a imprensa regional, todos os dias e ainda hoje se vê isso, nas primeiras páginas dos jornais era “O governo regional apoia a habitação, o governo regional faz isto, o governo regional dá subsídios, o governo regional vai buscar fundos europeus, enquanto que o PSD não tem uma voz forte na comunicação social. Tem, aparece lá de vez em quando, mas não é aquela força. É quase como se o governo regional controlasse a comunicação social nos Açores, à excepção se calhar de um ou outro jornal que está mais conectado com o PSD. Por exemplo, actualmente, há cerca de um ano, um ano e meio, foi fundado um jornal novo nos açores que é o Jornal dos Açores, o qual é subsidiado quase 50% pelo governo regional, através de uma empresa. Como é que isso se justifica, e como é que o PSD ou a JSD poderá combater isso, ou como é que se consegue acabar com esse domínio do governo pela parte da comunicação social?  Obrigado.

 
Dep. Carlos Coelho
Oh Cláudio vocês estão numa situação muito difícil, eu tenho poucos conselhos para vocês porque estão num meio muito fechado, muito pequeno, em que o governo regional tem uma capacidade tentacular, de influência tentacular sobre a comunicação social. Vocês têm um líder fora de série, o Dr. Carlos Costa Neves. Eu privei com ele em Bruxelas, foi um indivíduo que se destacou, foi o primeiro relator geral do orçamento da União de um país pequeno, é um indivíduo sereno, muito bom, com muita qualidade, e que está a ser prejudicado no exercício do seu mandato porque a comunicação social faz caixinha à volta do governo, porque o governo controla financeiramente a comunicação social. Muitos de vós, que vêm de municípios em que os órgãos de comunicação social local estão nas mãos do poder municipal sabem que isso sucede, em ambientes fechados isso sucede com muita frequência. Bem, temos que lutar contra isso. Quero dizer, vocês têm de encontrar fórmulas de furar. Quais são essas fórmulas? É explicar aos jornalistas no contacto que eles estão a soldo. Ninguém gosta que seja evidente, mesmo quem é comprado não gosta que seja evidente que está a ser comprado. Portanto uma pessoa pode fazer um sorriso irónico e dizer: - Ah, você não publicou a nossa notícia porque não lhe deixaram, não é ? Portanto há formas não ofensivas mas que incomodam, bem, e há relações pessoais. O Deputado Duarte Freitas tem um conjunto de amigos até à esquerda, à esquerda do PS, que lhe dão muita visibilidade mediática e ele está a fazer passar muito bem o seu mandato de deputado europeu, graças sobretudo a contactos pessoais. Portanto vocês têm que pressionar, tem que pressionar os jornalistas, têm que estar em cima, têm que ter iniciativa, fazer acções, mesmo se vêm poucos jornalistas ou se dão pouca.... não desistir, não desistir, lutar, lutar, lutar. E isso há-de acabar por dar bom resultado.
 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Deixem-me só acrescentar que eu acho, há, para vossa informação, há dois órgãos de comunicação social em Portugal que dão dinheiro: que é o Record, dá muito dinheiro, e o Correio da Manhã. Tudo o resto dá muito prejuízo. E estamos a falar de prejuízo de muito dinheiro. São muitos milhões. E como é que eles se mantêm? Hoje em dia a comunicação social vive das receitas de publicidade. E o Estado é o maior anunciante. Eu estou a dar-vos a realidade macro. O Estado é o maior anunciante indirectamente, directamente como é óbvio, e indirectamente se vocês pensarem que o maior anunciante empresarial em Portugal será talvez a Galp. Bem, quem é que é o administrador da Galp? É um bocado chato também estar a fazer, não vamos chatear os senhores não é?  É Galps, EDPs, tudo aquilo que sejam empresas que estejam no universo público ou que tenham administradores que sejam do universo público, é normal, se aquilo vale dinheiro, que depois a comunicação social se acalme. Depois, no caso regional é pior, e eu já trabalhei e fui director de um jornal regional, pois aí é terrível, porque metade dos anúncios são das câmaras municipais, e se a câmara municipal é nossa ou não, depende do jornal.
 
Luís Sampaio
Bom dia. A questão que eu queria colocar era a seguinte: Nos caso em que formos alvos por exemplo de difamações, através dos jornais regionais ou nacionais, ou da Internet, onde nos levantam as mais diversas calúnias, nós que se calhar passámos uma vida inteira a criar a credibilidade, a trabalharmos, e depois há um político ou um jornalista cretino, que oportunistamente, lança uma notícia para um jornal e nos destrói a credibilidade. Como é que nesses casos devemos reagir? Devemos fazer comunicados de imprensa, convocar conferências de imprensa, colocá-lo em tribunal ou simplesmente se forem questões de ordem pessoal as devemos ignorar, portanto se é homossexual se não é, se anda com esta pessoa ou se anda com aquela, se as devemos ignorar, portanto como é que devemos reagir?  Obrigado.

 
Dep. Carlos Coelho
Eu vou tentar ser muito breve. Eu lembro-me de um exemplo extraordinário na altura da campanha em Aveiro. Os cabeças de lista eram estes: Pacheco Pereira, Paulo Portas e Carlos Candal. E o Carlos Candal é aquele bruto extraordinário que diz as piadas indenominadas e fez um manifesto contra o lobby homossexual. E como é que o Portas reage? Estou solidário com o Dr. Pacheco Pereira, que é uma coisa fabulosa. Que disse: - não não, isto, aquilo não deve ter sido para mim portanto calculo que tenha sido para o Dr. Pacheco Pereira. O que é fabuloso. Mas isto é uma pequena historieta para irmos ao cerne da questão. Hoje em dia de facto é muito fácil manchar a reputação de alguém. A verdade é que os tribunais não funcionam, portanto, o nós processarmos o jornalista é um proforma, mas é muito difícil reagir de facto, eu acho que depende muito dos casos. Hoje em dia, e depende do meio, porque há meios que se calhar nem lhe interessa responder. Se for atacado no meu blog, você vai-me responder? Para quê, vai-me dar essa importância? Claro que não, você vai passar ao lado. Você não se esqueça de uma coisa, que é a maior parte das pessoas não lê as mesmas coisas que você lê. Ninguém lê jornais. Só lêem os políticos e os amigos dos políticos, é, é muita gente e faz depois muita opinião. Mas é só isso. Portanto não reaja exageradamente.

- Eu vou só ler os nomes que aqui tenho, só para confirmar se toda a gente que pretendia efectuar a questão se tinha inscrito. Não, vou ler só os que tenho. Quem quiser se inscrever novamente fala com o Paulo Colaço que é mais simples. A seguir tenho o Bruno Jivãn, o Tomás Ribeiro, a Rita Pedro, o Silvério Regalado, a Lisete Rodrigues, o Luís Sardinha, o Frederico Carvalho, a Marta Rocha, a Sandra Pimentel, o André Magalhães, e a Mercês. Quem faltar, que fale com o Paulo Colaço. A seguir é o Bruno Jivãn.
 
Bruno Jivan
Muito bom dia. Atendendo à viragem que se verifica na forma de comunicar do PSD (curiosamente hoje até no Jornal O Diabo, no fundo a forma escolhida para a rentrée do partido, através da universidade de Verão, penso que isto, e em detrimento das tradicionais festas que se verificavam nos outros anos). Gostaria de obter um balanço da experiência do Dr. Carlos Coelho em termos das edições anteriores e um benchmark em termos internacionais, se é este o movimento que se tem verificado ou não. Obrigado.
 
Dep. Carlos Coelho
Paulo, não há jornalistas na sala pois não? Ah, ok, bem. Ok. Vamos ser muito claros. A universidade de Verão, bem isto é uma conversa entre nós, a universidade de Verão foi um equívoco no primeiro ano, porque estava prevista numa outra lógica, não vale a pena agora entrar em pormenores. Havia um grande plano de formação com várias coisas e, à última da hora o Presidente do partido, que era na altura o Dr. Durão Barroso, decidiu aproveitar a ideia para começar a fazer a transição das rentrées, E, portanto, foi aproveitado. Mas a universidade de Verão em si inseriu-se num plano de formação que tinha mais valências e que espero que agora, com o Dr. Marques Mendes, possam ocorrer. Ou seja, a universidade de Verão não é um facto pendurado, não é um acontecimento, e dou já resposta a algumas sugestões que estão, que me foram enviadas já nesta universidade de Verão relativamente a isso. Portanto a universidade de Verão não é um caso único. Vão haver outras iniciativas. Mas, quando foi lançada no primeiro ano, em 2003, foi com o objectivo político de preparar a transição da rentrée, pelas razões que o Bruno disse. Lá fora, as rentrées dos partidos do sistema, dos partidos que disputam o poder, são em universidades de Verão. Reparem, qual é a imagem que nós queremos do líder? Se nós estivermos no governo é Primeiro-ministro, se nós estivermos na oposição é candidato a Primeiro-ministro. No discurso da rentrée, é de um indivíduo que faz um discurso sério sobre os problemas nacionais, inserido num esforço de análise rigorosa daquilo que são os nossos dramas enquanto povo? Ou é um indivíduo aos pulos, numa festa popular, num palco, com canções pimba por trás, o perfume a sardinha assada? Já passou essa fase. No tratamento ao benchmarking, lá fora, todos os líderes, no discurso da rentrée passam por universidades de Verão. Em 2003, o Dr. Durão Barroso ainda não estava completamente convencido, e fez as duas, fez a festa popular e fez a universidade de Verão. E eu fiquei estarrecido, passado um mês, quando fizemos duas avaliações. A avaliação financeira e a avaliação mediática. A festa popular deu um minuto de televisão, não me recordo se foram 50 e tal segundos se foi 1 minuto e pouco. Portanto, a projecção foi no dia da festa popular. A universidade de Verão foi praticamente notícia todos os dias. Querem saber qual é que foi a mais cara? É mais caro fazer uma festa popularucha, do que pagar uma universidade como esta que traz 100 jovens quadros de todo o país e até, o nosso amigo deputado municipal de Cabo Verde, no quadro que vocês conhecem e que estão a viver. Desculpem-me, sob o ponto de vista da relevância mediática, sob o ponto de vista do investimento financeiro, de longe, de longe, investir na formação de jovens quadros, de longe, o Presidente do partido valorizar este momento para fazer o discurso da rentrée, ainda que sofra ataques insidiosos dentro do partido pela escolha que fez. Seguinte.                   

- Tomás Ribeiro.
 
Tomás Ribeiro
Bom, em primeiro lugar, e tendo em conta que é a primeira vez que intervenho na universidade de Verão, eu vou-me apresentar, sou o inválido da equipa castanha. Provavelmente já me viram a caminhar de muleta pelos corredores, bom, sou eu. Mas finda a apresentação, gostaria de me dirigir aos oradores, e gostaria de reiterar o agradecimento pela interessante exposição e perguntar-lhes, aliás pedir-lhes um comentário sobre uma realidade que me parece relativamente óbvia. Parece-me que os políticos, pelo menos em Portugal, e presumo que no resto da Europa assim se passe, têm duas maneiras de lidarem com a comunicação social. Uns, e daria o exemplo de Mário Soares, dão uma grande atenção à comunicação social, convidam os jornalistas para jantar, portanto, recolhem, tentam recolher dividendos dessa mesma situação, recolhendo simpatias e apoios da comunicação social. Por outro lado, e citando exemplos como por exemplo Cavaco Silva e até Alberto João Jardim, recolhem animosidades na comunicação social e mesmo assim recolhem um significativo apoio popular. E a minha pergunta é: Será que eles recolhem um significativo apoio popular  apesar de serem odiados pela comunicação social, ou também por serem odiados pela comunicação social?

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Eu acho que depende, é uma questão, há muito a questão de moda. Por exemplo, o Rui Rio, esteve cá na última universidade de Verão, é odiado pela comunicação social, não é? Mas aquilo de facto fica-lhe bem, todas aquelas atitudes que ele teve, são, ficam muito bem, portanto a mensagem passa para o público, mais que não seja porque os jornalistas dizem “Grande parvo, não sei quê, tirou, não deu dinheiro ao Futebol Clube do Porto este ano, etc., etc.”. No caso do Prof. Cavaco é diferente. O caso do Prof. Cavaco é diferente porque os jornalistas que hoje em dia fazem jornais e os têm, e isto é uma coisa importante, não são os mesmo, que faziam há 10 anos. Há 10 anos estava lá o Portas a ser jornalista, não é? Portanto com o Portas jornalista não dava para o Cavaco ganhar eleições, é complicado. Não estou a dizer que haja uma correlação directa, perdoem-me a minha especulação. Mas agora, hoje em dia, ele tem lá um miúdo, há um miúdo qualquer na redacção que acha que o Prof. Cavaco é assim tipo Deus na terra, assim uma pessoa muito distante, não é? Nunca, nunca, o máximo contacto que teve com o Prof. Cavaco foi atirar pedras em algumas manifestações de estudantes, não é? Portanto agora tem a oportunidade, - meu Deus, vou escrever sobre o homem, portanto faz imensa distância. No caso de Alberto João Jardim não é propriamente verdade que a comunicação social não goste dele. A comunicação da Madeira gosta muito dele. E há bocado quem me estava a fazer a pergunta dos jornais, respondia-me, - mas não sei quê, mas os jornais nos Açores não nos dão importância, não sei quê... algum que é mais conectado connosco, nós temos os nossos eles têm os deles. Portanto, também, se é verdade que os jornalistas não são isentos, há uns mais socialistas, há outros mais sociais-democratas, há uns mais nossos amigos, há outros menos.
 
Rita Pedro
Face à globalização, o mix de culturas, é uma realidade dos nossos dias. Muitas vezes já nos interrogámos: como é que se diz isto em português? E eu queria saber o que é que pensam sobre a introdução de estrangeirismos no nosso vocabulário. 

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Eu escrevo, portanto sou um pouco suspeito e sou ainda mais suspeito porque leio um angolano ou leio um moçambicano e acho que ele escreve muito melhor português do que qualquer outro português. Porque as línguas, as línguas paradas, as línguas que não assimilam nada é que são línguas mortas, não é? Se eu quiser inventar hoje uma palavra em latim, não dá. Não dá, morreu, a língua, não é falada. E portanto o uso corrente traz à língua coisas novas. Agora vamos falar sobre política. Há bocado acho que foste tu que falaste em benchmarketing, como a baseword, fantástica. Cuidado com o público. Se uma pessoa chega à festa do Pombal e diz, – olhe estive a fazer um benchmarketing, e de facto nós somos o melhor partido deste país. Fica toda a gente parada a olhar. O que é que é benchmarketing? Portanto adeqúem a linguagem ao público, não se esqueçam que nem todos leram ou sabem as mesmas coisas que nós. Mas em tese? Fantástico. Acho que é fantástico, sexy, que eu farto-me de utilizar, a palavra sexy, não é? É uma expressão óptima, tem sinónimos em português, sensual, etc., mas eles conseguiram conceptualizar a palavra, já é um conceito, portanto nós passamos a utilizar, acho óptimo.

 
Silvério Regalado
Antes de mais, muito bom dia. A minha pergunta é simples e tem a ver com uma questão que já foi de certa forma aflorada mas eu gostaria de aprofundar mais. Tem a ver com a ética na política, abordada pelo  Rodrigo há pouco (mas que eu gostaria de ver mais aprofundada e se calha) talvez deixar como sugestão dentro deste quadro do falar claro, a possibilidade de se juntar também tema da ética na política. E a minha pergunta é esta embora seja um bocadinho abstracta, qual será a barreira que existe entre a relação pessoal que um político estabelece com um jornalista e a promiscuidade que pode ser estabelecida entre eles os dois? Isto é, falando claro, é mesmo assim.
 
Dep. Carlos Coelho
Bem, nós não vamos ter tempo para falar de ética. De facto é uma boa ideia, é um bom conselho. Eu acho que há coisas limite, por exemplo, eu acho que mentir é incorrecto, acho que é eticamente incorrecto, embora nós na vida tenhamos que usar pequenas mentirinhas piedosas para evitar males maiores; mas acho que omitir a verdade, portanto não a falar, já é legítimo. Mesmo na vida política há circunstâncias em que se pede a um político não apenas que omita a verdade, mas que minta. Um exemplo clássico é um ministro das finanças entrevistado na véspera de uma desvalorização de moeda. Vamos supor que ainda temos a moeda nacional, que o ministro das finanças vai à televisão, que está planeado no Conselho de Ministros no dia seguinte decidir uma desvalorização da moeda e o jornalista pergunta-lhe: - Sr. ministro, no curto prazo, está a pensar fazer alguma desvalorização da moeda? Ele, em defesa do dinheiro do contribuinte, não apenas tem de desmentir, como tem que desmentir com convicção, dizer: - O quê? Desvalorizar a moeda nos próximos 12 meses? Nem pensar, que disparate, que absurdo. Já está tudo pensado para ser no dia seguinte mas ele, porque senão há uma fuga aos capitais com prejuízo do país. O domínio da ética é um domínio complicado, mas isso levava-nos a uma conversa interminável.O que é que acontece quando nós somos amigos do jornalista? Bem, muitas vezes tiramos partido disso. E eu também tirei partido disso. Agora, há um limite. Esse limite tem de ser encontrado caso a caso. É um limite entre um padre amigo e um devoto, é um limite da amizade entre um professor e um aluno, são sempre... pode haver relações de amizade, relações de confiança mas há momentos em que cada um tem que perceber que cada um está a fazer o seu papel, em que o jornalista está a fazer o seu papel e em que o político está a fazer o seu papel.       
 
Lisete Rodrigues
Bom dia. Antes de vos facultar a pergunta, tenho que dizer que achei muita piada à vossa intervenção e que passei a maior parte do tempo a rir, não a gozar, porque durante algum tempo fui jornalista, e penso que não me ofendi porque hoje eu estou do outro lado e ainda digo mais nomes e ainda atribuo mais adjectivos péssimos aos jornalistas e à classe, do que aqueles que enumeraram. E a pergunta é simples. Eu gostaria de perguntar se o primeiro erro estratégico de alguns políticos não será precisamente a falta de coragem de, em casa, sozinhos de preferência, olharam para o espelho, e serem capaz de admitir que – eu não tenho perfil para ser o número um, mas serei um excelente número dois. Obrigado.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Que delícia de pergunta. Porque um dos problemas do sistema político hoje em dia, é que nós hoje estamos mais preocupados com o cargo que está a seguir do que propriamente em desempenhar as nossas funções, não é? Portanto uma pessoa é eleita, devia ser vereador da câmara e já está a pensar – Eh, pá, mas aquela cadeirinha a seguir é que é. E pelo caminho esquece-se que tem que ser vereador, que é uma coisa que dava jeito. E portanto passa mais tempo a fazer política do que propriamente a fazer a gestão autárquica. Isso acontece imenso nos partidos. Mas os partidos são uma espécie de legião romana, não é, não pode ficar parada muito tempo no mesmo sítio, tem que estar sempre em andamento porque senão aquilo dá asneira. Porque as pessoas, quer dizer, uma máquina de guerra constante que precisa de ser alimentada e distraída, para andar ocupada. Portanto a pergunta é uma delícia, mas eu não sei se alguém terá alguma vez coragem de assumir que as suas capacidades não vão... há uma frase extraordinária de um senhor que trabalhava nas selecções do Readers Digest, e quando quis despedir um funcionário e o quis explicar delicadamente, disse o seguinte: - Sabe, eu acho que o seu potencial não é totalmente aproveitado nestas funções. E portanto, o exercício de sabermos reconhecer o nosso próprio potencial é muito complicado, portanto não sei se há muita gente assim.      
 
Luís Sardinha
Boa tarde. A minha questão prende-se com a gestão da informação. E tendo em conta as últimas eleições legislativas em Espanha, gostaria de saber até que ponto é que a manipulação da informação pode ou não trabalhar em prol de um partido. Obrigado.
 
Dep. Carlos Coelho
O caso da Espanha é um caso interessante. Não sei se vocês se recordam. Estávamos a 3 dias das eleições, a 4 dias das eleições, e o partido popular tinha ganho as eleições. ... o 11 de Março, e o Partido Popular, o governo de Aznar, mente aos espanhóis. Diz que quem meteu a bomba foi a ETA, quando tinham sido terroristas islâmicos. E portanto, aquilo que fez perder as eleições foi a gestão da informação. Foi a gestão da informação. É talvez dos casos mais evidentes, ou o único caso flagrante em como uma gestão desastrada da informação faz perder. Porquê? Porque a oposição em 24, em 48 horas recompôs-se, e passou a dizer – mentirosos! Mentirosos, mentirosos, mentirosos! E quando a lei espanhola já não permitia campanha eleitoral, por SMS, que é uma nova forma de fazer política, por SMS, convocaram-se manifestações surpresa em toda a Espanha, que encheram as ruas de milhares de pessoas, em frente à sede do PP, em frente ao governo espanhol, em frente à casa do Aznar, a dizer: - mentirosos, mentirosos! Com as televisões a cobrir isso. Isso foi fatal. Portanto é um exemplo claro, de como primeiro a gestão errada da informação transforma uma vitória num derrota, num país de 40 milhões de habitantes, não é uma junta de freguesia, e como as novas tecnologias de informação são mais fortes do que a lei.
 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Eu, permitam-me só acrescentar estes 10 segundos, não é muito mais do que isso. Ainda por cima numa altura em que eles tinham a comunicação social toda controlada. No princípio da crise o Primeiro Ministro consegue explicar que por razões de Estado era melhor não falar muito sobre o assunto, e as câmaras só vão para a rua filmar as pessoas porque estavam lá pessoas. Portanto foi o SMS de facto que os fez quebrar o círculo de controle da informação, de outra maneira não teria sido possível. É um bom exemplo de como, de facto, os novos meios são muito mais eficazes do que podemos pensar.
 
Frederico Carvalho
Bom dia. Não posso deixar, também eu, de deixar os parabéns ao excelente painel, pela excelência da apresentação, da boa disposição, etc. Com base na televisão, na imprensa escrita, nas conferências de imprensa, enfim. Eu queria saber quais são as grandes diferenças de comunicação e da gestão da comunicação social em Portugal e na Europa, porque são, porque um é muito pequeno, o outro é muito grande. E depois também saber qual é a gestão familiar, porque temos aquele estilo de política em que o político aparece com a família, com as criancinhas e depois temos o outro, que é mais sóbrio, aparece reservado e sozinho. Enfim, gostava de colher a vossa opinião. Obrigado. 

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Bem, a primeira pergunta. Eu creio que o jornalismo, os problemas que nós hoje enfrentamos de controlo da imprensa, da falta de isenção dos jornalistas, quer dizer é uma coisa que se sente em todo o mundo. Em Inglaterra resolveram o assunto, assumindo-se. Portanto nós sabemos que jornais é que são de direita porque eles dizem que são de direita, e mais, e sabemos que jornais é que apoiam determinado candidato. O Guardian ou o Sun apoiam o Tony Blair, toda a gente sabe. Portanto se eu vou ler o jornal, não tenho a parte da mentira, da encenação, tenho o directo. Eu gosto muito, olhe infelizmente, o Blair de facto é o melhor Primeiro-ministro que este país já teve nos últimos 20 anos e portanto nós apoiamo-lo. Portanto nós estamos à espera. Isto é uma evolução mas só existe nos países anglosaxónicos. Curiosamente nesta parte, no Mediterrâneo, nós somos um bocado mais hipócritas portanto ainda temos a questão da isenção para resolver. Achamos que os jornalistas e que os meios de comunicação social têm de ser isentos e atipicamente não ideológicos. É um, é um... para você perceber a estupidez, eu fui jornalista. Está a ver, eu consegui ser jornalista, eu passei por homem sério e isento durante uma data de tempo. Quer dizer, acho eu, que passei. Pelo menos tentei, esforcei-me por passar. Portanto, é ridículo porque a minha cabeça não pára de funcionar, ou eu não deixo de acreditar nas coisas a partir do momento em que entrei na redacção. Portanto, eu não vou, óbvio que vou tentar não prejudicar o outro lado, mas também, quer dizer vou tentar não favorecer o meu? Mas por amor de Deus, eu não vou ver a questão do barco do aborto como se fosse um militante do bloco de esquerda. Acho aquilo uma vergonha, acho que o couraçado devia ter afundado o barco, ponto. Olha, para que é que temos a canhoeira, não é para isso? Para dar uns tiros? Portanto, isso fica o problema resolvido.

Quanto à sua segunda questão, a vida pessoal. Bom exemplo, Pedro Santana Lopes. Durante imenso tempo, resultou não é? Durante imenso tempo resultou. E depois chegou a Primeiro Ministro, não é? E depois começaram a aparecer as fotografias dele com o lenço na cabeça nos cruzeiros do Kremlin. É chato, para um Primeiro Ministro não é?
 
Marta Rocha
Eu queria apenas pedir a vossa definição pessoal de carisma, e se todos os elementos e conselhos que abordámos hoje são o suficiente para criar um líder carismático.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Não, não. Mesmo porque as pessoas ficam plásticas. O carisma conquista-se, o carisma é uma coisa especial, o carisma conquista-se muito com o tempo, sermos nós próprios durante muito tempo. Isso é que dá carisma. Você repare que algumas das personagens, algumas das personalidades históricas mais amadas hoje, o Carlos há bocado falava do Winston Churchill, não é? Um carisma monumental, você conhece alguém, bolas, caramba, mais carismático que Churchill? O Churchill perdeu eleições, perdeu eleições, foi dos políticos mais odiados em Inglaterra, mesmo depois de ter ganho a guerra. Portanto, o carisma às vezes é uma coisa... é como a patine. Tem que ser com o tempo. 
 
Sandra Pimentel
Bom dia a todos. Cumprimentos aos oradores. A minha pergunta é a seguinte: no âmbito de uma campanha eleitoral, e tendo em conta o investimento que é feito e até a procura de profissionais nesta área, como é que se explica uma estratégia de comunicação desastrosa como a do Prof. Carrilho em Lisboa? Obrigado. 

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Só para acabar a sua pergunta da questão da patine, já aí vou. A patine falsa é a coisa mais foleira que possa existir, portanto aquilo que eu estou a dizer é que não vale a pena tentar fabricar carisma. É o pior erro que se pode fazer, porque fica foleiro, é bimbo, não se usa, as pessoas não gostam.

Para ir à sua pergunta. O Prof. Carrilho, não é propriamente uma pessoa... Primeiro ponto. A estratégia do Prof. Carmona perfeita, perfeita. Não era grande orador, era um político cinzentão, passava mal na televisão. E portanto fez de técnico. Correu lindamente, quer dizer, mangas arregaçadas, - eu vim cá para trabalhar não tenho jeito para fazer política. Eu voto neste homem, não é, claro, voto já neste homem. O Prof. Carrilho tem um problema enorme. Está apaixonado por si próprio, portanto ele é o Rei sol. E isso ainda por cima, nota-se em televisão. É uma grande chatice, não é? Porque a maneira como ele fala dele é uma coisa...Há poucos políticos assim, aliás não são políticos eles, eles não podem ser políticos. Mas eu penso que ele a certa altura percebeu que ia perder as eleições, e percebeu estrategicamente que a estratégia estava errada, porque pensou: - Bem eu vou lá fazer o número do Santana Lopes. Chego lá, com uma mulher giríssima, famosíssima, apareço em meia dúzia de revistas e está no papo, acabou, não é? Bárbara! Bárbara, o PS gosta imenso de ti, como dizia o Jorge Coelho. Isto acabou, acabou, matou. Azar dos azares, porque em vez do PSD ter feito o jogo dele, e de ter tentado escolher um candidato popularucho, mediático, ou casado com uma actriz importante... Diogo Infante, não é, assim uma coisa assim do género candidato Diogo Infante. Não. Temos um senhor que lá está, o técnico. E portanto, o que é que o Prof. Carrilho vai dizer ao técnico? Quando o Prof. Carmona tem muito mais para dizer ao Prof. Carrilho?
 
André Costa Magalhães
Bom dia. Desde já quero congratular os oradores pela excelente exposição que fizeram hoje. E a minha questão é a seguinte: Tendo em conta o que a gente falou aqui, que era para falar com, nós devemos falar com alguém que emite uma mensagem, ela é transmitida e depois temos receptores. A minha questão prende-se com, qual o mecanismo, que os receptores da mensagem, têm para transmitir um feedback àqueles que a transmitiram? Obrigado.
 
Dep. Carlos Coelho

Há vários. Nós temos é que estar atentos. Eu dou-vos um exemplo. O Rodrigo e eu estávamos a comunicar convosco, estávamos sempre a olhar para vocês. Numa comunicação, se eu não falar claro, se estivessem todos a dormir ou distraídos, julgava que estávamos a fazer um papel péssimo, ter-nos-íamos calado passado 15 minutos, porque objectivamente não estávamos a fazer nada. Na relação com o eleitorado, como é que nós ouvimos o eleitorado? Ouvimos o eleitorado através das cartas que nos enviam, dos e-mails, eu recebo dezenas de e-mails no Parlamento Europeu, através das sondagens, que são instrumentos de pesquisa de informação, saber o que é que as pessoas pensam, o que é que querem, quais são os seus anseios, as suas preocupações. Qualquer político responsável deve fazer sondagens de opinião com alguma regularidade. Não sobretudo para saber quem é que vai à frente ou para..., essas a comunicação social faz. Quem é que vai à frente é o PS, é o PSD, mas para saber quais são as preocupações, o que é que as pessoas querem, como é que reagem, como é que reagiram às nossas mensagens, às nossas políticas, às nossas decisões. Através do diz-se, diz-se. É por isso que o Partido é importante, os membros do Partido vão ao café, vão, percebem qual é o ambiente. 

A ideia é esta: há muitos mecanismos para nós apercebermos as mensagens que o receptor nos envia. Numa comunicação nossa, numa decisão, as pessoas comentam. E temos de estar atentos a essas, há formas mais evolutivas como as sondagens, há outras mais passivas que é esperar que as pessoas comuniquem connosco, e há outras mais organizadas como é o Partido, para perceber o que é que a “malta” está a pensar. Seguinte.

 
Bom dia. A minha questão vem no seguimento da questão colocada pelo meu colega, nós tínhamos estado aqui a falar. E partindo do princípio que há um emissor, um receptor e um canal, e que esse canal tem de ser bidireccional porque tem de haver emissão e depois um feedback de quem emite, sejam eles nesta questão os eleitores ou então os políticos, como é que nós conseguimos garantir que este canal é viável e tem qualidade? Isto é, que as mensagens não se perdem, porque isto é uma questão muito complicada, porque nós temos vários tipos, de níveis, de comunicação como já foi aqui referido, pode ser comunicação a nível interno e por exemplo comunicação internacional. Como é que nós podemos criar mecanismos de regulação internos e externos que façam com que as mensagens sejam bem entendidas, e percebidas e não sejam perdidas, e haja uma boa relação entre...? Obrigado.
 
Dep. Carlos Coelho
O segredo, e esta vai ser a última pergunta porque nós temos de terminar, e o Rodrigo e eu vamos sair da sala para o vosso exercício, que o Alexandre vai coordenar, como eu vos disse, a comunicação estabelece a relação ente dois pontos; como você disse e bem, depende desses dois pontos. Eu sou Presidente da secção da JSD, o Daniel é o Presidente da minha Direcção Nacional. A comunicação com ele é uma comunicação dentro da estrutura, a comunicação que eu tenho que estabelecer é uma comunicação que ambos percebemos e que se estabelece. Imaginem que isto é a mensagem, - Ó Daniel segure aqui. A mensagem é aquilo que nos une. Imaginem que eu sou um Presidente da secção de Hong Kong, e só falo chinês. E estou aqui, virado para o Daniel e digo: - yonk, yonk, yonk, yonk. Não há comunicação nenhuma, ele não percebe nada do que eu estou a dizer, presumo que você não saiba chinês, não é? Isto exige, obriga a algum exercício de subtileza. Eu dei-vos o exemplo das metáforas. Se eu estiver a falar para uma audiência usando uma metáfora completamente despropositada, ou um tipo de linguagem que a “malta” não percebe, a comunicação não se estabelece. Agora, como é que se traduz esta comunicação em concreto? Depende do nível em que nós nos estamos a produzir, depende do nosso interlocutor. Eu diria o seguinte, para simplificar: nós temos de falar a linguagem que o outro percebe. E ao estabelecer a comunicação, em que temos um emissor, temos a mensagem e temos um receptor, se me perguntarem qual é a parte mais importante eu direi, na análise, é o receptor. Porque é em função dele que nós temos que estabelecer a nossa comunicação. É em função dele que nós temos que a estruturar. É em função dele que a mensagem acaba por ser produzida. Muito obrigado.