Revista de Imprensa
Registos Audio Fotografias
dia 3 - 10.00
Sessão de Avaliação da UNIV
dia 3 - 12.30
Sessão Formal de Encerramento
dia 3 - 14.00
Almoço de confraternização com UNIVs de 2003, 2004 e 2005
Ambiente e energia: O que temos de dedidir já
 
Dep. Carlos Coelho
Bom dia, começo por saudar a presença entre nós, o Eng. Pimenta foi dirigente da JSD (foi dirigente da Distrital de Lisboa e foi Presidente da Mesa do Congresso Nacional) foi particularmente conhecido no país como Secretário de Estado do Ambiente, foi Deputado da Assembleia da República pelo círculo eleitoral de Setúbal, foi Vice-presidente da Comissão Política Nacional do PSD, foi Director do Gabinete de Estudos Nacional do Partido, foi presidente do Instituto Francisco Sá Carneiro, é um homem com um currículo na nossa família política e particularmente destacado na área do ambiente.

É curioso que no dia em que o recebemos e que inauguramos o nosso trabalho de facto na Universidade de Verão (uma vez que ontem foi o dia consagrado à abertura) a nossa revista de imprensa produzida pelo Ricardo Lopes diz-nos que de acordo com o British Institut for Public Policy Research, os portugueses são os que menos reciclam na União Europeia a 15, portanto, dos antigos 15 Estados-Membros. Aí lê-se que os portugueses reciclam menos lixo do que os restantes povos da UE a 15. De acordo com os dados do relatório os portugueses apenas reciclam 3% do lixo produzido, e este valor, sublinho 3%, contrasta com 65% reciclados pelos Holandeses, e além de Portugal a Grécia com 8%, mesmo assim quase 3 vezes mais que Portugal, e o Reino Unido com 18%, também apresentam baixas percentagens do lixo reciclado.

Não deixa de ser uma boa forma de assinalar o início dos nossos trabalhos, chamar a atenção para este atraso de Portugal.

O eng. Pimenta tem como hobby a leitura e ouvir música, jazz e clássica, tem como comida preferida a mediterrânica, sobretudo a italiana, tem como animal preferido o cão, aí não se pode dizer que seja particularmente original, porque a maior parte dos nossos convidados gostam de cães, desculpa Carlos mas aí não és original, o Livro que sugere é “As vinhas da Ira”, de John Steinbeck, o filme que sugere “2001 Odisseia no Espaço” de Stanley Kubrick, e a principal qualidade que valoriza nas pessoas é a lealdade e a verdade.
 
Eng.Carlos Pimenta
Muito bom dia a todos, e muito obrigado pelas palavras do Carlos.

É com muito gosto que estou aqui, hoje foi um dia complicado, porque hoje no agrupamento grande que demorou 4 anos a montar, se entrega ao governo um dossier para aquilo que eu chamo uma Autoeuropa do Vento, um projecto industrial a criar em Viana do Castelo, que vai criar 1.800 postos de trabalho e vai produzir a 100% estes gigantes aerogeradores que se vêem nos caminhos, feito em Portugal com a melhor tecnologia que existe no mundo de raiz alemã, num consórcio de 29 empresas, das quais bastantes delas são portuguesas, correspondentes a uma enorme transferência de tecnologia e a uma produção, e a uma exportação de 200 milhões de euros por ano.

Hoje está a equipa toda a entregar isso ao Ministério da Economia, e é um projecto que há 4 anos, eu pessoalmente e outros amigos, temos debatido para que em Portugal não esteja apenas a produção de energia a partir de fontes renováveis, mas também a investigação científica, o valor acrescentado e a produção dos bens de equipamento que produzem energia a partir dos recursos naturais.

E foi por isso que eu passei esta noite a trabalhar, e é por isso que também quero começar por este aspecto muito importante, que é a questão da energia, a questão do ambiente e a questão da mudança do clima.

E o que é que se liga com a economia e também com a nossa vida do quotidiano.

Nós estamos a viver, todos nós, um momento apaixonante da vida da humanidade, em que tudo está em causa. Na nossa história dos últimos 2 mil anos, desde o Império Romano, só encontro paralelo entre 1492 e 1510 para a mudança que o mundo está a sofrer.

Quem tivesse nascido em tempos de D. João II aqui por Portugal, por volta de 1490 e aos 20, 25 anos de idade, a idade que muitos de vocês têm, olhava para trás e o mundo em que vivia já não tinha nada a ver com o mundo em que tinha nascido. Para já, o horizonte do mundo tinha alargado, a descoberta da América em 1492, a viagem do Vasco da Gama para a Índia, portanto, de repente fronteiras do mundo alargaram. As comidas tinham mudado, não havia batata em 1490, não havia milho em 1490, não havia tomate em 1490, 20 anos depois aquilo que eram as comidas de base que substituíam os cereais, com mudanças revolucionárias, - pensem no povoado de Portugal que em 1940 se distribuía mais ou menos homogeneamente no território, e com a introdução do milho houve um abandono do interior para as zonas férteis das planícies dos rios, porque a produtividade por hectare do milho não tem comparação com a do centeio, da cevada ou mesmo do trigo de sequeiro que se fazia no interior, e há uma enorme transferência e abandono das terras que eram municípios e concelhos, e que depois no século XIX Mouzinho da Silveira vai extinguir como municípios, e que hoje se encontram ao longo da raia e ao longo das terras do interior, e foi a introdução do milho.

Consequências enormes: a introdução das especiarias, a introdução dos conhecimentos que os portugueses trouxeram do Japão, da China, da seda, da pólvora, da produção industrial do papel, dos instrumentos de navegação, - é um mundo diferente.

Garcia da Horta, daqui de Castelo de Vide, num texto famoso antecipando o século das luzes, dizia “já não contam mais as cosas dos romanos e dos gregos, agora só contam o que a experiência nos diz.”

Isto com dois séculos de antecedência, um pensador português, um homem notável que aliás, teve problemas com muita gente aqui de Castelo de Vide, onde as origens judaicas eram muito grandes, teve ao antecipar o empirismo e o espírito científico que depois só desabrocha na Europa no século XVIII com o enciclopedismo e o século das luzes.

E foi realmente ali um cruzamento em que Portugal perdeu o caminho, tivemos um século XVI brilhante, o fim do século XVI já foi uma desgraça, tínhamos tido um bom século XV e, depois tivemos 400 anos de letargia. E tivemo-la precisamente no momento em que adoptámos o obscurantismo da Inquisição e pusemos fora os judeus, optámos por nos fecharmos ao século das luzes e à revolução das ideias, e isolámono-nos, depois de termos descoberto o Mundo.

Foi realmente ali a transição entre o reinado de D. Manuel I e D. João III, marcou-nos 400 anos de atraso que ainda hoje vivemos.

Depois de termos feito uma arrancada absolutamente extraordinária no século XV, e única no mundo.

Hoje vivemos momentos de mudança como este nosso cidadão de 1490 viveu. A única coisa que eu sei é que daqui a dez anos as tecnologias, as formas de viver, as formas de consumir, as formas de pensar, a distribuição do poder à escala mundial não terá nada a ver com aquela que tem hoje, que estamos aqui a falar, e estou a falar numa escala de 10-15 anos.

A revolução tecnológica e científica em curso, com a introdução maciça das tecnologias do infinitamente pequeno a nível físico, das nanotecnologias, a nível biológico, das biotecnologias, permitem pela primeira vez a recriação dos componentes base, o que os ingleses chamam os building blocks, daquilo que é o nosso mundo palpável e sensível. Através das nanotecnologias, das físicas subatómicas e das químicas subatómicas, o homem começa a recriar a matéria; como os alquimistas procuraram fazer no início ainda na Idade Média antes do Renascimento, procurando fazer a transmigração, transmutação, na altura queriam de várias substâncias em ouro ou de outras substâncias, - é isso que hoje fazemos.

Quando se vão criar têxteis que repelem a sujidade, contra o fogo, ou para vidro que deixam passar determinada radiação e produzem electricidade a partir da energia que recebem, ou materiais que são flexíveis como a borracha mas resistentes como o aço, ou reproduzir uma teia de aranha, que é o fio da teia da aranha que tem propriedades absolutamente fantásticas, num material que pode servir para fazer uma asa de um avião. São coisas extraordinárias.

Nós não podemos imaginar qual é a diversidade das aplicações que as nanotecnologias permitem, e o que isto muda em termos dos circuitos da organização da vida. Pensem por exemplo, o que é um pequeno sensor que revestido com uma membrana celular e com eléctrodos ultra sensíveis, mergulhado numa gota do vosso sangue, dá a análise completa ao vosso sangue. Imaginem o que é hoje a estrutura de laboratório, de pipetas, de aparelho pesados que é necessário e da economia dos técnicos, etc., que está por detrás, e que de repente tudo é substituído em dez anos por uma coisa “ora, respira aí”, e ao respirar vê logo qual é o colesterol, como é que está o açúcar, como estão estas coisas todas que pessoas já da minha idade têm que controlar.

Ou pensem o que é um processo qualquer, que hoje é feito através do calor e da energia numa enorme central térmica, e que pode ser substituído por um filme transparente ou uma tinta que pinta o exterior deste hotel e que está a dar a energia eléctrica que nós precisamos para este hotel, sem se ver coisa nenhuma. Apenas porque a tinta passou a ser fotovoltaica e, portanto, reage aos fotões que vêm do Sol.

Ou pensem o que é uma alga microscópica e alterada geneticamente, e que flutuando em cima da água ou a despolui ou produz energia e hidrogénio a partir dos componentes da água. Pura e simplesmente, utilizando a capacidade quase infinita da natureza.

Hoje, por exemplo, está muito na moda falar-se dos biocombustíveis, e falar no fabrico de álcool para meter na gasolina para andar nos carros, que hoje é um processo pesado e ineficiente, porque se corta a cana do açúcar, da cana do açúcar extrai-se o açúcar, do açúcar põe-se a fermentar, do fermento faz álcool, e depois o fermento a seguir tem que passar por um outro processo complexo industrial, até poder fazer o aditivo para a gasolina. Pensem o que é, o que já está quase iminente, um bichinho que tem no seu código genético uma parte de fungos, uma parte de bactéria, uma não sei o quê, eu meto lá o material em bruto da cana e ele não apenas fermenta-me o açúcar, mas parte-me primeiro a molécula, mesmo as paredes da cana com a celulose e as fibras que lá estão, fermenta-me aquilo tudo, transforma-me aquilo tudo em álcool e depois em combustível de segunda geração, e sai na torneira já uma coisa directa para o depósito da gasolina. Apenas com um bichinho que eu mexi lá nos coisas e meti as características de um fungo e uma bactéria de mais não sei o quê, e ele num único processo, numa coisa relativamente simples pode estar aí instalado ao pé do campo agrícola, entre a matéria vegetal que se colhe no tempo, mete-se lá dentro e sai combustível.

Nada disto é ficção científica.

Estamos à beira de uma revolução brutal a nível das tecnologias, a nível do saber. E, estamos também à beira de uma outra revolução, que é uma revolução na emergência de espaços mundo que vão tomar o protagonismo de parte desta revolução, e estamos a falar obviamente da Ásia, da China e da Índia, e dos outros países do Sudoeste Asiático, etc. Ficando um continente por resolver, que é o continente africano, que será durante os próximos anos ainda uma enorme fonte de problemas, sobretudo para as desgraçadas das pessoas que lá vivem ainda, que têm todo o género de problemas, mas sobre isso ficará mais para uma sessão sobre questões geoestratégicas e a Europa tem um problema muito grande aqui à frente, porque é o seu vizinho imediato, que é a África.

Mas a China, a Índia, a Ásia, emergem com uma enorme força e pujança como sociedades que são protagonistas ao nível da mudança, da descoberta e da alteração.

E isto tem a ver, não apenas com a sua capacidade de trabalho e disciplina e de absorção, mas também com o facto de serem em si próprios países tão grandes, zonas tão grandes que têm mercados internos de tal maneira largos que permitem absorver muitas das experiências, porque nem tudo sai bem à primeira, e recomeçar de novo antes de conquistarem um mercado mundo.

Eu tive a experiência o ano passado, de ter em minha casa durante um ano, uma estudante chinesa de 16 anos do programa AEFES, que é os American Students Service de intercâmbio, de Cantão. Chegou-me aqui em Agosto, faz agora um ano precisamente, nesta semana, na última semana de Agosto, não falava uma palavra de português, esteve no liceu São João do Estoril, normal, em português, nós demos-lhe um apoio grande, familiar, como se fosse minha filha, ela saiu agora para a China no dia 1 de Julho, como uma das melhores alunas do ano dela, em Português, em Filosofia. Em Português, não falava uma palavra. Chegou, sabia-me tocar piano como uma pianista, falava-me de.., olhava para aquilo, que é isto? Ah, isto é Schubert, ah, isto é romântico não é? Quer dizer, matemática e ciências que era o forte dela trazia uma formação para 16 anos, pelo menos com um ano de avanço em relação ao nosso ensino secundário, pelo menos um ano de avanço, em termos das equações, essas coisas todas, geometria descritiva, pelo menos um ano de avanço. Em relação à parte de ciência de base, de geologia, de botânica, de biologia, também pelo menos um ano de avanço. Um bocadinho mais fraca na parte das humanidades.

Uma estudante liceal de Guandong, nem rica nem pobre, vivia num 30º andar de uma torre construída hà três anos, com pais profissionais normais, nem ricos nem pobres, portanto o exemplo de uma das muitas centenas de milhões de jovens chineses, e já tinha estado no Japão e na Austrália a tocar violino na orquestra juvenil lá do sitio.

Portanto, já não vai ter nada a ver com a China dos próximos dez  anos.

E a Índia é a mesma coisa.

Primeira grande revolução que vai mudar completamente os materiais, as coisas, as empresas, o que vocês comem, o que vocês bebem, os tecidos que vocês usam a vestir-se, os materiais das casas que vocês constroem, os carros que vocês usam ou os meios de transporte que vocês usam. A revolução da ciência e da tecnologia, que muda tudo.

Segunda, a revolução do espaço mundo. Um historiador francês, o Fernando Braudel, que já morreu, escreveu nos seus vários livros, que a economia mundo tinha tido centros à volta dos quais a inovação, o poder, no fundo o mundo se organizava, e que esses centros tinham começado na nossa história desde o Império Romano, primeiro à volta de Itália, depois tinham passado para a Flandres e para a Holanda no século XVI, depois tinham passado para Inglaterra, e de Inglaterra tinham passado para Nova Iorque, de Nova Iorque estavam a passar para a Califórnia, e de Califórnia iam passar para o outro lado o Pacífico. Portanto, que estávamos no século da economia do Pacífico e não mais na economia do Atlântico. Tinha começado pela economia do Mediterrâneo, em tempos históricos, a Itália, depois a seguir a do Atlântico, e agora a do Pacífico.

E eu estou de acordo com isso, e penso que é indiscutível.

E a nossa reflexão enquanto europeus, eu diria de uma forma muito simples para vocês, há um pensador inglês que é professor de Oxford, que escreve muito bem, que de vez em quando escreve uns artigos de opinião que são traduzidos no “Público”, que é o Timothy Garton Ash, que é um dos grande pensadores europeus, e ele dizia “bom, não há nada de errado em ser uma sociedade em decadência, Florença está em decadência há 500 anos e continua a ser uma cidade muito agradável. E é muito agradável viver em Florença, e é muito agradável visitar Florença. Vê-se o que Miguel Ângelo deixou, vê-se o que os Medicis deixaram, vê-se o que os outros construíram. E come-se bem, a cidade é bonita.”

Será que vocês todos querem ser a Florença do século XXI?

E como dizia um pensador, a China e a Índia são a fábrica do Mundo, os Estados Unidos são os serviços financeiros e de outro género, e a Europa é o Museu? Querem ser guias de museu e guias turísticos?

Aí realmente há uma boa carreira profissional a fazer. A receber chineses que nos vêm visitar, levá-los a Óbidos, a Castelo de Vide e outros sítios bonitos.

Eu penso que não é isso, propriamente, o papel que queremos reservar-nos.

Portanto, se a segunda grande mudança estrutural é a emergência da Ásia e a alteração dos centros de poder, que eu penso também que é muito positivo em relação aos conflitos do presente, dos países Árabes, etc., porque difunde um pouco esta tensão enorme que está a ser vivida entre uma civilização que falhou enquanto civilização, eu não tenho qualquer problema de dizê-lo. A civilização árabe foi uma grande civilização até ao século XI, e depois fechou-se em si própria e deixou de evoluir, e portanto, nós hoje vivemos muito do que é a frustação de uma civilização que há novecentos anos que está a patinar e sem se desenvolver.

E esta oposição entre a civilização do Médio Oriente e a civilização árabe e o comum da Ocidental, vai ser diluído com a emergência também de uma nova economia mundo, em que o centro do poder passa a ser a Ásia.

A terceira grande mudança é a questão dos problemas ambientais. Os problemas ambientais porquê? Porque passaram da dimensão de serem problemas graves a nível local, onde as pessoas sofriam na qualidade da sua vida, sofriam na sua saúde e até morriam devido a contaminações, devido a problemas que tinham ao pé da sua porta, para uma dimensão que hoje está à beira de alterar completamente o funcionamento do planeta em que funcionamos, e em que vivemos.

Se a primeira revolução é uma revolução de tecnologia que afecta, o quotidiano e as coisas que nós tomamos; se a segunda revolução é uma revolução a nível humano, dos centros de poder com a emergência da Ásia; a terceira revolução é muito mais brutal do que as outras duas, porque afecta tudo, e aquilo que vocês tomam como seguro, que são as 4 estações, que são com as nossas fronteiras marítimas, que é o clima que aqui têm, não vão ser verdade daqui a 25 anos. E não haver mais Primavera onde hoje há Primavera, e não haver mais temperaturas onde hoje há temperaturas, e não haver mais pluviosidade ou seca onde hoje há pluviosidade e seca.

E isso é uma mudança de tal maneira grande, de tal maneira estrutural que nós não conseguimos imaginá-la.

Nós não conseguimos imaginar o que é que é ter glaciares em Portugal, e no entanto estiveram aqui há 18 mil anos; nós não conseguimos imaginar o que é ter aqui o Sahara e no entanto já aqui esteve.

E eu não sou capaz de dizer se daqui a 25 anos o que temos é o país que hoje temos, com mais calor, com mais secas, com mais tempestades súbitas, ou se o país que vamos ter é um país coberto de gelo a norte, ou se é um país que se aproxima da Argélia e de Marrocos a Sul. Não sou capaz, nem ninguém.

A única coisa que sou capaz de dizer é que aquilo que tenho hoje não vou ter daqui a 25 anos, em termos estatísticos e em termos médios, e que a vida que vocês vão ter vai ser subordinada a um clima que é completamente diferente daquele que é hoje.

Vamos então com o power point, depois desta entrada que queria dar-vos, este sentimento de que aquilo e o mundo que vocês vão viver e que nós se tivermos todos saúde vamos viver, não tem nada a ver em termos das tecnologias e da economia, não tem nada a ver em termos da política, não tem nada a ver em termos do ambiente físico e natural em que hoje vivemos, com o mundo em que hoje aqui estamos em Agosto de 2006, em Castelo de Vide.

E como é que pessoas que querem ser agentes de mudança no sentido do humanismo, no sentido de construção dum mundo solidário, e dum mundo em que cada ser humano possa desenvolver plenamente a potencialidade que tem dentro de si: a potencialidade artística, potencialidade de realização pessoal, potencialidade de realização familiar, etc.,  no fundo desabrochar tudo o que lá tem dentro como ser humano quando nasce.

Como é que no mundo, onde tudo está a mudar, alguém que quer ser agente de mudança política, se pode posicionar em cada momento e dar aos cidadãos que esperam dos políticos duas coisas:

- Uma, é a leitura descodificada das mudanças que estão a ocorrer. Um político tem que ser um pouco como é um bom observador, como é um bom professor analista, como é um bom jornalista analista. Tem que traduzir de uma forma simples, mas não simplista, uma realidade ultracomplexa, e tem que ser capaz de dar às pessoas chaves de leitura do mundo em que vivem, e tem que ser capaz a seguir, mais difícil, apontar caminhos (que eu não ouso dizer soluções porque ninguém as tem, mas caminhos) seja a falar para uma Junta de Freguesia, seja uma comunidade grande porque está a falar para um país, ou meta-nacional porque está a falar como o Carlos fala, na União Europeia, ser capaz ao nível dessa comunidade, apontar caminhos para que essa comunidade, com os recursos que tem, com as pessoas que tem, com a história que tem, com a cultura que tem, ser capaz de se posicionar melhor no contexto das várias comunidades em competição a nível mundial, e dos vários problemas que estão sobre a mesa, poder daqui a dez anos estar melhor que hoje está em termos da qualidade de vida dos seus cidadãos, em termos da capacidade de influenciar o decurso dessa própria mudança, porque as escolhas não são pacíficas. Há em cada momento escolhas que se fazem que têm conteúdos éticos e conteúdos económicos -, e portanto, é esse o papel que vocês como potenciais políticos importantes neste país têm.

Para isso é preciso estudar muito e trabalhar muito, porque para ter chaves de leitura dum mundo em evolução complexa, é preciso ler muito, é preciso ouvir muito, é preciso reflectir muito, é preciso debater muito porque ninguém tem certezas. E a realidade é muito complexa. E é preciso saber um pouco de tudo: um pouco de economia, um pouco de filosofia, um pouco de história, um pouco de biologia, um pouco de electrónica, é preciso saber um pouco de tudo.

Quem quer ser político hoje tem que ter uma preparação de base muito boa, e por isso é que iniciativas como esta são extraordinárias. Porque já não chega distribuir os panfletos à porta do mercado, e de dizer votem em mim porque tem uma fotografia bonita.

Porque isso não dá nada.

Vou-me focar, sobretudo, na terceira mudança que é aquela que diz respeito aos problemas ambientais, tenho a certeza que durante esta semana alguém vos falará mais das questões geopolíticas, e da emergência dos espaços asiáticos, e das questões da segurança, e disso, aliás, o próprio Carlos vos podia falar nisso, porque é um Deputado que tem feito um trabalho brilhante a nível do Parlamento Europeu, no que diz respeito às questões de Segurança e dos Direitos do Homem, das questões da emergência de novos problemas, e também sobre a ciência e tecnologia, com certeza que alguém vos falará sobre isso, e como é que isso encaixa com o nosso sistema educativo e com o nosso sistema de formação.

O principal problema que o mundo tem hoje em dia, dentro destas três grandes questões que falei, são os problemas ambientais derivados sobretudo da mudança climática. Porquê? Porque, a mudança climática tem uma característica, é que não é uma poluição localizada como eu disse.

Quando eu tinha a vossa idade e começava a fazer sessões de educação ambiental e meti-me nos grupos de defesa do ambiente, havia um problema muito grave que era o problema das chuvas ácidas.

Não sei vocês se lembram dessa altura, na altura falava-se muito das chuvas ácidas. Eu lembro-me de visitar a Alemanha e a Suécia, e as florestas estavam a morrer.

Porquê? Porque com a combustão do carvão, sobretudo do carvão, e de outros combustíveis fósseis, os poluentes de origem de enxofre, de nitrogénio, provocavam uma acidificação da atmosfera. Por exemplo vocês passaram aqui pela Central de Abrantes, a central de Abrantes está neste momento a desnitrificar e a dessulfurizar o carvão. E porquê? Porque se não o fizesse, aquilo que atirava para a atmosfera eram gases que combinados com a água iam produzir ácido sulfúrico e ácido nítrico, que diluídos ao chover, fariam chover ácido sulfúrico e ácido nítrico. E outros tipos de ácidos.

Ora, esse problema resolvia-se localmente diminuindo o teor de enxofre do combustível. Diminuindo esse teor de enxofre, diminuía a poluição ácida.

Outro problema que havia muito grave, esse sim, já à escala planetária, era o problema do buraco do ozono. Que continua mas que está controlado, porque havia determinadas substâncias, por exemplo nos frascos dos perfumes, nos cremes da barba, que eram gases que tinham sido inventados pelo homem e que se julgava ser gases perfeitos, porque eram incombustíveis, não ardiam, não eram tóxicos, não se misturavam com coisa nenhuma, portanto, podiam ser gases que eu metia dentro de um tubo e quando carregava no botão saía a espuma da barba, ou saía o perfume, ou saía o medicamento, ou saía o extintor de um incêndio. Portanto, eram coisas óptimas porque não se misturavam com coisa nenhuma e não eram inflamáveis e não eram tóxicos. Tinham um problema: quando subiam lá acima destruíam a camada do ozono, diminuíam o escudo protector da radiação ultravioleta, e a taxa de cancros na pele começou a disparar 4 vezes, 400% em 10 anos, nalgumas do zonas do mundo, por via de maior radiação ultravioleta que chegava cá abaixo e que provocava uma série de problemas.

Resultado: houve acções que limitaram e proibiram o uso desses gases.

Houve outros problemas, por exemplo: os carros emitiam muitas partículas, os diesel sobretudo, e substâncias derivados dos hidrocarbonetos, substâncias orgânicas voláteis, que são tóxicas, que são cancerígenas, e então inventaram-se os catalizadores. E os carros começaram a ter catalizadores: catalizadores de primeira geração e de segunda geração, e arranjou-se uma série de equipamentos, grosso modo, de filtros para limpar o ar, no tubo de escape, no tubo do esgoto. E, no fundo, mantinha-se os processos industriais mas púnhamos um filtro ou uma limpeza à saída, mas não púnhamos em causa a organização, nem da sociedade, nem da forma de nos transportarmos, nem na forma de produzir.

Eu vivi no Barreiro, era um grande complexo industrial. Lembro-me de sair de casa às seis e tal da manhã para apanhar o comboio para o liceu de Setúbal, e ter de pôr um lenço à volta da cara porque a poluição que saía era de tal maneira que misturada com a humidade do rio, fazia descer um nevoeiro tóxico. A minha mãe não sabia se havia de abrir a janela do quarto para arejar, se havia de ter a janela fechada para não entrar os gases. Era de tal maneira corrosivo, que lembro-me de estar a jantar uma vez em casa de um rapaz que é hoje Vice-director do Expresso, e cair o candelabro porque os aros de ferro que seguravam os candeeiros estavam comidos pela acidez do ar. Agora imaginem os meus pulmões.

Esses problemas, foram problemas que a legislação da União Europeia e das Nações Unidas a partir da primeira Conferência do Ambiente de Estocolmo de 72, foi procurando limitar, e todos os dias no Parlamento Europeu há novas leis que dizem que a gasolina tem que ser com menos substâncias poluentes, e que o carvão tem que ser mais limpo, etc., etc.

O problema principal, que infelizmente só veio a ser descoberto a sério nos anos 80, é o da mudança do clima e nós não estávamos despertos para isso.

Nesta fotografia do Pólo Norte, que vocês podem ver, 20% da redução do volume de gelo???.

O que é que está a acontecer? Está a acontecer é algo que o homem não tinha pensado. O clima do planeta muda ao longo dos séculos, naturalmente, por várias questões: - pela interface entre a natureza viva, as plantas, que fixam  CO2, que libertam oxigénio; - pela diferença entre o mar e o ar; - pelo aumento da radiação do Sol; - por inclinações do eixo da Terra, ligeiras.

Há muitos factores naturais que fazem com que ao longo dos séculos a atmosfera tenha uma capacidade de reter a energia maior ou menor. Essa capacidade é a de fazer estufa com a radiação que vem do Sol: ela entra, bate no mar, bate no chão, aquece o oceano, aquece o solo em que nós pisamos, e é reflectida de volta para cima como calor de baixa temperatura. Nesse caso, ou se escapa para o espaço (se escapasse toda era como Marte, que perdeu a atmosfera e não tem vida) ou não se escapa. Se não escapar nenhuma seríamos como Vénus que é uma sauna. Este equilíbrio entre a radiação que entra e que aquece o Planeta é que faz funcionar o Planeta. Porque os ventos, a formação de vida através da fotossíntese, vem quase tudo da luz do Sol. A energia que escapa de volta para o espaço é o que mantém este equilíbrio de vida que permite a vida na Terra.

Se escapar energia de mais, a vida morre e estamos em Marte, que eventualmente já teve vida; se escapar energia de menos, isto fica com uma temperatura e com condições que não são propícias à existência de vida.

A existência de vida dá-se neste delicado intervalo. É este cobertor que está à volta da Terra que deixa passar energia para cima, para dentro, e a deixa sair energia para fora, provocando o efeito de estufa. Se o cobertor se torna muito grosso, há muita energia que não sai que fica cá dentro e o planeta aquece.

O que é que aconteceu? Nós nos últimos 2 milhões de anos podemos dizer qual é a temperatura que houve na terra em permanência. Eu andei perto do Pólo Norte, na Gronelândia, em expedições científicas a furar gelo e a retirar o que se chamam carotes: cilindros de gelo perfurado até muito fundo. Esse gelo é a neve que caiu há cem mil anos, há um milhão de anos, há 2 milhões de anos. E quando nós tiramos aquelas carotes de gelo ou quando fomos aos lagos do Canadá e tirámos as carotes de lama (lama depositada ao longo de milhões de anos) vamos ao laboratório e vemos cada uma delas: o que é que lá estava dentro? Vimos bolhas de ar, e esse ar é o ar que ficou preso quando a neve caiu. E esse ar além de ter os gases que lá estavam nessa altura, também têm o pólen das plantas que existiam nessa altura.

O que é que vejo, e o que é que eu sei? Eu sei o seguinte: nos últimos 2 milhões de anos, quando aumenta a concentração do CO2 e de outros gases que têm este efeito estufa, (o CO2 é o principal, e a seguir o CH4, o metano, o chamado gás natural, o gás que consumimos em casa e que é o resultado também da fermentação das pocilgas, dos lixos e dos esgotos) a temperatura aumenta. Quando temos um CO2 com menor concentração a temperatura diminui.

Nestes dois milhões de anos, a variação entre o período mais quente (em que os mares estiveram maiores) e o período mais frio (em que os mares estiveram mais baixos e o gelo era maior sobre a terra), é muito pequena. Entre o momento mais quente e o mais frio, a concentração de gases de estufa no mais frio correspondeu a 190 partes por milhão, no mais quente a 290.

Qual é o problema? É que nos últimos 50 anos a combustão de gasolina e gasóleo nos nossos carros, a combustão de carvão nas centrais como a do Pego o uso dos combustíveis foi de tal maneira grande, que nós passámos de 290 para 350. Ou seja, uma variação da mesma ordem de grandeza daquela que existiu em 2 milhões de anos entre o período mais quente e o período mais frio, e ao ritmo actual das emissões, dentro de 25 anos nós estamos com 550 partes por milhão, ou seja, o dobro da concentração dos gases que retêm energia do período mais quente dos últimos 2 milhões de anos.

A gravidade disto é tal que para vocês terem noção o cientista chefe da NASA, da área de climatologia, que é um dos maiores experts de clima do mundo, diz “eu não estou de acordo com as previsões das Nações Unidas que dizem que até ao fim deste século o mar pode subir até 3 metros, eu penso que com este nível de concentrações o mar pode subir entre 15 a 30 metros.” Porque é desta ordem de grandeza aquilo que nós verificamos no passado histórico.

Se vocês pensarem o que é uma subida de 15 a 30 metros e olharem para o mapa de Portugal, vêem o desaparecimento de todo o Litoral. Vocês olham para o mapa do Mediterrâneo e vêem todo o desaparecimento de todo o Delta do Nilo, onde vivem 2/3 dos egípcios. Vocês olham para o mapa da Ásia e vêem o desaparecimento do Bangladesh, de parte da costa do Vietname, da parte das Ilhas da Indonésia, de países inteiros que ficam debaixo de água.

Mas o problema nem sequer é este, é maior do que este. Quando vocês têm uma alteração das condições de fronteira do sistema - uma alteração tão grande na redistribuição da energia no planeta - este vai entrar em ruptura e procurar um novo equilíbrio. Portanto, a corrente do Golfo vai deixar de estar onde está, as monções vão deixar de estar onde estão, os alísios vão deixar de estar onde estão e a partir daí onde é que faz quente? Onde é que faz frio? Onde é que chove? Onde é que faz seca? Ninguém hoje é capaz de dizer, porque é um outro sistema de clima, aquele que vai vigorar no planeta.

E portanto, se aqui vamos ficar debaixo de gelo, se vamos ficar tórridos, se vamos perder 1/3 de Portugal ou se vamos ficar na mesma mas cobertos de gelo, nem eu sei, nem ninguém sabe.

Esta é a dimensão do problema. Faz hoje 1 ano que Nova Orleães ficou debaixo de água, daqui a dez anos é Nova Iorque que pode ficar debaixo de água, porque é uma ilha também.

É esta a dimensão do problema. Se há um ano e um dia alguém me dissesse na América que Nova Orleães podia ficar debaixo de água, era apelidado de louco, de alarmista, e no entanto Nova Orleães ficou debaixo de água. Se hoje alguém disser que Manhattan pode ficar debaixo de água é apelidado de louco e de alarmista, ou então vem aquele filme o Day After Tomorow, mas o problema é que o filme só peca por uma coisa: não vai suficientemente fundo sobre as consequências da mudança climática.

Isto não é alarmismo o que vos estou a dizer. Durante dez anos o trabalho que mais gostei de fazer na vida foi ter sido o porta-voz do Parlamento Europeu para a mudança climática. Agora a 12 de Setembro estreia em Lisboa o filme do Al Gore, que eu recomendo vivamente, e o livro vai sair também traduzido em português.

Foi ele que me introduziu neste assunto em 91, não foi há muitos anos, foi há 15 anos. Recomendo vivamente a leitura do livro e o visionamento do filme que vai entrar nas salas de cinema a partir do dia 12 ou dia 14 de Setembro.

Portanto, esta é a dimensão do problema que vocês têm pela frente. E o que fazer num país como Portugal?

É isto que vamos agora falar durante algum tempo, sem procurar ser demasiado chato, e guardando tempo para as perguntas.

Se forem à Suiça, os sítios onde os glaciares estavam já não estão estão; se forem aos Andes, andam para trás vários metros por ano.

E, no entanto, isto é um problema recente, foi em 88 que as Nações Unidas criaram a primeira rede mundial científica de observação do clima. É de 92 a Conferência do Rio. Por Portugal, na Presidência da União Europeia, o prof. Cavaco Silva foi lá assiná-la enquanto Presidente do Conselho da União Europeia com a Dra. Teresa Gouveia. E é de 97 a assinatura do protocolo de Quioto.

Como vêem, o mundo hoje funciona muito depressa, e não só nos chat-rooms da Internet, do mensenger, funciona muito depressa em relação a tudo. E, no entanto, o mundo chegou a acordo no protocolo de Quioto de que as emissões deviam ser reduzido a nível global. Ou seja, entre 2010 e 2020 nós devíamos ir para um nível de redução daquela linha azul, infelizmente nós estamos é na linha preta de cima.

Ou seja, apesar de tudo o que vos disse, apesar de não haver nenhum cientista no mundo sério, chinês, americano, russo, português que seja, que tenha qualquer dúvida sobre o que eu vos estou a dizer, a mudança que é preciso fazer é de tal maneira grande, e a imbecilidade e falta de coragem dos políticos em enfrentar essa mudança tem sido de tal maneira grande, que em vez de estarmos na linha azul estamos na linha preta.

E Portugal está na mesma.

No ano 2000 a União europeia aprovou um sistema para diminuir as emissões de carbono dos países da União. Resultado: há países como o Luxemburgo, a Alemanha, a Suécia, o Reino Unido que cumpriram e estão realmente a diminuir as suas emissões; e depois olhem, para baixo, os países como a Irlanda, Espanha e Portugal que, infelizmente, estão com desvios significativos em relação àquilo que se comprometeram fazer em 97 e em 2000.

Em Portugal como é que estamos: a barra verde significa o total das emissões autorizadas para o país em termos de CO2 em 2010. No ponto médio do período de 2008-2012, vejam onde estamos. O verde é um cenário de referência do ministério da economia e o cenário de Quioto é a linha azul que está ali. Como vêem Portugal está claramente a exceder as suas emissões.

Problema: é um problema económico muito real. Porquê? Porque neste momento não estamos a pagar nada por estas emissões a mais mas vamos pagar muito caro, porque como há um acordo internacional, que é lei da União Europeia, cada tonelada acima da linha azul de Quioto vai custar ao país e às empresas o que ela custar no mercado em cada momento. E o exemplo é muito simples, com a legislação da União Europeia que implementa o protocolo de Quioto, o que Portugal teve foi aquela barra a verde ou esta linha azul, que mesmo assim é 27% mais do que tínhamos em 1990. Os senhores, um de vocês é dono de uma cimenteira, o outro é dono de uma cerâmica, o outro é dono de uma vidreira, o outro é o patrão da Central Térmica do Pego: o Instituto do Ambiente tem um total máximo de licenças para atribuir que são estas que estão aqui na linha azul. E vai dizer: oh meu amigo, o senhor para a produção que tem, para a tecnologia que tem, as suas emissões históricas e tal, tome ali mil toneladas de CO2, e o meu amigo que faz vidro, tome ali 500 toneladas, e o meu amigo que faz energia eléctrica a partir do carvão, tome ali 10 mil toneladas. Está tudo bem. Ora, o meu amigo chega a Setembro, os clientes querem cimento que não acaba, querem vidro que não acaba, querem energia eléctrica que não acaba, e na chaminé já emitiu tudo o que tinha permitido, não tem mais CO2 para emitir. O contador chegou ao fim, a quota está esgotada. E o que é que o meu amigo vai fazer? Só tem uma de três, ou pára a fábrica e diz “olha, não há mais, agora só em 1 de Janeiro”. Ou vai ao mercado e diz ao director “eh, pá, vai-me ai comprar toneladas de CO2”, e como é que ele vai comprar toneladas de CO2? Vai comprar aqui a esta nossa amiga, que tinha uma fábrica em que investiu numa nova tecnologia, e tinha uma licença para mil, mas como investiu uma nova tecnologia ou pôs uma ventoinha para produzir energia eléctrica, ou pôs painéis solares no telhado, ou isolou melhor, enfim, fez qualquer coisa e está a trabalhar normalmente mas só gastou 500 dos 1000 que podia gastar, e o que é que ela fez? Vendeu ao amigo ali do lado os 500 que tinha a mais, e ele pagou-lhe. Resultado, o saco de cimento, a janela de vidro, o kilowatt eléctrico ou o produto químico que fez, o seu é mais caro que o do outro competidor que está na Alemanha ou que está na Dinamarca, porque o outro antecipou, o outro está a produzir mais limpo, e como está a produzir mais limpo a produção dele cabe dentro da quota dele. Ele baixou o número de toneladas de CO2 por cada unidade de produto. Transformou-se numa posição mais sustentável.

E se o meu amigo continuar a não fazer nada, como o problema do clima é um problema real, não é um problema fictício, não é uma invenção nem dos media nem dos cientistas, as restrições em 2012, quando vier o novo Quioto, vão ser maiores do que as actuais.

Portanto, o meu amigo que tem uma fabriqueta de cimento, ou de vidro, ou de cerâmica, ou de sapatos, ou do que quer que seja, que não evoluiu em termos ambientais e em termos energéticos, out of the bussiness. O problema deixou de ser para ele um problema ambiental e passou a ser um problema de sobrevivência económica.

Isto é difícil de meter na cabeça de uma série de gente. Vejam como estamos. O que está a verde é o que nós tínhamos e o que está a encarnado, os 6,7 e os 5,8 é o que nós temos que reduzir.

Agora, quais são os grandes desafios que temos em Portugal?

- Primeiro, cumprimento da meta de produção de electricidade a partir das energias renováveis;

- Segundo, a introdução dos biocombustíveis;

- Terceiro, diminuir o consumo de electricidade;

- Quarto, integrarmo-nos com a Espanha, por um conjunto de razões que eu agora não vou dar porque ia para outra conferência;

- Quinto, actuar globalmente a nível da sociedade portuguesa, para descarbonizar o país e descarbonizar a economia.

O que é curioso nas questões energéticas e ambientais é que muitas vezes num pensamento a mais largo prazo, do que meramente o quotidiano, o interesse económico junta-se ao interesse ambiental, e fazer bem em termos ambientais corresponde, a prazo, a fazer bem em termos económicos.

Vejam Portugal. Portugal é um país que importa 85% da energia que consome, que tem 60% do petróleo na energia total, que 60% da electricidade é de origem fóssil, e 60% da electricidade é consumida nos edifícios, e que no entanto só aproveita 40% desta energia toda que importa, porque o sistema é tão ineficiente, é tão mau que 60% da energia que importamos é desperdício.

Esta é a fotografia de um país inviável. E é inviável há muitos anos. 85% da independência externa da energia significa que o ano passado a conta passou de 4800 milhões de euros para 6 mil milhões de euros, para comprar a mesma energia. É uma Ponte Vasco da Gama. Este ano, com o aumento que já houve desde Janeiro do petróleo e do gás, é outra Ponte Vasco da Gama para comprar a mesma energia. São mais de mil milhões de euros outra vez, que no final do ano vamos pagar a mais do que pagámos o ano passado. E no entanto é um país que está cheio de sol, está cheio de vento, tem muita água, tem terreno que não acaba para fazer biocombustíveis e, no entanto, importamos tudo.

A eficiência energética em Portugal é péssima. Edifícios caseiros com ar condicionado é um atestado de incompetência ao arquitecto e engenheiro. Uma casa com ar condicionado é uma casa que não presta, é uma casa que foi mal construída de raiz. Uma casa bem construída não precisa de ar condicionado. Vocês precisam de ar condicionado nesta sala porque há muita gente numa sessão pequena, é verdade; que vocês precisam de ar condicionado no vosso apartamento, na vossa vivenda, não é verdade. Eu não tenho ar condicionado em casa e não tenho mais do que 24 graus quando fazem 40 cá fora, e não tem nada de especial, bons isolamentos, vidros duplos, cortiça por debaixo das telhas, etc., meia dúzia de coisas, que no conjunto custam para aí menos de 5% do valor da casa, e que se traduzem em poupanças de 2/3 do dinheiro do aquecimento e do arrefecimento da mesma para viver com um mínimo de conforto. Portanto, é um bom investimento.

Um painel solar de água quente que se põe no telhado, paga-se em 6 anos. Portanto, não me venham dizer que é caro, e no entanto as pessoas não põem. Condomínios de luxo, como a Beloura e outros à volta de Lisboa, proíbem por regulamento, o que é ilegal, a colocação de painéis solares para aquecimento de águas nos telhados, porque é feio. O que é feio é isto. É gastar 85% a importar e desperdiçar a energia que se faz.

O que é que eu tenho? Isto é Quioto outra vez. Queria-vos mostrar este slide. Este slide tem o consumo de petróleo por habitante, per capita. Deste slide tiram-se duas coisas muito curiosas. A primeira é que Portugal, tendo um nível de vida muito mais baixo do que a Alemanha ou a França, e ¾ da sua população concentrada ao longo do litoral entre Braga e Setúbal, não precisa de grandes deslocações diárias para ir trabalhar. Mas tem um consumo per capita igual a países com uma área muito maior, onde as deslocações médias são maiores e com um nível de vida muito maior. Isto é mais um indicador de como é que nós por habitante consumimos o mesmo petróleo de um país muito mais rico, o que quer dizer que por unidade de riqueza, utilizamos muito mais petróleo.

Segunda, é que a França e a Alemanha têm o mesmo consumo e dependência do petróleo e derivados do petróleo, e no entanto a França tem muito nuclear.

Queria-vos ter mostrado outra falácia, de que as renováveis são caras. Nos últimos 20 anos os países da União Europeia gastaram 4 mil milhões de euros com o apoio às energias renováveis, e 29 mil milhões de euros no apoio à industria nuclear actual.

Portanto, quando se falar da indústria nuclear é preciso ter isso em conta.

E o que é que se pode fazer em Portugal para rapidamente criar milhares de postos de trabalho, baixar as emissões de CO2, diminuir a nossa dependência do exterior da energia, ter protagonismo.

Cada um de vocês a nível das vossas Câmaras, das vossas casas pode fazer muito. E vou-lhes dar meia dúzia de coisas:

1 – utilização sistemática e maciça de opções de eficiência energética, e de eficiência do consumo de água e de outros recursos no nosso quotidiano e no nosso processo de consumo:

- substituir as lâmpadas lá em casa por lâmpadas de baixo consumo, já nem digo por leds, que é a próxima geração que ainda consome menos electricidade para iluminar - vocês sabem o que é que são os leds não sabem? Light Emitting Diode, que parecem umas pilhas, que é uma coisa que no fundo é um diodo que é plano e com um mínimo de passagem de electricidade produz luz, uma pilha, uma lâmpada, uma lanterna de leds dura um ano com uma mesma pilha. No outro dia estive em Hong Kong num Hotel em que toda a iluminação era com leds. Tem além disso uma vantagem para os decoradores, aquilo passa de luz amarela a luz verde, encarnada, tipo boîte, e a pessoa está no quarto e vai regulando a cor que está da paredes do quarto. Para além dos leds, há lâmpadas que se compram no Continente, no AKI, são as de baixo consumo. Cada lâmpada dessas para a mesma luz consome 1/5. Com uma vantagem, é que não produzem calor;

- arrancar os candeeiros de halogéneo que têm em casa. Eu tinha lá um candeeiro de pé, daqueles que dão luz para o tecto, que é uma luz indirecta de boa qualidade, 500 Watts, o calor que aquilo dava, como é que se evacua esse calor? liga-se o ar condicionado…

Há dois anos fui a uma reunião no gabinete do Director Geral do Ambiente, o eng. Jorge Borrego de quem sou amigo, e disse-lhe “Oh, Jorge, eu tenho a careca a arder e os pés gelados”, e ele olhou “Carlos, tu tens razão”, as lâmpadas do tecto são aquelas lâmpadas pequeninas encastrados de halogéneo, 2000 Watts no gabinete dele, e depois um sistema de ar condicionado brutal a evacuar aquele calor.

Vocês pensem só uma coisa: queimar electricidade aqui no Pego, ou seja vem o carvão da Austrália e da Colômbia, por barco, foi descarregado em Sines, foi metido no caminho de ferro, foi transportado para aqui, foi queimado aqui, a eficiência do electrão que sai aqui de Abrantes é 1/3 da energia que carvão que foi tirado da mina. Ou seja, 2/3 da emergia já foram consumidos para produzir aquele electrão, portanto, 2/3 já é perda, mas vocês pagaram os 3/3 porque o homem do carvão cobra o valor todo. O país pagou os 2/3 do gás, do carvão, do petróleo e no entanto só saiu 1/3. Mas a história não acaba aqui. Porque aquele electrão que é produzido aqui no Pego tem que chegar aqui ao Hotel ou à vossa casa, nas linhas perde-se 11%, lá vão mais 11% fora, já tinham ido 60%, vão mais 11% fora. E depois vocês tem que transformar aquilo em luz ou em calor ou em frio, portanto, no aparelho perde-se mais uma série. Resultado: a energia que vocês pagaram, porque vocês, o consumidor paga tudo, estejam descansados que a EDP e a GALP fazem lucros fantásticos, toda a gente faz lucros, o tipo que transporta, o tipo que queima, o tipo que vende o aparelho do ar condicionado, toda a gente ganha dinheiro, quer dizer alguém pagou os 100% mais os lucros. Quem é que foi? O consumidor. Portanto, o consumidor pagou os 100% e teve a energia de 25% no máximo, na maior parte dos casos de 20%. Portanto, é estúpido o consumidor, porque está a alimentar um sistema iníquo e está a alimentar a poluição. Nada se perde, toda a energia que não é energia útil é desperdício e poluição, mais nada.

2 – Olhar para equipamentos eléctricos que têm em casa. A primeira coisa é jogar fora o frigorífico e substituir por um frigorífico de baixo consumo. Um frigorifico triplo A ou A+ poupa por ano 150 kW/h, é uma diferença brutal.

3 – Se estão a fazer a casa ou a fazer obras na casa, a primeira coisa a fazer é isolar o telhado, metade da energia de uma casa perde-se pelo telhado. Ou seja, vocês estão no Inverno a aquecer a casa e metade da energia vai aquecer os pássaros que fazem ninho no telhado. É estúpido. Está-se a aquecer o ar por cima. E de Verão é o contrário liga o ar condiconado para fazer fresquinho e o calor a fazer caixa-de-ar a entrar lá para dentro.

O telhado da minha casa foi mal construído de raiz, por isso enchi-o de granulado d cortiça: a temperatura média de Verão baixou 5 graus no piso de cima, 5 grau de um dia para o outro, por ter enchido aquilo de cortiça em vez de ter ar.

Nas casas vai 60% da electricidade do país. 60% da electricidade do país é consumida nos edifícios, e é consumida mal.

4 – A outra coisa, 40% da energia de um edifico são águas quentes, sanitárias e calor de baixa temperatura. Painéis solares de água quente, resolvem o problema completamente 7 a 8 meses por ano, parcialmente nos outros meses de Inverno. Se querem ser mais sofisticados, jogam fora a máquina de lavar pratos e põem uma máquina de lavar pratos com uma entrada de água quente e uma entrada de água fria, porque mesmo que não tenham painéis solares, mesmo que seja com uma caldeira, é mais barato e mais eficiente meter água quente dentro da máquina de lavar pratos, que funciona a 70 graus, e dentro da máquina de lavar roupa que funciona a 40/60, do que aquecer aquilo com uma resistência eléctrica com rendimento de 20% e estar a pagar aquilo mesmo em tarifa bi-horária à noite.

O que vos disse não é nada de complicado, não pede um doutoramento no MIT.

Posso dar-vos milhares de pequenos exemplos destes que mudam completamente o comportamento energético de um país.

E termino, sem falar nos transportes onde só se têm feito disparates em Portugal. Basta dizer que transportar um passageiro em Portugal, de um 1km ou uma tonelada de mercadoria de 1km, custa o dobro da energia do que na Alemanha. E isto porquê? Porque todos os governos, a começar pelos do PSD tiveram as fobias das auto-estradas, e temos o país coberto de auto-estradas e com um caminho-de-ferro igual a quando eu tinha a vossa idade.

Mais nada. Entre Nuremberga e Frankfurt ia-se numa auto-estrada de 6 faixas de viagem, foi inaugurado um comboio rápido, os passageiros em vez de demorar uma 1h30, passaram a demorar menos de 1h do centro ao centro, e o custo em combustível de transportar um passageiro do centro de Nuremberga ao centro de Frankfurt, é 0,7 litros por cada 100km. Não há nenhum carro que faça isso.

E no entanto, vemos as bichas da A5, da A1, do IC19, para entrar em Lisboa e no Porto, e a maioria dos carros têm um passageiro lá dentro.

Isto porquê? Porque quando se fizeram as opções, a começar pela Ponte Vasco da Gama, fizeram-se opções sem caminho de ferro, quando se podia ter feito as opções com caminho de ferro.

Porque só agora é que se fala em meter metropolitano no Aeroporto de Lisboa, e no Porto foi agora há dois ou três meses que se pôs, quando há mais de 20 anos que todos os aeroportos da Europa, têm ligações por metropolitano e por caminho de ferro.

Porque o país precisa de um pensamento estrutural em termos de eficiência global energética e ambiental dos seus sistemas.

Porque investir na eficiência ambiental, investir no painel solar ou na lâmpada, é investir em substituir custos do dia a dia do funcionamento, por custos de investimento, o que geralmente significa custos de investigação científica, custos de trabalho, custos de criar riqueza.

Portanto, o vosso desafio é um desafio de ruptura do mundo em mudança, e um mundo em que vocês para serem protagonistas têm que ter uma visão global do funcionamento dos sistemas económicos, dos sistemas ambientais, dos sistemas energéticos, dos sistemas políticos, que pressupõe que sejam capazes de os descodificar e a partir daí tirar linhas de acção para propor aos vossos cidadãos, sem os quais a vossa actuação política é eventualmente nociva para vós, e para eles sobretudo.

Muito obrigado.

 
 
Daniel Fangueiro
Vamos passar à parte das perguntas.

Tem a palavra o grupo laranja, cujo representante é o Frederico Carvalho.
 
Frederico Carvalho
Bom dia, o meu nome é Frederico Carvalho e como representante do grupo laranja começo por saudar o nosso primeiro convidado, o eng. Carlos Pimenta, e dizer que é uma honra para nós partilhar das suas ideias, e das suas soluções, porque é sempre uma mais valia.

Gostaria também de dar uma palavra de apreço ao Deputado Carlos Coelho pela iniciativa deste evento, é sempre um prazer quando alguém tem a preocupação na formação dos jovens. Uma palavra de apreço também ao presidente da JSD, por estar aqui a representar a J e as suas batalhas políticas no dia-a-dia.

Efectivamente a minha pergunta estava um pouco relacionada com o nuclear, mas já sei que não queria falar disso.
 
Eng.Carlos Pimenta
Sobre isso, vou ao Carlos esta semana um conjunto de documentação no qual eu respondo completamente ao nuclear.
 
Frederico Carvalho
Mas posso ter uma opinião sua agora ou não? Posso ter uma opinião simples?
 
Eng.Carlos Pimenta
É muito mais caro, incomparavelmente mais caro. E é um sistema que só se aguenta à conta dos 10 milhões de cidadãos consumidores.

Primeiro, isso dava para uma conferência de horas aqui a falarmos, mas primeiro, há uma questão: porque é que em 84 o governo, na altura que era do Bloco Central, PS/PSD, era o Mota Pinto e o Mário Soares primeiro-ministro, eu fazia parte desse governo com o Capucho no Ambiente, porque é que nós decidimos pelo “não” ao nuclear em 84.

A primeira grande razão: o Ministério das Finanças considerou-o uma questão de risco. Você mete uma central nuclear, custa-lhe 4 mil milhões de euros. Produz 3,5% da energia do país, 3,5%, correspondente a 25% da electricidade. Uma central nuclear não tem margem de erro, qualquer problema a reacção tem que ser fechar. O ano passado tiveram fechadas 3 da 9 centrais nucleares espanholas, e nós estivemos a produzir em térmica ao máximo em Portugal para exportar para Espanha. Houve um problema gravíssimo na Suécia há 15 dias, todas as centrais nucleares suecas estão fechadas.

(UM MINUTO INAUDÍVEL NA GRAVAÇÃO)

É como no computador, eu tenho tudo aqui, se não tenho backup nenhum, tive um problema, bumba, lá se foi a minha vida toda, a apresentação, a agenda, os contactos, tudo. Eu tenho que ter um backup.

O sistema eléctrico quando tem um potência tão grande de 1600 megawatts, concentrados num sítio, tem que ter um backup, isto falhou. Como falharam as de Espanha no ano passado, porque há um problema técnico, o engenheiro responsável pela segurança diz “fecha”, porque aquilo não funciona como o seu carro, “Eh, pá, está a aquecer, está a faltar o óleo, mas isto ainda anda mais 50 kms..”.

Segunda coisa, você tem 1600 megawatts num sítio, a electricidade que sai, tem que sair por uns canos muito largos, ou seja por uns fios muito largos, e esses fios muito largos tem que chegar pelo país inteiro.

Porquê? Porque no dia em que pára, a onda de choque era o apagão geral.

Se fosse num sistema hidráulico tinha um refluxo todo da água, na electricidade é parecido, de repente tem uma onda de choque, uma variação de frequência. Como quando caiu a árvore na Suiça e a Itália saiu da rede toda, o ano passado, lembra-se, o apagão, ou na América ou em Inglaterra. Na Suiça foi uma árvore que caiu em cima de uma linha de alta tensão, que trazia electricidade da França para a Itália via Suiça, e caiu a árvore, cortou a alimentação, eram duas da manhã aquilo foi de repente o equivalente a saírem duas centrais nucleares da rede Italiana, que é uma rede muito maior, deu uma onda de choque que as protecções do sistema, desencadearam-se em cadeia e a Itália teve um apagão. E Portugal teve várias unidades fabris, incluindo duas sob a minha gestão que se fecharam mil segundos depois da árvore ter caído, porque a onda de choque de variação da frequência de electricidade e variação da tensão sentiu-se por toda a Europa.

Bom, portanto, o que é que o meu amigo tem que fazer? Tem que aumentar os canos, tem que aumentar os fios, tem que aumentar as protecções, e como Portugal é uma pequenina ilha, está ligado com Espanha, tem que aumentar as linhas do lado espanhol até à rede espanhola gorda, não pode ficar só na rede portuguesa.

Só o custo desta reformulação do sistema eléctrico para poder aguentar com a saída de uma central e entrada do backup, e ir buscar a Espanha o que falta de repente, custa 400 a 500 milhões de euros, cálculos do INESP, da Faculdade de Engenharia do Porto e da REN. Só isto.

Terceira coisa, isto não é ilimitado, neste momento o consumo de Portugal em termos de energia eléctrica são 46 TW/h/ano, ou seja 46 mil GW/h. Que nós estamos perfeitamente a produzir, com demasiada térmica.

Com as eólicas que estão em construção e as deste concurso, vem mais 10 teraswatt, dá 56. O país em 2012 deve estar a precisar de 62, se não fizer nenhuma redução de consumo, se não houver nenhuma media de eficiência energética como eu falei há bocado, 46+10=56…

O governo vai lançar o concurso para ciclos combinados a gás que eu não percebo para que é preciso tanta electricidade. E quer adjudicar 6 grupos de 400 MW, cada grupo funciona 8 mil horas, funciona 3,2 x 6 dá 20 teras. Já vou em 80 teras, o consumo previsto em 2012 são 62 teras com a actual ineficiência.

Para quê?

Quer dizer, eu vou meter os ovos num cesto que necessita de um cesto paralelo ao lado, a fazer de backup, vou ter que reformular os canos todos da electricidade, os fios todos e o sistema eléctrico todo, para uma electricidade que não é necessária.

Agora diga-me “Ah, mas não produz CO2”, e eu digo-lhe que é mentira. Não produz CO2 a fazer vapor de água que faz electricidade. E então e como é que aquilo chega lá? O urânio não foi minerado, não foi enriquecido algures aí no mundo? Não foi transportado? Os resíduos não são depois tratados? A central não levou toneladas de betão?

Se eu fizer o ciclo de vida, porque é ao ciclo de vida que a gente tem que fazer a análise. Ai produz muito CO2. E depois o que é que o meu amigo faz ao lixo?

A França já não aceita. Porque o parlamento francês recusou a importação de mais resíduos, que era o negócio que eles tinham lá. O Putin aceita, portanto pode fazer um negócio com os russos, que é fazer ali um cais no Porto de Setúbal ou no de Leixões e ter ali um terminal protegido e com polícia de choque permanente 24h, não vá algum tipo lá ir buscar resíduos radioactivos para fazer com o plutónio disseminação nuclear, quer dizer, tem que ter todo um esforço de segurança, custa muito dinheiro e tudo isso, e exportar para a Rússia, que é o único sítio onde neste momento aceitam.

Isto é uma coisa de loucos.

E agora uma pergunta: quem é que paga o seguro?

Quando você põe um painel solar no telhado tem um seguro, porque o painel solar pode cair cá em baixo e matar uma pessoa.

Portanto, eu tenho um seguro de responsabilidade civil, não é?

A central nuclear não tem seguros. Porquê? Porque não há companhia de seguros que faça esse seguro. Porque se aquilo fizer “bummmm”, não há dinheiro no mundo para pagar o “bummmm” que aquilo fez. Foi o que aconteceu em Chernobil, quem levou radiação levou! Paciência!

E quem é que faz seguro quando não há seguro? É o Estado. E é isso que a Convenção de Viena e as normas do EUROTOM prevêem.

Portanto, não tem sítio para tratar dos resíduos. Ah, mas diz-me “Portugal tem urânio”. Pois teve, mas vá ver as minas de Urgeiriça, uma catástrofe ambiental.

Alguém conhece aqui as minas de Urgeiriça? Donde tirámos o nosso urânio? É uma catástrofe, uma catástrofe. Radioactiva, com lagos e charcos completamente radioactivos, e nem sequer isso descontaminámos.

Se há uma coisa que me faria voltar à política activa, era haver uma proposta séria.

Pelo contrário, há tempos falou-se de senhor que não tem engenheiros e queria fazer uma refinaria em Sines. Também o sr. Patrick Monteiro de Barros quando tem dois engenheiros, e depois descobriu-se que o que ele queria era mil e duzentos milhões de euros de subsídio. Eu assim também fazia uma refinaria. Se o sr. for o  Estado e me der  mil e duzentos milhões de euros, eu com mil e duzentos milhões de euros também faço qualquer coisa. Por amor de Deus!

Portanto, a refinaria éramos nós que a pagávamos e o CO2 éramos nós que o pagávamos também. E a central nuclear também não é sério, mas se houvesse uma proposta séria, imaginemos que a Iberdrola do Pina Moura diz “Eu quero fazer uma central nuclear em Portugal”, isso já é uma proposta séria, porque é uma empresa que tem a capacidade de o fazer.

Ai, digo-lhe: era o necessário para eu voltar à actividade política, e muita gente voltar porque seria um grande crime nacional.

Portugal tem um potencial enorme de energias renováveis para fazer, não apenas para a electricidade, mas para o calor como falámos.

 
Sara Brito
Eng. Carlos Pimenta muito bom dia. Em nome do grupo Bege gostava de lhe colocar uma questão, nós perguntamos se os grandes obstáculos às energias renováveis, não são os interesses económicos e a falta de vontade política?
 
Eng.Carlos Pimenta
Hoje é mais uma resistência difusa, mas no passado foi. Eu fui durante 18 anos auditor ambiental da EDP em conjunto com o prof Ribeiro Telles, e o Prof. Oliveira Fernandes, e quando nós tentámos convencer a EDP a fazer parques eólicos e a fazer medidas de poupança de energia, os sucessivos presidentes da EPD diziam-nos: Ó Pimenta, sobre isso da conservação da energia e da eficiência, você está maluco, o meu negócio é vender electricidade, quanto mais electricidade eu vender mais ganho, então agora vem dizer que eu faça campanhas para as pessoas pouparem electricidade. Eu quero que eles consumam, homem.

Portanto, é o tal sistema perverso.

Se a minha amiga instalar um sistema de isolamento na sua casa, por debaixo das telhas, vidros duplos, a parede dentro do tijolo uma lã de vidro especial isolante, essas coisas que se põem, paga 21% de IVA. Ou seja, se esses materiais custaram 10,000 euros pagou 12.100 euros, pagou 2.100 de imposto ao Estado por isso; se a minha amiga puser um painel solar no telhado para fazer água quente para tomar o seu duche, e para lavar os pratos, paga 12%; se a minha amiga não fizer nada disso e puser um termoacumulador para lhe aquecer a água com electricidade, paga 5% de IVA.

O que é que o Estado lhe está a dizer? Não isole a casa, não ponha um painel solar, consuma electricidade.

Isto é um exemplo de uma alteração. Há 20 anos que eu me bato pela alteração do sistema fiscal, de maneira que no mecanismo de formação dos preços e na leitura que o consumidor faz daquilo que o Estado lhe dá como sinais, corresponda o sinal económico a um bom comportamento ambiental, que também é o bom comportamento económico do país.

Isto passa-se, por exemplo, também no imposto automóvel, o Governo prometeu agora que finalmente vai mudar o imposto automóvel. Há anos que um conjunto de economistas e de ambientalistas diz que não faz sentido que dois carros com 1200 cm3 de cilindrada paguem o mesmo IA. Devem pagar o IA proporcional aos gases de emissão, incluindo o CO2, ou seja, incluindo o consumo. Se assim fosse, as pessoas andavam de híbrido, como é óbvio.

Eu pela primeira vez na vida vou comprar um carro não europeu: um Toyota. É que no Parlamento Europeu me cansei de lutar contra os grandes empresários europeus de automóvel que resistiram ao máximo à introdução de tecnologias até simples como a do híbrido. É uma tecnologia simples: o motor eléctrico e o motor de combustão mas com electrónica de maneira a quando eu estou parado, os motores estão parados, quando ando a descer está a carregar as baterias, quando travo está a carregar as baterias, portanto, não é o hidrogénio, não é a economia do futuro, mas é a economia do presente, com a tecnologia do presente, com a utilização inteligente da tecnologia do presente, que é a primeira coisa que se deve fazer, antes de dizer “eu não vou por painéis solares porque o Pimenta estava a dizer que vem aí a nanotecnologia”. Mas isso é daqui a 15 anos, homem! Para já ponha o painel solar; para já ponha uma lâmpada de baixo consumo; para já compre um carro de baixo consumo.

Portanto, o que impediu de por painéis solares nos telhados foi a estupidez das pessoas: os arquitectos que não têm formação; os engenheiros civis que não sabem fazer; uma lei estúpida que existe em Portugal, que é a lei 7373, que permite que um não arquitecto assine projectos de arquitectura. Há vinte anos que eu me bato contra a minha Ordem, a Ordem dos Engenheiros para que acabe esta lei iníqua, que permite que um colega meu, engenheiro, assine um projecto de arquitectura. Para que é que servem os arquitectos? Depois o país está cheio de mamarrachos, como é óbvio! Porque os meus colegas não aprendem a desenhar, aprendem a calcular, os pilares são grossos, ai isso são, não pomos um coeficiente de “cagaço” de 20% por cima do que é necessário para suportar o prédio, é isso que a gente aprende no técnico, 20% a mais, portanto aquilo não cai. Agora, não cai mas é feio! Não cai mas não funciona bem!

Aquilo que impediu a introdução de energias renováveis foram os interesses do mecanismo económico instalado, de uma lógica da empresa de petróleo, quando mais petróleo vender mais ganha, o Estado quanto mais petróleo se vendesse mais imposto petrolífero consumia. Tudo estava promovido para o consumo de bens importados.

Mais exemplos de tacanhez: “ai que o moinho de vento é feito!”. Daqui a vinte anos, quando eles forem arrancados, produziu muita energia, sem qualquer poluição. Traduziu-se em riqueza para a aldeia e para o município onde estavam instalados. Muitos estão em sítios isolados, no ermo das serras que não têm receita nenhuma daqueles baldios.

Uma pessoa chega a Copenhaga e vê o mar cheio de ventoinhas, e eles estão todos orgulhosos porque metade da cidade já é alimentada pelas ventoinhas. 50% da electricidade da Dinamarca vem das renováveis, ¼ do vento e outro ¼ da palha e das outras renováveis produzidas pelas quintas. 50%!

Nós, 85% da energia vem importada, e temos mais sol e mais vento, caramba! E eu costumo dizer: eles são um país pobre e nós somos um país rico. Eles têm que utilizar os recursos naturais: o vento, o sol, a palha, etc.; nós não precisamos, portanto fazemos uma casa e não pomos lá o painel solar.

Eu, lá em minha casa que aquilo é uma espécie que laboratório de experiências, tenho um orgulho muito grande, neste momento temos uma casa de energia positiva, produzo mais electricidade do que a que consumo, pelos fotovoltaicos, produzo mais energia térmica do que aquela que consumo.

E estou a produzir o meu próprio solo sem adubos, através de compostagem e de plantação de leguminosas para fixar o azoto e não ter de pôr nitratos. E não é nada doutro mundo, não é nenhum doutoramento, são coisas de brincar, de aparafusar, e pôr, de comprar uns kits, e por assim umas coisas.
 
Dinis Filipe Carvalho
Antes de mais bom dia. Gostaria de saudar o eng. Carlos Pimenta e a organização da nossa Universidade de Verão.

A minha pergunta é acerca da co-incineração que está de certa forma ultrapassada e os governos portugueses tentam sempre implantá-la ao longo dos anos no nosso País.
 
Eng.Carlos Pimenta
Eu aí acho que vai muito da personalidade do nosso Primeiro-Ministro. Ele é um homem teimoso, para o bem e para o mal, há coisas em que é preciso ser teimoso. Em Portugal a pessoa que não for teimosa não faz nada, aliás o que costumo dizer às equipas com quem trabalho é: vocês sejam perseverantes, porque o sistema tem muitos obstáculos mas é fraco, se forem teimosos acabam sempre por conseguir.

E o homem é teimoso, embicou para aquilo, ele engoliu mal a derrota que teve quando era ministro do ambiente.

Vamos lá ver, a co-incineração é um processo de queima de resíduos numa instalação que queima outras coisas com um processo complementar ou suplementar. Deve só ser utilizado como último dos últimos recursos. Ora, nos nossos governos foi posto de pé um sistema que separava os vários tipos de resíduos e a cada tipo de resíduos dá-lhe tratamento final mais adequado. Que pode ser a regeneração como nos óleos, reciclagens, reutilizações noutro tipo de coisas, etc.

Por exemplo, pneus estavam a ser co-incicenerados na Fábrica de Leiria, Maceira: não tem sentido. Pode ser incorporados no pavimentos, pavimento de pavilhões gimno-desportivos, de pátios de escolas, que dão alguma elasticidade ao pavimento de betão até mesmo em estradas, não faz sentido estar a fazer aquela fumarada toda e estar a queimar borracha, quando a pessoa pode utilizar aquela matéria-prima noutras coisas que são úteis.

Portanto, o que nós teríamos feito se tivéssemos continuado no governo, e eu até sou critico de muitas coisas que fizemos nos nossos governos, mas aí fizemos uma coisa boa, ao longo dos 4 ministros do ambiente que passaram pelos dois governos presididos pelos PDS nos  últimos anos, foi realmente o projecto do CIRVER’S. Eu levava o projecto dos CIRVER até ao fim, e depois? A co-incineração a existir seria numa cimenteira extremamente residual com volumes muito pequeninos para queimar o refugo do refugo que em alternativa podia ser exportado ou depositado em aterro sanitário controlado. Agora, fazer o que ele quer fazer atropelando as leis todas, não há estudos de impacto ambiental porque não é para haver, é para meter lá o lixo quando os CIRVER estão quase prontos, e não levar o projecto..

Quer dizer, a minha opinião é a mesma do prof. João Pardal, presidente da Junta de Freguesia de Souselas: ele é m universitário, sabe o que está a falar, e estudou profundamente o assunto, e é um homem seríssimo.

Portanto, é uma estupidez, eu desejo a melhor das sortes ao Carlos Encarnação, Presidente da Câmara de Coimbra, e ao João Pardal, Presidente da Junta de Freguesia, porque efectivamente não tem sentido o que eles estão a fazer, é mera teimosia.

Eu não posso interpretar isso doutra maneira, é quase uma coisa de personalidade. Porque no projecto original tinha interesse económico para as cimenteiras, porque eles iam queimar tudo, era tudo ao monte e fé em Deus, e isso ia substituir uma parte importante de combustível. É por isso que eles tinham feito, quando o país mesmo no projecto original da Elisa Ferreira, bastava uma cimenteira, como aquilo tinha muito valor económico, eles dividiram uma cimenteira da Secil e uma da Cimpor para ganharem os dois. Em vez de pagaram carvão, os outros é que lhes pagavam para queimarem o lixo. Ganhavam duas vezes, era carvão a menos, era dinheiro a menos a sair e dinheiro a mais a entrar.

Como avançámos para uma solução moderna, actual, do mais moderno que existe, que são os centros integrados, o actual governo já não pode voltar atrás. Agora já só vai uma parte para dentro da cimenteira, mas já não tem o volume suficiente para justificar sequer economicamente um sistema de controlo adequado e de monitorização adequada, da perigosidade dos resíduos que são atirados. Passou a ser marginal, porque é uma teimosia, é uma coisa que não tem sentido económico, que tem uma solução alternativa, que está implementada, que está escolhida, e pronto, o que é que lhe hei-de dizer..
 
Bruno Jivan
Muito bom dia sr. eng. A questão do nosso grupo prende-se com as implicações do Acordo de Quioto, e particularmente com o mix sustentável da forma de produção de energia eléctrica, e o caminho ou o modelo energético mais adequado para garantir a segurança no abastecimento.

Referiu que vamos transferir e importar know-how para o nosso país, isto vai ter um custo, o know-how já desenvolvido há largos anos por empresas como a VESTAS, a Enercom, entre outras, o desenvolvimento desta indústria que certamente permitirá substituir a importação deste equipamento e a integração a 100% da indústria nacional, no entanto a sobrevivência futura é via exportação, mas quase todos os países estão a desenvolver este tipo de indústria, será que haverá mercado futuro para canalizar esta produção?

E um caso complementar, ainda no seguimento das energias renováveis, atendendo à aparente potencialidade da costa portuguesa, porque não uma maior aposta na energia das ondas? Apoiando e investindo na investigação e desenvolvimento poderíamos ocupar uma posição de early player, ao contrário do que acontece nas eólicas, nas ondas poderíamos realmente ter uma mais-valia.

Por fim, gostaria de obter a sua opinião sobre o hidrogénio: se ultrapassadas as limitações técnicas do hidrogénio, e se realmente for uma energia limpa, como ultrapassar a pressão de alguns grupos, e mudar uma economia baseada em combustíveis fósseis?
 
Eng.Carlos Pimenta
Olhe, a Presidência da República pediu-me para organizar e organizei um dia inteiro para responder às suas perguntas. E tenho aqui os slides dum dia inteiro, porque viemos 8 professores da universidade, cada um apresentar as ondas, o sol, eólicas, etc.

Fez uma pergunta muito bem feita, muito completa, abrangendo isso tudo.

Vamos lá ver, pegando nas renováveis, nós temos que distinguir entre tecnologias que estão maduras, tecnologias que estão numa fase de já exploração comercial mas ainda de grande mutação tecnológica, e outras que estão ainda na fase da investigação do protótipo.

Maduras estão duas das renováveis: a hídrica e a eólica. Ambas têm muito a andar ainda, todos os anos, sobretudo na eólica. Por exemplo, o primeiro parque eólico foi o de Sines, licenciado há 20 anos. Hoje uma máquina das modernas produz mais com menos impacto visual e menos ruído.

O primeiro parque eólico cuja instalação dirigi foi em 2001. As máquinas tinham, cada máxima 1,6 MW de potência, e um diâmetro de pás de 66 metros, eram as maiores do mundo. Estive no outro dia perto de Bremen, na Alemanha onde havia cinco máquinas de seguida a produzir com 112 metros de diâmetro de pá, ou sejam, cada vez que dá a volta a superfície varrida é maior que a cobertura do Estádio da Luz, ou das Antas ou do Sporting, e com 6 MW por máquina, e já está em construção uma com 124m de vela de diâmetro, e 8 MW.

Uma máquina destas alimenta uma povoação inteira de alguns milhares de pessoas.

Mas, são, digamos, melhorias incrementais. Se a proposta que estou a organizar ganhar em Viana do Castelo, vamos instalar uma máquina que é a mais moderna que existe, que nem sequer está ainda certificada, só está em protótipo de pé e vai logo ser instalada em Portugal e na Alemanha os primeiros modelos.

Mas vai ficar uma fábrica evolutiva. Porque na energia eólica começaram primeiros os Estados Unidos, depois foi a Europa que disparou, agora os Estados Unidos estão a disparar outra vez, mas daqui a dez anos será a Ásia o grande mercado. Portanto, nós, mundo, estamos a instalar por ano, neste momento, 8mil milhões de euros correspondentes o ano passado a sete mil e tal MW de energia eólica nova, por ano. O que é muito. Mas agora as contas para os Estados Unidos e para Canadá, para a China e para a Índia, apontam para a instalação nos próximos 12 anos de duzentos mil megawatts. Ou seja duzentos e cinquenta mil milhões de euros.

Neste momento, se o meu amigo tivesse uma licença para instalar uma máquina, que não há à 4 anos nenhuma licença dada em Portugal, - é verdade, uma coisa, nos nossos governos nós não demos um único megawatt de licenças, o PSD tem que se envergonhar disso, as últimas licenças para instalação de energias renováveis em Portugal datam de Janeiro de 2002, no último governo do Guterres, o resto foi só conversa, passaram o governo Durão Barroso, Santana Lopes, agora este do Sócrates, e ainda não foi dado um megawatt, os últimos que foram dados foram um E4 em 2002.

O último Secretário de Estado que sabia alguma coisa que estava a fazer na energia, foi o Prof. Oliveira Fernandes, que é professor catedrático na Universidade do Porto: E isto é como andar de bicicleta, esquece muito a quem não sabe, portanto Portugal tem a hipótese de ter um cluster destes, de ter um grande mercado de exportação, porque a Bacia do mediterrâneo está a instalar milhares de megawatts e nós em Viana do Castelo estamos muito bem colocados, melhor do que está a Alemanha e Dinamarca, para exportar para a Bacia do Mediterrâneo. Mas muito, muito bem colocado.

A indústria que vai a seguir explodir, que já está a explodir e que também já não há nada para entrega antes do final de 2008/2009, é o solar fotovoltaico. E o solar de produção de electricidade a partir de calor de alta temperatura. Porque nós o solar que falámos, há bocado, foi o solar do painel para tomar duche, que leva água a 50 ou 60 grau. E agora, fotovoltaico vai levar uma revolução brutal. Eu estou neste momento a trabalhar num projecto, se tudo correr bem, não sei se vai correr se não, está mais atrasado, e é um projecto que começou torto, que será um projecto de instalação em Portugal de uma central de 200 milhões de euros de investimento, associada a uma unidade fabril e transferência de tecnologia de uma grande multinacional instalada no Alentejo, para a produção de fotovoltaico.

E o fotovoltaico: a produção de electricidade a partir do sol. Neste momento os grandes produtores são japoneses, a Sharp, a Sanyo, a Quiocera, depois vêm americanos e alemães. Vai ser um bum. Eu calculo que dentro de menos de 10 anos, o investimento anual em células para produzir electricidade a partir do sol, com uma tecnologia diferente destas que se vêm ai nas auto-estradas, nos telefones de emergência, ou nos postes das antenas da Vodafone ou da TMN, e que eu instalei em minha casa, vai ser completamente diferente, vão ser filmes que se colam nas paredes, filmes que se colam nos vidros, filmes ou tapetes que se põem em cima das telhas, portanto, coisas que se integram no construído e que não tem obstrução visual, nem ambiental e que vão gerar electricidade.

Portugal está na hipótese de poder participar numa equipa grande da universidade, amanhã de manhã tenho uma grande reunião sobre isso, com vários professores e investidores possíveis, e um dos bancos portugueses que já meteu 400 mil euros nisto. E ver se podemos fazer isto em Portugal.

A seguir ao sol ou em paralelo com o sol, a grande é a biomassa, os biocombustíveis.

Nós habituámo-nos ao petróleo, somos petróleo-dependentes. Não há falta de energia no mundo, nem sequer falta de energia fóssil. Há carvão para mais duzentos anos. Há metano debaixo do mar para imensos anos, petróleo para 40,50 anos, gás natural para 60-80 anos. E quando petróleo chegar a 100 dólares o barril, tudo é competitivo, fazer petróleo a partir do carvão, fazer petróleo a partir das lamas das betuminosas, fazer petróleo a partir soja, a cem dólares o barril?! Eu faço petróleo. Não precioso de poços, eu faço petróleo!

Neste momento, o Hugo Chavez fala como fala porque com as lamas que ele tem na Venezuela aquilo corresponde a 12% do total do petróleo que há no mundo inteiro, e a estes preços/quilo vai ser transformado em petróleo, como o Canadá. As lamas de Alberta no Canadá e as lamas do Orinoco na Venezuela, juntas correspondem a 600 mil milhões de barris de petróleo, que é 25% to petróleo todo que há no mundo, só neste dois países. O problema é ambiental. É queimar isto tudo que produz CO2 que nunca mais acaba. E, há um problema económico de curto prazo, que é que estas infraestruturas não estão construídas e o mundo está todo ele construído para levar na veia o ouro negro.

Temos um problema de transição de sistemas energéticos e temos um problema ambiental, não temos um problema de falta de energia, valor absoluto. Já falta de água doce, é capaz de haver em muitos sítios.

Em relação às ondas: é uma tecnologia para investigar, para experimentar protótipos, mas estamos na fase do protótipo. Não é ainda para fazer megawatts, é para experimentar e ver como é que os materiais se corroem, etc.

Meus amigos, o país não pode ir para a frente se os estudantes, incluindo vocês, tiverem a iletracia em Matemática, em Química, em Física, em Biologia, porque se o século XX foi o século dos engenheiros, o século XXI é o século dos físicos e dos biólogos. E os que querem seguir essa vida têm mesmo que ser muito fortes em ciências base e têm que saber essas coisas.

Eu estou optimista que no vento não perdemos o comboio e ainda podemos apanhá-lo, embora o comboio já tenha saído, mas a estação ainda está muito longe.

No sol o comboio está agora a arrancar a sério, e estamos em condições de o tomar desde o primeiro dia.

Nos biocombustíveis quem está à frente são Brasil e Estados Unidos.

Nas ondas e outros estamos na estação zero. Mas não se pode apostar em tudo, mas é uma questão de apostar em protótipos e apostar em equipas, como por exemplo a do prof. Sarmento do Técnico e outras, que são equipas com qualidade e que merecem ser apoiadas e integradas em programas europeus de investigação e desenvolvimento.

E Portugal tem gente muito boa. O nosso problema é um problema de gestão, não é um problema de falta de gente boa.
 
Pedro Azevedo
Muito bom dia, em nome do Grupo Roxo gostaríamos de cumprimentar todos os presentes, a mesa e a V. Exa. Eng. Carlos Pimenta.

Tínhamos uma questão relacionada com o que acabou de referir com a biomassa: em que medida é que as centrais de biomassa, (como o projecto de Mortágua) podem contribuir para a redução da nossa dependência energética. Mortágua teve um processo algo conturbado como a questão do equipamento tecnológico: havia um problema de implementação de um modelo nórdico num país como Portugal.

Hoje, apesar de ainda não transmitir uma imagem de excelência, gostaríamos de saber em que medida é que as centrais de biomassa são ou podem ser viáveis?
 
Ricardo Acto
Bom dia a todos. Antes de mais saúdo todos os presentes e a organização.

A nossa pergunta é sobre a dependência energética: o que podemos fazer e até onde podemos chegar em relação ao consumidor final.

Somos inclusive conhecidos, o nosso país, por variar muito do dinheiro que temos na carteira, como costumamos dizer nos portugueses, e de que modo é que realmente podemos alterar isso, sensibilizar o utilizador final com algumas das ideias que o sr. eng. disse há pouco.

E por outro lado, uma outra questão que tínhamos, mas que pode estar subjacente, é o facto de existirem países como a China que justifica por ser um país em desenvolvimento ou os EU ,porque visto que é um país que tem uma economia muito forte e que isso afectaria, não cumprirem essas metas, de que modo é que podemos sensibilizar também num futuro próximo, os consumidores finais a haver aqui um, não digo um embargo ou um bloqueio, mas realmente estamos a falar de dois países onde chegam grande parte dos produtos que temos e até dos aparelhos que utilizamos todos os dias.

No fundo, abordar esta questão, se calhar da competência desleal do mercado.
 
Eng.Carlos Pimenta
Devo dizer que as perguntas são todas de grande qualidade e de muita actualidade.

Primeiro sobre biomassa. O meu amigo está a introduzir, quero dizer, um tema de biocombustíveis e de biosubstâncias diferentes daqueles que falei até agora. Eu falei até agora na utilização de substâncias vegetais, seja para produzir álcool para misturar na gasolina, seja substâncias gordas, óleos usados, sojas, etc., para produzir diesel para misturar no diesel.

O que o meu amigo está a falar é a utilização de biomassa sobretudo lenhosa, portanto, resíduos de floresta, etc., para queimar e com essa queima produzir vapor e o vapor fazer accionar uma turbina que produz electricidade.

Eu acompanhei o processo de Mortágua até porque era auditor da EDP, e lembro-me de lhes ter dito na altura: “vocês o que têm é um mau projecto a gás, não é um projecto de biomassa”, outras pessoas disseram isso. Aquilo custou uma fortuna ao bolso dos portugueses, porque recebeu na altura 3 milhões de contos de subsídio a fundo perdido e nunca há-de produzir electricidade para pagar os subsídios que recebeu.

Em relação ao concurso que está em causa agora, de 100 MW para centrais de biomassa para limpar a floresta, eu quero chamar a atenção de uma coisa: não se pode fazer a barba à floresta. Fazer a barba à floresta com a ideia de que se vai lá com uns tractores e que se limpa tudo o que está em cima do chão, seja folhas caídas seja ramos, porque assim não arde nada, não arde nada porque não fica lá nada. O que significa que daqui a 50 anos será um deserto.

Então vamos lá ver, eu na minha pequena quintinha, o que faço é meter biomassa em cima do chão, e depois daquilo estar apodrecido e seco passo com um motocultivador, misturo o chão e vou enriquecendo-o.

Quando eu fui para lá aquilo era 80% argila que mandei analisar no LNEC, e agora começo a ter já solo preto de onde já sai umas couves.

Se vou à Floresta e na fobia de não ter fogos, e na fobia de aproveitar toda a biomassa, o que tenho é uns tractores com umas pás à frente a limpar e arrasar tudo, e fica o chão limpinho por baixo, eu vos garanto que daqui a 50 anos não há mais pau. Porque não há mais nutrientes. O que tem de se fazer é solo em cima.

Tirar da floresta aquilo que posso tirar, para aproveitar, para fazer madeira, para móveis, para pasta de papel, para queimar, com calma. Deixando alguma coisa que tem que apodrecer, tem que entrar dentro do ciclo normal da vida, decomposto pelos insectozinhos e pelas bactérias, e que tem que entrar na formação do solo.

É muito simples, os romanos foram a primeira civilização urbana que desertificou o Alentejo e Marrocos, porque eles precisavam de madeira para fazer casas, barcos, para se aquecerem, para energia, e o resultado foi uma desflorestação maciça de grandes partes do sul do mediterrâneo, que dois mil anos depois ainda hoje estão sem árvores.

Eu penso que 100 MW (o que está a concurso) é demais. Esta é a minha opinião. Eu e a minha equipa técnica fomos consultados por muitas empresas que queriam o apoio técnico de engenharia para projectos de biomassa, e eu vi vários dos projectos e tirando um que era onde está metida a EDP com uma celulose, que me parece ter um mínimo de sustentabilidade, tudo o resto que foi baseava-se em fazer a barba à floresta. E eu disse: isso não é ecologicamente sustentado, não patrocino.

A outra pergunta é relativa à eficiência energética. Onde é que podemos ir? Olhe, o céu é o limite - eu estou aqui com isto encravado, se não ia-lhe mostrar um slide de um coisa que funciona muito bem que é, ou melhor, podia funcionar melhor, mas funciona bem, que é toda a zona da Expo, em Lisboa. O que funciona mal é que ultimamente têm estado a tirar as áreas verdes para fazer mais prédios, e não respeitar o plano de ordenamento e o plano da Expo quando ela foi feita, como de costume em Portugal. Onde está um jardim passa a estar qualquer outra coisa.

Na zona da Expo estamos a falar de casas para 30 mil pessoas e o m2 já usa metade da energia do m2 médio de Lisboa.

E porquê? Porque desde o princípio da Expo 98 e depois do Parque das Nações que se lhe sucedeu, houve por parte da autoridade na altura, a Parque Expo 98 na altura, o cuidado de pôr obrigações de boas tecnologias em termos de isolamentos e das posições dos prédios. Por exemplo há duas torres com 15 andares ou 16 andares que estão do lado sul da Expo, mesmo já perto da ponte Vasco da Gama, são duas torres brancas muito altas, consomem 2/3 menos de energia do que a casa média de Lisboa.

E porquê? Porque foram bem isoladas, porque foram bem expostas, porque têm painéis solares no telhado, pré-instalados, portanto, o prédio quando foi feito, foi feito logo uma canalização de aproveitamento de água quente que vinha do telhado e distribuída nos vários apartamentos.

A Expo fez uma central de geração de electricidade com tri-geração, ou seja, produz calor e produz frio, e armazena energia nos bancos de frio subterrâneos com gelo, e as pessoas têm frio distribuído em casa em vez de ter um mamarracho na janela a produzir ar condicionado.

Portanto, do princípio da constituição de um bairro, houve o pensamento de pôr o bairro a funcionar de uma forma eficiente.

É um exemplo, feito em Portugal, em 98, que ainda hoje funciona bem para 30 mil pessoas, é muita gente. E foi possível fazer com eficiência.

Mas posso-lhe dar milhões de outros exemplos. Iluminação pública, por exemplo, a maior parte dos candeeiros de iluminação pública que estão aí são um desastre, estão a aquecer o ar em vez de iluminar a terra.

Piscinas. Eu fui no outro dia visitar uma piscina de uma Câmara Municipal de um distinto autarca, e até é uma pessoa importante no PSD, que todo orgulhoso me mostrou a piscina, paga a 75% pelo FEDER, e que eu olhei para aquilo e disse “Ó sr. Presidente, isto é um mono, isto é um desastre, isto é um crime ecológico e é a falência da câmara”.O homem ficou ofendido e ficou a olhar para mim, aquilo era uma coisa feita por um arquitecto, de raiz, de nome e tal. Aquilo era uma piscina, que não vou dizer onde é que é, porque não queria envergonhar alguém que seja dessa zona que esteja aqui na sala, então o que é que era: era um caixote de vidro, bonito e tal, o design até era bonito mas era um caixote de vidro, eu olhei para aquilo e disse: olhe, isto é assim, de Verão cá dentro é uma estufa, portanto, o calor do ar lá dentro só com o sol que entra, deve estar acima dos 50 graus, portanto os miúdos têm de andar de chapéu, com creme factor 50 porque senão ficam ali tipo lagosta cozida. Depois com o vapor que sai da água que também está quente, estamos em condições semelhantes àquelas que eu encontrei na selva amazónica quando andava lá com os índios, que é um ar muito quente e um grau de humidade de 98%. Depois tem um outro problema, que é o Inverno, a parede virada a norte de Inverno sendo tudo em vidro vai criar uma humidade, que tudo o que seja fecho de cacifo, fechaduras, tudo o que seja metal, pim, pim, vai cair tudo de ferrugem. Aqui isto é um desastre, você já calculou quando é que vai gastar de energia para arrefecer o ar da piscina, para lhe tirar a humidade, e de Inverno para a aquecer. Isto é um… Fez-se a conta, eram 30 mil contos por mês. Bem, não tinha sentido. Pago a 75% pelo FEDER, inaugurado agora.

Portanto, estão a ver, dei-lhes um exemplo de um bairro, de um equipamento desportivo colectivo, da iluminação pública, há bocado dei-vos exemplos da vossa casa, não falei em nenhum dos casos de coisas que podia ter falado e que já pedem outra bagagem de instalação. Não é? Falei de coisas simples. E que juntas, quando pensam que 60% de electricidade vai nos edifícios, e não falámos do sistema de transportes onde aí então, sobretudo para vocês os que forem autarcas, por amor de Deus! O que nós estamos a fazer nas nossas cidades. A velocidade média dum autocarro na Carris é 14 km/h. 14km por hora, significa um péssimo consumo de energia, porque o motor consome uma brutalidade de diesel, o que significa uma brutalidade de poluição no tubo de escape, que faz com que Avenida da Liberdade, apesar do vento que temos, seja dos sítios piores na Europa em termos de qualidade do ar.

Portanto, não há possibilidade de ter um sistema de transportes públicos eficiente, se os transportes públicos andam a 14km/h. E aí, eu sei muito bem, é para me calar, mas aí vamos ter que pensar a sério como é que se gerem as nossas cidades.

E aí há umas medidas a tomar que eram objecto de outra conferência.
 
Dep. Carlos Coelho
Dado o tempo e sendo que cumprimos rigorosamente o começo e o fim das conferências, irão ser proferidas agora as 4 perguntas em simultâneo, para a resposta final do nosso orador.

 
Filipe Carraco dos Reis
Antes de mais queremos saudá-lo e agradecer a sua presença neste fórum de debate que é a Universidade de Verão da JSD, em segundo lugar também dar aqui algum ênfase à sobriedade e ao esclarecimento com que consegue falar destas questões. Eu que sou, digamos, profissionalmente, um profissional recente no mercado de trabalho, já criei a ideia de que nós para sabermos falar de alguma coisa com consistência e dominarmos temos que perder muitas horas, muito trabalho, muito estudo, é preciso fazer o trabalho de casa e isso aí acho que não há margem para dúvidas que certamente deve ser das pessoas mais bem preparadas destes assuntos em Portugal.

E passava então à questão que queria formalizar aqui, e que se prende com o seguinte: também no meu concelho um projecto recente, que foi feito o protocolo este ano, para instalação de uma unidade, que é da multinacional AGNI, para produção de pilhas de hidrogénio através da valorização dos efluentes das agro-pecuárias, no fundo era um problema ambiental que nós localmente estávamos a questionar.

Dos últimos dados que tive acesso no projecto, que vai ser apresentado, e iniciada a construção da unidade de produção e do centro de investigação e desenvolvimento, que é o primeiro na Europa daquela empresa, foi-nos comunicado que 85% da produção inicial já estava contratualizada para exportação para o mercado europeu.

No fundo sendo uma nova tecnologia, e sendo uma metodologia nova de produzir energia e falando-se neste nível de exportação, se calhar, poderia aqui significar um virar da página, em vez de sermos importadores, podemos passar a ser exportadores.

Gostaria que dissesse qual é a sua convicção, opinião acerca de um projecto deste tipo.
 
Carla Fernandes
Antes de mais nada gostaríamos de agradecer a presença do Eng. Carlos Pimenta e saudá-lo.

Como representante do Grupo Castanho vou fazer a nossa pergunta que é de teor mais político, nós gostaríamos de saber como é que o Sr. Eng. analisa o papel dos EUA ao não terem assinado o protocolo de Quioto, quando este é um dos países que mais polui?

Obrigada.
 
Nataniel Araújo
Queria agradecer a objectividade do Eng. Carlos Pimenta no seu discurso, e passaria à pergunta: sabendo que em Portugal a eficiência energética está longe de ser regra, e como foi ouvido aqui é possível ter conforto e ao mesmo tempo reduzir consumos, qual deverá ser o papel do Estado no âmbito da educação ambiental?
 
Inês Aguiar Branco
Em primeiro lugar queria agradecer à organização por ter tido a excelente ideia de convidar o Sr. Eng. Carlos Pimenta para vir partilhar connosco a sua vasta sabedoria e experiência, e queria agradecer-lhe também por estar presente.

Nós tínhamos no início uma pergunta sobre coeficiência, mas como já foi respondida, vamos usar a segunda: a nossa dúvida é até que ponto se está a dar a devida importância à investigação de sumidores de CO2 não naturais, porque a maior parte das pessoas pensa que só as árvores é que são sumidores de CO2, só na natureza e isso não é verdade, e queríamos saber que outros não naturais é que conseguem fazer isso.
 
Eng.Carlos Pimenta
O Carlos Coelho está-me a dar 5 minutos para tudo, o que é literalmente impossível.

Eu não conheço a tecnologia dos malaios. Conheço o projecto, estou convencido que a economia do hidrogénio, - mas, só queria dizer-vos uma coisa sobre o hidrogénio, o hidrogénio e a electricidade têm uma coisa em comum, são elementos, um como elemento como substância, e o outro como forma de energia, que existem abundantemente na natureza, mas que o homem desgraçadamente não consegue ir buscar o que existe na natureza. Portanto, tem que produzir electricidade e tem que produzir hidrogénio para os poder utilizar, embora desde Franklin que andou com o papagaio para ter a descarga até ao hidrogénio que existe por todo o lado, no fundo do mar, no ar, etc., nós temos que o produzir. O hidrogénio é um vector, é uma forma de transportar a energia, enfim, é uma substância, mas do ponto de vista energético é um vector, que eu tenho que produzir.

Portanto, o problema da economia do hidrogénio é o problema de produzir o hidrogénio, como produzi-lo, se de uma forma centralizada ou junto ao utilizador que o vai utilizar, como transportá-lo e armazená-lo, e depois como utilizá-lo. E como utilizá-lo, tanto posso utilizá-lo para produção de electricidade usando uma pilha de combustível, e uma ilha de combustível foi inventada antes do motor de combustão, é do meio do século XIX a invenção da pilha de combustível que é electrólise ao contrário, vocês põem dois fios eléctricos dentro de duas pipetas com água que se põe uma corrente eléctrica contínua a passar, dum lado sai oxigénio, do outro lado sai hidrogénio. Toda a gente fez essa experiência no liceu. E vê-se que de um lado o gás é dobro do tamanho do outro, que é H2O. 

O ?? de combustível é ao contrário, eu tenho um eléctrodo de um lado tenho um eléctrodo do outro, tenho o fio, sopro ar, ou seja oxigénio, mas pode ser o ar normal dum lado, sopro hidrogénio do outro, e tenho electricidade que passa no meio, e água que se forma.

Portanto, é uma pilha de combustível, é uma electrólise ao contrário.

Os problemas da pilha de combustível são problemas para já de como aprovisionar hidrogénio e depois da tecnologia que eu utilizo para tornar a pilha eficiente, os materiais, a temperatura a que funciona, etc.

Penso que as pilhas de combustível terão um enorme futuro desde as micro pilhas que vão abastecer relógios, computadores portáteis, e vocês passam ali na drogaria ou na farmácia e compram uma embalagem de álcool e metem a embalagem aqui num buraco que o computador há-de ter e o computador há-de ir buscar o H que está dentro do álcool e deitar fora, não sei se pinga, se deixa noutro combustível o que fica, que é sem o H, e utilizando uma pilha de combustível o H para fazer electricidade, e complementar um painel fotovoltaico que há-de ter aqui na tampa do computador. E acabou a bateria recarregável, pelo menos as desta geração. É uma hipótese. Outra é a bateria quântica, uma outra geração, mas é outra conversa.

Eu não conheço a tecnologia dos malaios, desejo-lhes a maior sorte e espero que seja uma tecnologia viável e que a empresa tenha o “ID” suficiente, que tenha o músculo financeiro e de investigação para desenvolver daqui a 5 anos, daqui a 10 anos, daqui a 15 anos uma tecnologia que está longe, está madura, e onde há neste momento grandes projectos a nível mundial, a Balard, como tem a Chrysler e General Motors por detrás, etc., para fazer pilhas de combustível.

Boa sorte, é o máximo que posso desejar, e esperar que haja outros projectos como este em Portugal.

Carla Fernandes. Estados Unidos. Olhe, vá ver o filme do Gore, vale a pena, foi uma grande pena, no tempo do presidente Clinton, o presidente Clinton e o Gore, eu trabalhei pessoalmente com o Gore durante anos a fio e tenho uma grande admiração por ele, foi uma pena ele ter perdido ou ter-lhe sido roubada a eleição nos EUA, acho que os males que o Bush nos deixa não são apenas em Quioto, são também noutras zonas do mundo, e eu pessoalmente, foi com grande tristeza que vi a derrota do que seria o presidente Gore, é um homem profundamente empenhado em Quioto e nos EUA, e os EUA hão-de lá ir, hão-de lá ir, eles são 3% da população e produzem 22% dos gases que alteram o clima.

Agora, quero-vos dizer uma coisa que se prende com a pergunta dos sumidores, do último grupo. A grande prioridade de Quioto para além das renováveis que já falámos amplamente hoje aqui, é o que tem que ser o carvão limpo. São os transportes, mexer nos motores dos automóveis e substituir muitos automóveis por transporte colectivo e pôr automóveis com pilhas de combustível, automóveis híbridos, automóveis eléctricos, etc., e é o carvão limpo.

Se a minha amiga olhar para um país como a China, a China está a fazer 600 mil MW novos de produção de energia eléctrica, dos quais, de acordo com os planos do governo chinês, 30 mil são de origem nuclear, 30 são de origem eólica e fotovoltaica e alguma biomassa, e 500 e pouco mil, porque depois há mais uma barragem de 12 mil MW que aliás já está construída mas que ainda não está acabada, e mais uma ou duas ou três barragens, mas, mais de 500 mil MW de carvão.

Esmaga, a utilização do carvão esmaga as outras tecnologias todas juntas. Do sol, ao vento, do nuclear à água, tudo junto, não chega a uma fracção do que é o novo investimento em carvão.

A Índia vai pelo mesmo caminho.

E isto porquê? Porque como eu disse, carvão há muito. E espalhado pelo mundo inteiro.

A minha mulher é australiana e o meu cunhado é director da maior empresa de minérios do mundo da BHP Australiana, a mina de que ele foi director era a céu aberto, é a céu aberto, na Western Austrália, no meio do deserto, com camiões tão grandes que eu de pé não chego ao eixo da roda, também sou pequenino, mas não chego ao eixo da roda, e que tiram o carvão à pazada, não são mineiros como na Ucrânia e lá em baixo na mina a tirar, não, é à pazada, aquilo o custo do carvão é quase o custo do transporte do mesmo, e já está tudo vendido para a China para os próximos 5 anos.

Ele dizia-me na outra vez que estivemos no Natal, ele dizia-me: Ó Carlos eu agora estou, eu agora a única coisa no meu trabalho é ir à China, à Índia, ao Japão ou à Coreia, e almoçar a jantar com os clientes, e trazê-los a visitar a Austrália que eles adoram vir à grande barreira de Coral, e passar aqui umas férias. Não tenho nada para fazer, eu já vendi tudo para os próximos 5 anos, está tudo vendido.

A China e a Ásia tomaram tudo, tudo, ao ponto que o problema passou a ser falta de navios e os armadores noruegueses e gregos e dinamarqueses têm feito uma fortuna com os fretes, com o valor dos fretes que disparou e atingem valores astronómicos no mercado internacional porque não havia navios e ainda não há, suficientes para transportar tanto carvão e tanto minério para os países Asiáticos.

Portanto, o problema dos sumidores, do carvão limpo, o problema de guardar o CO2, seja pela injecção no subsolo, por exemplos, nos poços de petróleo a ver como é que aquilo é estável; seja por outra tecnologias, é um problema real.

O problema do carvão limpo é um problema real. Já em Osaka, numa central de 1200 MW que eu visitei em 91, os tipos japoneses estavam a fazer experiências que levavam 25% da energia produzida pela central, é uma coisa importante, uma central do tamanho da de Sines, portanto, o dobro desta aqui de Abrantes, da Companhia Eléctrica de Osaka, para absorver o CO2 e em que tinham duas linhas já hoje, que continuam, linhas biológicas a partir de micro-algas hipereficientes na fotossíntese e que produzem material orgânico, que depois a seguir é utilizado como inerte em técnicas de construção e coisas do género, e outra através de reacções químicas de substâncias que reagem com os meios acidificantes, que é o CO2, e que fazem uma espécie de umas cales, um material também inerte que depois também tem o mesmo destino.

Seja por reacções biológicas de microalgas e outras coisas que respiram o CO2 e fixam o carbono, o problema é fixar o carbono. Seja por reacções químicas, seja por enfiar debaixo do chão, seja por plantar árvores, nós temos que absorver o C que está livre no ar, e fixá-lo seja em estruturas vegetais, seja no solo. E é isso que temos que fazer, até porque o mar não tem muito mais capacidade de continuar a ser um sumidoro de CO2, o mar está a ficar acidificado de dissolver tanto CO2, e qualquer dia inverte-se e em vez do mar ser um grande sumidoro de CO2, passa a ser um grande libertador de CO2, porque quando aquilo saturar, passa a ser o mar a emitir também. E aí sim estamos aviados, como se costuma dizer-se.

Sobre a pergunta do Grupo do Nataniel Araújo, o Estado tem que se normativo, dizendo, eu não vendo frigoríficos, caros, aparelhos que produzem… – União Europeia, é o que o Carlos faz no Parlamento Europeu, aprovam-se normas umas vinculativas, outras orientadoras -, tem que ser pedagógico, impondo esquemas de rotulagem, em que o consumidor tenha uma noção do impacto energético e ambiental do que é.

Dou-vos um exemplo duma intervenção do Estado, a minha mulher, como disse há bocado é australiana, a casa dela, ela vive cá connosco, família, está alugada, ela há dois anos recebeu uma carta do seu agente imobiliário, aquele que trata do aluguer da casa, a dizer: Sra. Jean, é para dizer que a sua casa tem que sair do mercado se não for auditada, porque expirou o certificado energético da casa, e portanto quer que a gente trate disto, e ela mandou um e-mail a dizer faz favor de tratarem disso.

Sem burocracia nenhuma, chamaram um engenheiro, não é funcionário público, um engenheiro normal que está certificado, está registado e passou num exame qualquer para se certificar e tem responsabilidade civil e criminal, essas coisas todas, o homem foi lá a casa, e disse: tem que mudar o vidro da janela, tem que por mais um isolamento no telhado, substituir o sistema de aquecimento por um mais eficiente e menos consumidor, mudar o frigorifico, enfim, as lâmpadas, meia dúzia de coisas normais. Não foi nenhuma obra de deitar a casa abaixo e construir de novo. E sim senhora, mandou o relatório por e-mail, com o orçamento, e quanto é que isso lhe ia custar, e a minha mulher disse OK, a empresa imobiliária arranjou um empreiteirozeco lá do sítio, lá na Tasmânia que fazia o trabalho, o trabalho foi feito, o engenheiro privado certificado foi lá outra vez, escreveu um relatório a dizer sim senhora a casa já está em condições, cumpre os requisitos normativos, passa a ter 4 estrelas, no máximo de 5, passa a ter 4 estrelas, abaixo de 3 estrelas não há casa para ninguém, nem se pode comprar nem se pode alugar. É que na Austrália uma casa numa classificação de estrelas que não cumpre as estrelas mínimas, que é metade, que é 50%, está chumbada, não pode ser transaccionada, não pode ter nenhuma transacção económica, nem de venda, nem de compra, nem de aluguer. Acabou. A pessoa fica com ela, a olhar para ela.

Portanto, isto obviamente é um grande incentivo, o Estado não tem um funcionário público a mais, simplesmente por normativo e por organizar o sistema de certificação, faz com que o mercado naturalmente consumidores e donos das casas, funcione e as coisas andam, não é preciso burocracia, não é preciso fazer requerimentos à Câmara, não é preciso meter projectos à Câmara, à Direcção Geral de Energia, ter uma porrada de gente em listas de espera, cunhas, etc.

Muito obrigado.
 
Dep. Carlos Coelho

Agradeço em nome de todos ao Eng. Carlos Pimenta o facto de ter estado connosco e respondido às questões. Peço ao Alexandre Picoto para vir aqui para conduzir agora os nossos trabalhos, enquanto que o Daniel e eu nos vamos despedir do nosso convidado à saída.

Então como é que vamos fazer. Esta avaliação tem a ver com a utilidade que vocês sentiram do tema e da apresentação do mesmo. E a avaliação correspondente ao número 1 é o grau mais baixo, e no que diz respeito ao 5, será a avaliação melhor. Nós iremos pedir por grupos que façam a avaliação do orador, que façam a avaliação do tema e da utilidade que vocês entenderam que o tema teve, que mereceu, e depois vamos pedir que fiquem com os marcadores altos até as pessoas que estão a contar terminarem e os podermos mandar baixar.

Votação dos Grupos

Muito obrigado. Acabaram de fazer um exercício de avaliação imediata, responderam à pergunta se acharam que este tema foi ou não útil, e vamos pedir-vos este exercício a seguir a cada tema.

Agora, à saída, há duas mesas de voto, e depositam o vosso voto que se refere ao Ambiente, como expliquei ontem na sessão de abertura, vocês têm 9 perguntas, 3 sobre o tema, 3 sobre o orador e 3 sobre a logística.

Dou um exemplo concreto: Têm uma pergunta que diz “textos de apoio, qualidade, diversidade”, o Eng. Carlos Pimenta não trouxe textos de apoio, portanto a despeito de nós podermos ter gostado muito ou termos gostado pouco da intervenção dele, aqui é 1, ou seja, corresponde a 0, não houve textos de apoio nesta sessão. Estou-vos a dizer isso porque os vossos colegas no passado arrastavam a simpatia relativamente ao orador, em avaliações diferentes, peço-vos para vocês verem cada linha com a sua dignidade própria. Ou seja, a primeira pergunta refere-se ao tema independentemente daquilo que ele disse, o tema do Ambiente é importante ou não é importante para a Universidade de Verão, é isso que vocês têm de avaliar. Depois, “foi interessante, aquilo que vocês ouviram?”, “a intervenção trouxe novidades?” já corresponde a uma avaliação daquilo que vocês ouviram. Sobre o orador, se sabe da matéria, se transmitiu bem e se nos pôs à vontade, e as três questões da logística que eu referi.

Este voto é obrigatório, portanto à saída têm de depositar, dobrado em 4, fica só a ver-se a que é que corresponde o vosso voto, e recordo-vos que quem quiser fazer perguntas às duas personalidades, podem fazer pela net ou entregar em papel, têm que entregar até à 1 da tarde.

Muito obrigado, os trabalhos recomeçam às 2h30, o almoço é serviço de buffet lá em cima no primeiro andar.